O que faz alguém sair da cama quentinha na madrugada de uma sexta-feira (5), vestir todos os casacos do armário, enrolar uma coberta no corpo, entrar no carro e subir no ponto mais alto da Serra catarinense às 5h, antes mesmo do sol raiar? Ou dirigir a madrugada inteira para chegar cedinho no mirante e passar frio? Aproveitar a aguardada folga do trabalho para acordar cedo na manhã mais fria do ano? A mesma resposta para todas as perguntas: a chance de ver flocos de neve caindo do céu, neblina congelando e formando camadas brancas em postes e árvores, o frio mudando completamente a paisagem até então verde.
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O fascínio pela neve e pelos encantos do frio, coisas tão banais em outros países, no Brasil tropical torna-se movimentação ansiosa e se reflete em olhos brilhando e sorrisos bobos de alegria escondidos atrás de um cachecol enrolado no rosto. Em Santa Catarina o frio transforma a paisagem e também transforma pessoas e rotinas nesta época do ano.
Élcio de Souza e Vera Reinert de Souza vieram de Gaspar, no Vale do Itajaí, e nesta sexta-feira de manhã estavam no Morro das Antenas (ou das torres), na divisa entre Urupema e Rio Rufino, na Serra, com uma só intenção: ver a neve.
Passeavam pela região serrana desde quarta-feira e já estavam prontos para voltar para casa, mas as notícias na TV e no jornal falando sobre a chance de neve os obrigaram a ampliar a estadia. Era a oportunidade de ver pela primeira vez o fenômeno.
As condições climáticas – tão rígidas e específicas para que a neve ocorra – não favoreceram a situação na sexta e o casal voltou pra casa sem ver a neve, mas em compensação conseguiram apreciar a paisagem transformada pelo sincelo, o fenômeno que ocorre quando a neblina bate em obstáculos e congela, deixando camadas brancas no que encontra pela frente – de fios de energia até galhos de árvores.
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Ela enrolada em uma coberta rosa apenas com os olhos de fora, e ele fechando o máximo possível casaco preto, o casal Rafael Abreu e Mariana Patrício acordou na madrugada e veio direto de Santo Amaro da Imperatriz, na Grande Florianópolis, em busca das belas paisagens de inverno. Decidiram em cima da hora, entraram na Kombi e vieram direto para Urupema. Foi a primeira vez que sentiram tanto frio e viram o gelo se formando.
O mesmo ocorreu com Vanessa Bonacolsi, de Timbó, que aproveitou a folga na indústria têxtil onde trabalha para curtir a Serra com o namorado. A jovem de 27 anos conta que havia conhecido Urubici quando era criança, em um passeio da escola. Agora voltou na expectativa de ver a neve e, para isso, encarou temperaturas que ainda não havia encontrado.
— Nunca senti tanto frio. É a primeira vez que vejo tudo congelado assim, é lindo. Estou na expectativa pela neve, nunca vi antes — conta enquanto se protege do vento frio na área fechada do mirante do Morro das Antenas, que na sexta-feira registrou a temperatura mais baixa do Estado: -4,3 ºC, com sensação térmica de -13 ºC.
À espera da neve
A previsão de neve na Serra de Santa Catarina fez a movimentação turística crescer e lotar as cidades e pontos turísticos. Por enquanto, o gelo formado nos campos garantiu boas fotos para quem saiu de casa.
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As chances da esperada neve, no entanto, permanecem até o amanhecer deste sábado (6). Depois as condições climáticas já deixariam de ser favoráveis.
De qualquer maneira, mesmo que com algum atraso, o primeiro grande fim de semana da temporada de inverno na Serra catarinense está garantido. As temperaturas negativas e seus frutos – geada, sincelo – movimentam milhares de pessoas para a região, catarinenses ou de outros Estados, com hospedagem garantida ou em viagens de bate e volta.
O resultado foi uma ocupação total da rede hoteleira, inclusive com o incremento das "pousadas alternativas" de moradores que abriram suas casas para turistas. Seja para quem muda a rotina para ver a cidade em que mora dobrar de população por alguns dias, ou para quem corre em direção ao frio em busca de novas experiências, o frio catarinense já deixou a sua primeira marca em 2019.
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