Aproxima-se um conhecido. De gorro e camisa pesada, não perde tempo, bota sua colher na roda de conversa e desanda a falar mal do frio. Isso e aquilo – como se estivesse a falar de um dos personagens modernos da República. Ele, com boa casa e roupas, atacando a temperatura daquele jeito chega a irritar, mas não briguemos por isso. Seria combater um mal com outro mal. Lembro-me do ano passado, quando o inverno praticamente esqueceu de nós. A mesma pessoa reclamava do calor fora de época.

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Trata-se da mesma impaciência que leva alguns a reclamarem de meio dia de chuva (“e essa chuva que não passa nunca!”) ou de calor mais forte, como se a solução estivesse num controle remoto. Vai saber. Faltam semancol ou assunto.

O frio produz umas cenas interessantes, talvez fortes. Melhor percebidas por quem circula cedo. Como os adeptos das caminhadas antes das 7 horas, mostre o termômetro a temperatura que mostrar. Parte destes encontra, neste horário, bar aberto e clientes com aqueles copinhos cheios de aguardente. Quando conto o que vejo, poucos acreditam.

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Houve tempo em que se chamavam estas doses de “mercedinho”. Ainda há quem peça um “rabo de galo”, mistura de um destilado escuro e um claro.

De arrepiar que alguém consiga “abrir os trabalhos” àquela hora da manhã. São, evidentemente, uns dependentes, só isso explica. Cena digna de pena, mas fazer o quê? Felizmente, exceção no vaivém daquelas primeiras horas do dia. A regra é outra, e mais feliz e saudável.

Bom mesmo é um café preto amargo e “pelando” (como se diz lá na roça para as coisas realmente quentes, de sapecar a língua). Para qualquer hora destes dias polares – preferência pessoal, é claro. E antes de deitar, chá de gengibre. Tanto um quanto outro, “para não encarangar”. E para a tosse, guaco com mel.

No mesmo roteiro da caminhada, um carrinho de catador de reciclável está estacionado na calçada, e embaixo dele dorme um homem enrolado em cobertas. Se tinha sentido “um ruim” na passagem pelos bares, o sentimento agora é ainda mais profundo. Continua-se encontrando pessoas dormindo sob marquises.

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Pensei naquele conhecido que reclamava por reclamar. É um comportamento barato. Deve ser o que se chama reclamar de barriga cheia.