Dois combatentes centenários da 2ª Guerra Mundial tiveram um encontro especial com alunos do Colégio Militar de Blumenau. Durante cerca de uma hora e meia, Hugo Felisbino, 102 anos, e Arnoldo Lana, de 101, compartilharam com os adolescentes os medos e os desafios em um dos momentos mais tristes da humanidade.

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As lembranças ainda estão na memória, apesar do avançar da idade. Nesta sexta-feira (26) à tarde, eles ajudaram os alunos a ter uma dimensão daquilo que os jovens só conheciam através das folhas frias dos livros.

— Era muito triste. A gente lá naquela barbaridade e a família aqui. Mas no mesmo instante já eu já estava tranquilo, porque sabia que eles estavam bem [no Brasil] — conta Lana.

Hugo, de origem judaica, tinha 24 anos quando embarcou rumo à Itália, deixando a esposa. A despedida, no Rio de Janeiro, ainda é uma recordação fresca na cabeça dele tanto quanto o dia em que escapou da morte. Em um ataque repentino, uma granada explodiu deixando 18 feridos e seis vítimas fatais.

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Ele mostra onde os estilhaços entraram no pescoço.

— Um pouquinho mais para o lado pegava a jugular. Dali fui para o hospital desmaiado. Fiquei 30 dias internado e depois voltei para o front de batalha — lembra Hugo, que carrega no peito uma medalha Sangue do Brasil. A honraria foi entregue aos feridos na guerra e às famílias daqueles que morreram em combate.

Lana não se feriu, mas não se esquece da imagem do dia que chegou em Monte Castello e viu os corpos de brasileiros sem vida ao longo do caminho. O centenário conta que o maior desafio ao voltar para casa era lidar com as perguntas sobre o que viu durante aquele um ano que ficou na Itália. 

Ele só queria esquecer.

Veja recordações apresentadas pelos combatentes

Inimigo desconhecido

O frio também era um inimigo a ser combatido, contaram Hugo e Lana aos alunos do Colégio Militar de Blumenau, o primeiro do gênero visitado por eles. A farda brasileira não era feita para suportar as baixas temperaturas em território italiano e os Estados Unidos emprestaram roupas para ajudá-los.

Quando a guerra se aproximava do fim, Hugo diz que pareciam fantasiados, com peças de uniforme de diferentes países. Comandantes de fora do Brasil chegavam a confundi-los por causa disso e, por vezes, sem saberem falar outro idioma, tentavam explicar que integravam a Força Expedicionária Brasileira.

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Hugo conta, em tom bem humorado, que a esposa chegou a enviar roupas para ajudar a enfrentar os – 20°C, porém os casacos nunca chegaram ao destino.

Combatentes conversam com alunos do Colégio Militar de Blumenau
Combatentes conversam com alunos do Colégio Militar de Blumenau (Foto: Talita Catie,NSC)

Uma honra para os alunos

Hugo e Lana estiveram no colégio para conversar com os alunos do 9º ano, que estão justamente aprendendo sobre a 2ª Guerra Mundial. Mas antes do bate-papo, assistiram uma marcha com todos os estudantes. Das mãos das jovens Julia Viera, 15 anos, e Giovanna Oliveira, 14, receberam um broche de agradecimento.

O sorriso e o brilho nos olhos das alunas refletia a felicidade e a importância de estar perto de quem escreveu parte da história.

— Uma experiência ímpar para sentir um pouquinho como foi a experiência de estar em um momento tão marcante, de sentir como eles sentiram, saber o que passava na cabeça deles — garante Giovanna.

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Combatentes receberam homenagem dos alunos
Combatentes receberam homenagem dos alunos (Foto: Jean Mazzonetto, NSC)

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