A primeira sequência de Frankenweenie não podia resumir melhor o novo Tim Burton, que estreia neste final de semana nos cinemas. Nela, Victor Frankenstein, um piá de 10 anos, seu pai, sua mãe e o cachorro Sparky sentam-se à frente de uma tela, botam óculos 3D e ligam o projetor para ver uma produção caseira de terror estrelada por Victor e o cãozinho.

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Frankenweenie é uma animação em preto e branco que Burton começou a fazer há sete anos, retomando um projeto do início de sua carreira, que originara um curta-metragem homônimo lançado em 1984. É bem mais do que o termo refilmagem pode sugerir. Trata-se, isso sim, de uma fábula inspirada na história do horror no cinema, vista com tanta graça e uma deliciosa falta de pretensão que tem tudo para agradar a toda a família – e fazer a imagem descrita acima se tornar real nos cinemas, exceto, é claro, pela presença de Sparky.

É a morte do simpático e hiperativo cachorrinho que desencadeia a trama. Victor, um pequeno gênio cheio de inquietações científicas que vive isolado, sem amigos na escola, resolve aproveitar a eletricidade gerada pelos raios de uma tempestade para tentar ressuscitá-lo. Como na fantástica história de Mary Shelley, um dos mitos fundadores do gênero na ficção, o experimento dá certo. E têm início, primeiro, a tentativa do protagonista de esconder o cão redivivo; depois, com o segredo revelado, os esforços de seus colegas para repetir o feito com seus animais de estimação – o que os tornariam não apenas crianças felizes com seus bichinhos, mas candidatos ao prêmio de melhor experimento da Feira de Ciências do colégio.

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Burton parece ter criado o personagem do professor dos meninos apenas para homenagear Vincent Price (1911 – 1993), o lendário ator de O Corvo (1963) e O Abominável Dr. Phibes (1971), entre outros. As homenagens, que já haviam passado pelo geometrismo dos longas expressionistas alemães nos planos que flagram Victor trabalhando no sótão, se intensificam com a entrada em cena dos demais bichos de estimação. Há, por exemplo, uma grande tartaruga que emula Godzilla e uma poodle que se engraça com Sparky, não gratuitamente inspirada numa icônica “noiva de Frankenstein” da década de 1930.

O preto e branco de Frankenweenie se justifica por essa pegada retrô. Sua fotografia é de uma riqueza rara no aproveitamento da extensa gama disponível de tons de cinza – que geralmente são ignorados pelos aventureiros responsáveis por banalizar o alto contraste. Já o 3D, como acontece na maior parte dos projetos que fazem uso deste recurso, não acrescenta nada à fruição.

Além das desnecessárias três dimensões, outra possível restrição ao novo Tim Burton é o seu final – que, obviamente, não será antecipado por aqui. Ainda assim, Frankenweenie pode ser considerado um ponto alto da carreira mais recente do cineasta californiano radicado em Londres. Melhor do que Sombras da Noite, seu outro longa lançado em 2012, ele seguramente é.