A francesa Nina Pam, de 35 anos, mora a alguns metros do Stade de France. Na noite desta sexta, estava na sala com um amigo quando sentiu o chão do apartamento tremer. Só foi entender o que acontecia ao ligar a televisão e descobrir que Paris era alvo de diversos ataques terroristas, todos em locais mais ou menos próximos de sua casa. Até agora, a francesa aparenta estar em choque:

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– Acabei de chegar em casa, moro com um amigo meu. Eu estava na sala e senti o chão vibrar. Meu amigo falou “o que é isso?”, ligou a televisão e estava acontecendo isso. Tudo isso está acontecendo no bairro popular de Paris. É um bairro ao leste, o bairro do povo, não dos ricos ou dos turistas. Isso que é estranho. Não está perto da Torre Eiffel, Champs-Élysées, pelo contrário, é do outro lado.

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Por volta das 22h, em horário brasileiro (1h, em Paris), Nina atendeu ZH ao som de sirenes. Disse que todas as janelas estão trancadas, com as persianas fechadas, e as ruas estão desertas.

– Hoje é sexta, todo mundo sai. Tem gente que está chegando em restaurante, e são os restaurantes onde o povo vai, mesmo. Parece que está todo mundo atirando na rua. Seis, sete coisas acontecendo ao mesmo tempo, em vários lugares. Eu vejo todo mundo fechando as cortinas, voltando para casa. Agora, parece que estamos em Nova York, com som de carro de polícia na rua toda hora, polícia correndo em todos os lugares. Tem gente fugindo no meio da rua, pulando por cima de corpos.

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Próximo a Nina mora o também francês Manuel Rolland. Ele acabara de chegar em casa quando ouviu nitidamente uma série de tiros, em algum lugar próximo. Achou que fosse brincadeira das crianças da vizinhança. Descobriu pouco tempo depois que os disparos vinham do Le Petit Cambodge, um restaurante a poucos metros de sua casa, na Rua Albert.

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– O presidente decretou estado de emergência, fechou as fronteiras, isso não acontece desde a guerra da Argélia. Estamos em estado de guerra.

Além disso, ele avalia que o momento vivido por Paris é importante, já que eleições acontecerão no país daqui a três semanas.

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– Esses atentados foram feitos para criar pânico em um momento decisivo do país. Estamos a três semanas das eleições regionais (o equivalente à disputa estadual, no Brasil), e parece que eles querem convencer as pessoas de que existe uma ameaça, o que acaba fazendo todo mundo entrar nesse clima de guerra de civilizações. Os lugares atacados são frequentados por pessoas jovens, de mente aberta, normalmente de esquerda, alguns imigrantes, pessoas “de boa”. Isso é o mais surpreendente – avalia.

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O clima em Paris, os dois franceses contam, é de horror. Com ruas desertas, estado de guerra e fronteiras fechadas, resta aos parisienses assistir televisão, ouvir rádio e ficar constantemente em contato com amigos por telefone ou mensagens. Manuel pode ter dois conhecidos entre as vítimas, ainda não se sabe se fatais ou não. Nina não tem conhecimento de nenhum conhecido entre os atingidos diretamente. Ela conta que, por WhatsApp, quem estava na rua conta que todos os estabelecimentos fecharam suas portas e não deixam ninguém entrar ou sair, por questão de segurança.

Ambos também ressaltam que os ataques podem reavivar o sentimento xenofóbico e revanchista no país. Em um momento em que a extrema direita mostra bom percentual nas pesquisas eleitorais, Manuel tem medo que os ataques sejam usados politicamente, enquanto Nina prevê que a culpa será posta nos imigrantes:

– O presidente acabou de fechar as fronteiras. Tudo vai cair nas costas dos imigrantes, de novo, infelizmente – diz.

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Confira o mapa dos ataques: