François-Ferdinand d’Orléans, o Príncipe de Joinville, recebeu este título ao nascer, em 14 de agosto de 1818. Não era, obviamente, uma homenagem à cidade catarinense, que só seria oficialmente fundada como colônia alemã em 1.851 e ganharia o nome “Joinville” um ano depois. 

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A Joinville de François-Ferdinand foi fundada em 354 DC, na França. Ele foi o príncipe que casou-se com a princesa brasileira Francisca Carolina de Bragança e recebeu as terras ao Norte de Santa Catarina como dote, o que mais tarde serviu como uma tábua de salvação para os problemas financeiros da família. 

François era o terceiro filho do duque de Orleáns, que em 1.830 foi proclamado rei da França. Como nasceu nobre, recebeu o título de 17º Príncipe de Joinville. Aos 12 anos, quando o pai virou o rei Luís Filipe I, uma outra comuna francesa foi rebatizada em homenagem ao jovem, e assim nasceu Joinville-Le-Pont. 

O reinado de Luís Filipe I foi considerado um período de ouro para a burguesia. Na época, a França esbanjava em opções de vida cultural, bailes e diversão. Ainda que apreciasse a “vida noturna”, François-Ferdinand era um navegador por natureza. Entrou para a marinha aos 18 anos e, aos 20, já servia com distinção nas esquadras que viajaram ao México para a Batalha de Veracruz.

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Dois anos depois, recebeu a missão de comandar a expedição que foi até a remota ilha de Santa Helena para buscar os restos mortais de Napoleão Bonaparte para levar de volta à França. Foi neste período, em 1838, que o príncipe francês viajou ao Brasil pela primeira vez. Fazia uma visita aos primos: sua mãe, Maria Amélia de Nápoles e Sicília, era austríaca e tia de Dona Leopoldina, a primeira esposa de Dom Pedro I e mãe de Francisca. Além disso, Dom Pedro I, ao deixar o Brasil, havia não só frequentado a corte francesa mas também criado um laço de amizade com o rei Luís Filipe I e a rainha Maria Amélia.

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Ídolo dos adolescentes da corte brasileira

Francisca ainda não tinha completado 14 anos quando François chegou à corte brasileira. Não houve amor à primeira vista. Na verdade, o francês se espantou com a falta de habilidades sociais de Francisca, Januária e Pedrinho e com o marasmo da vida entre os nobres do Brasil. Nem mesmo a beleza da moça, que era relatada por diplomatas e viajantes na época, surpreendeu o jovem príncipe.

O contrário não pode ser dito sobre Francisca e os irmãos: enquanto esteve no Brasil, François agitou a vida social dos adolescente da família real, que eram superprotegidos por seus tutores. Criou encenações de duelos — um dele, à noite, acabou invadido pelo povo carioca e François criou um plano de fuga para Francisca e seus irmãos e, antes de ir embora, promoveu uma festa no próprio navio.

Desta forma, sob “jurisdição francesa”, pode subverter as rígidas regras sob as quais o príncipe e as princesas adolescentes viviam. Entre elas, estava a de que Francisca só podia dançar com o irmão e, se ele não estivesse disponível, teria que tirar a irmã Januária para dançar — ou permanecer sentada. No baile de François, ela pode dançar com ele e com outros oficiais da marinha francesa. O espírito aventureiro do francês tornou-o uma espécie de ídolo para os jovens da sonolenta corte brasileira.

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Casamento real

François voltou ao Brasil em 1840, em uma breve parada na expedição à Santa Helena, e decidiu-se pela caçula da família Bragança como esposa. O casamento era uma formalidade, uma espécie de negociação comercial entre a realeza e, naquele momento, começava a tornar-se uma emergência para o rei e a rainha da França: o jovem príncipe estava muito envolvido em uma relação nada católica com uma atriz francesa.

— Na época, principalmente dentro de famílias de dinastias, esses casamentos eram políticos e diplomáticos. Para a França era muito interessante você ter um membro da nobreza, da realeza francesa, casando-se com um membro da realeza brasileira. Isso estreitava laços que podiam ajudar diplomaticamente esses países — explica Rezzutti.

O casamento ocorreu no Brasil, em 1º de maio de 1843, quando Francisca tinha 19 anos. A cerimônia foi restrita a convidados íntimos, na capela do Palácio de São Cristóvão. Depois, a princesa partiu com François para a Europa, e nunca mais voltou ao Brasil.

foto mostra françois ferdinand príncipe de joinville na velhice
O príncipe de Joinville já idoso, após uma vida passada, em boa parte, no mar (Foto: Reprodução)

Uma vida de aventuras

François-Ferdinand e Francisca Carolina tiveram três filhos: Francisca de Orléans, a duquesa de Chartres, em 1844; Pedro de Orléans, o duque de Penthièvre, em 1845; e Maria Leopoldina de Orléans, em 1849. Os dois mais velhos viveram até os 81 e 74 anos, respectivamente. Já Maria Leopoldina morreu poucas horas após o nascimento.

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Em fevereiro de 1848, uma insurreição popular levou o rei Luis Filipe I a abdicar ao trono. A família real francesa exilou-se na Inglaterra, em um palacete no sul do país. Na época, François estava servindo na Argélia, mas, com a notícia, voltou para junto da família. 

Era hora de definir o futuro: com títulos e propriedades na Europa cassados, o príncipe e a princesa de Joinville precisavam encontrar novas soluções como fonte de renda. E é nesse momento que a fundação de uma nova cidade com este nome começa a se delinear: François uniu-se aos empresários que criaram companhias colonizadoras e intermediou as conversas com seu cunhado, Dom Pedro II, o imperador do Brasil, para conseguir benefícios para os imigrantes alemães. Assim, as terras que faziam parte do dote de Francisca funcionaram como investimento para recuperar o orçamento da familia.

Em 1861, François viajou para os Estados Unidos para oferecer seu apoio ao presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil. No ano seguinte, acompanhou o general McClellan na Campanha da Península, quando o exército marchou pela Península da Virgínia com intenção de atacar a capital confederada Richmond, ainda na Guerra Civil Americana. A partir dessa ação, ocorreu uma série de batalhas conhecidas como Batalha dos Sete Dias. 

Francisca morreu em 1898, em Paris, aos 73 anos. François viveu por mais dois anos, e faleceu também em Paris, por pneumonia. Eles foram sepultados na cripta dos Orléans, na capela real de Dreux, na França. 

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