Talvez nem o próprio governador Raimundo Colombo (PSD) tivesse dimensão de que os cerca de 30 minutos de discurso em um evento fechado, na noite de terça-feira, na Associação Catarinense de Medicina, jogassem em praça pública o clima de divórcio entre os dois principais partidos da aliança que governa o Estado desde 2006.

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De certa forma discreto, o evento reuniu prefeitos, parlamentares e outras lideranças do PSD e o PSB, hoje fora da administração estadual. Após uma sucessão de discursos prevendo parceria nas próximas eleições, Colombo surpreendeu boa parte dos presentes ao fazer referência que todos entenderam como um recado claro do PMDB, o maior sócio dos pessedistas na gestão do Estado: ¿Se temos uma dívida, é com o povo de Santa Catarina e mais ninguém¿.

Vem das lideranças do PMDB estadual a tese de que o apoio à reeleição de Colombo em 2014 estava condicionado à retribuição nas próximas eleições para o governo estadual, em 2018, quando caberia a ele levar o PSD para o palanque de uma candidato peemedebista. Esta argumentação é rebatida por lideranças do PSD que estão aglutinadas em torno da pré-candidatura do deputado estadual Gelson Merisio. Em novembro do ano passado, em entrevista coletiva concedida na Casa d¿Agronômica, Colombo já havia dito que não impediria a construção de uma candidatura do PSD, mas a ênfase foi menor.

Assim que a declaração do governador passou a ser divulgada, na quarta-feira, as lideranças do PMDB deixaram claro que acusaram o golpe. Até então, o discurso dos peemedebistas era creditar exclusivamente a Gelson Merisio as investidas contra a manutenção da aliança em 2018. No primeiro encontro entre Colombo e o vice-governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB), quinta-feira, em um evento da Celesc, o desconforto era evidente. Colega de chapa em 2010 e 2014, o peemedebista é o maior defensor da reedição da aliança e sempre se mostrou otimista em relação à sua manutenção com um PMDB na cabeça em 2018. Depois da fala de Colombo, mudou o discurso.

O maior desconforto teria acontecido na bancada estadual do PMDB. Há quem acredite que a antecipação de um possível confronto eleitoral possa causar dificuldades de governabilidade a Colombo em um Legislativo onde hoje conta com ampla maioria – dos 40 parlamentares, apenas os cinco deputados do PT se apresentam como oposição. Os peemedebistas contam hoje com oito cadeiras no Legislativo e a avaliação interna é de que a folga de Carnaval e a viagem oficial de Colombo à Ásia devem dar tempo para a pressão baixar. Presidente estadual do PMDB e opção do partido para 2018, o deputado federal Mauro Mariani foi um dos que disse que Colombo ¿colocou a governabilidade em risco com o gesto¿. As bancadas federal e estadual do partido devem discutir o assunto em uma reunião conjunta que já estava marcada para o dia 6 de março.

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– É legítimo que todo partido busque seu espaço. Isso é tranquilo, um dirigente partidário falar. Causa um desconforto o governador Colombo, que conduz uma aliança, e devia seguir o exemplo do Luiz Henrique, que era muito comedido quando na mesma situação – afirmou Mariani.

O clima de tensão entre os sócios majoritários da base governista chamou atenção também nos possíveis aliados ou adversários de 2018. Oficialmente fora do grupo governista, mas com dois filiados no secretariado de Colombo, o PSDB observa a movimentação dos dois partidos de olho na construção de um projeto próprio. O presidente estadual do partido, deputado estadual Marcos Vieira, garante que os tucanos terão candidatura ao governo. Em 2014, o senador Paulo Bauer (PSDB) ficou em segundo lugar. Vieira ironiza a cobrança do PMDB de retribuição do PSD pelo apoio na última eleição.

– Se alguém merece gratidão é o PSDB, que apoiou Luiz Henrique em 2002 e 2006 e Raimundo Colombo em 2010. Só não apoiamos a reeleição porque eles preferiram Dilma e Lula em 2014. É a hora de um tucano ser cabeça-de-chapa na tríplice aliança – afirmou.

Presidente estadual do PP, o deputado federal Esperidião Amin afirma que a posição de Colombo justifica a decisão do partido de apoiar e participar da gestão. Em janeiro, o PP indicou Valmir Comin (PP) para o cargo de Secretário de Assistência Social, após convite do governador para que a sigla integrasse o secretariado. Tradicionais rivais do PMDB na política catarinense, os pepistas vêm sendo cortejados por Merisio desde as eleições municipais de 2012 e apostam um projeto conjunto na próxima disputa pelo governo estadual.

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– Estamos observando e também torcendo. Esperamos que ninguém faça achaque contra o governador com um suposto compromisso – afirmou Amin.