Coube ao ex-presidente de Israel Shimon Peres, que completa 91 anos neste sábado, definir em uma sentença simples um dos traços mais significativos da mais longa guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
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Entenda a origem da crise entre judeus e palestinos na Faixa de Gaza
– Não há mais mundo árabe contra Israel – disse o veterano político na quarta-feira, durante visita a soldados israelenses feridos em Beersheba, segunda maior cidade do sul do país.
A visão de Peres tem um propósito preciso: afastada a ameaça da frente árabe contra o Estado judeu, o objetivo da campanha em Gaza deveria ser substituir o regime do Hamas por uma administração da Autoridade Nacional Palestina que servisse para reavivar o processo de paz e a solução de dois Estados.
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Poucos concordam com o veterano político. O fato, porém, é que pela primeira vez, Israel trava uma guerra contra um inimigo árabe que não tem atrás de si o apoio unânime de todas as 22 nações representadas na Liga Árabe.
Derrubada de Mursi foi fator decisivo
Desde 7 de julho, o único país árabe a se posicionar de forma categórica em favor de Gaza e do Hamas é o Catar. Esse microestado ultraconservador do Golfo Pérsico, que se tornou independente da Grã-Bretanha em 1971 e tem uma economia baseada na extração de petróleo, é o principal patrocinador da Irmandade Muçulmana, da qual o Hamas é o braço palestino. A Irmandade é um partido político de corte religioso surgido no Egito, em 1928, e que rapidamente se estendeu para todo o mundo árabe. Foi do tronco comum da Irmandade, mais moderada, que surgiram todos os grupos fundamentalistas militantes a partir dos anos 1970, incluindo a Al-Qaeda.
No ano passado, o presidente egípcio Mohamed Mursi, da Irmandade, foi derrubado por uma mobilização popular. No vácuo aberto com sua queda, os militares acabaram voltando ao poder. O atual presidente, Abdel Fatah al-Sissi, elegeu a Irmandade como o principal inimigo político interno: há milhares de presos políticos do grupo nas temidas penitenciárias egípcias.
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Para o Hamas, a perda do apoio egípcio foi uma sentença de morte: o país vizinho controla a passagem de Rafah, vital para a economia da faixa litorânea. Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, assustados com os ventos da Primavera Árabe, também romperam laços com a Irmandade. Na Síria, o ditador Bashar al-Assad enfrenta uma oposição armada da qual fazem parte os irmãos muçulmanos, perdendo interesse em apoiar o Hamas. O isolamento de Gaza resulta das antigas rivalidades interárabes, que continuam a marcar a região.
Na sexta-feira, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, criticou o “silêncio indesculpável” do mundo diante da guerra. No atual conflito, ocorreu o contrário: a Organização das Nações Unidas, o Vaticano e outras instituições mostraram-se muito mais ativas do que a Liga Árabe. Além do Catar, resta um aliado não árabe para o Hamas: a Turquia.