Dois séculos de história compartilham as Seleções da França e do Uruguai, que na sexta-feira se enfrentam nas quartas de final da Copa do Mundo-2018: os dois países têm uma relação especial com um pano de fundo político, cultural e futebolístico.
Continua depois da publicidade
O ponto de partida se situa no início do século XIX, quando a França se torna o primeiro país a reconhecer a independência do Uruguai (declarada em 1825 e consagrada em 1828), antes de intervir para apoiar Montevidéu na chamada Grande Guerra.
Inspirada na França, a nação “charrúa” separou a Igreja do Estado em 1917 (algo raro na época em uma América do Sul muito católica) e escreveu seu Código Civil com base no Código Napoleônico.
Numerosos líderes políticos se formaram no liceu francês, chamado Jules Supervielle, em homenagem a um dos três grandes poetas franceses nascidos em Montevidéu, juntamente com o conde de Lautréamont (Isidore Ducasse) e Jules Laforgue.
Continua depois da publicidade
O francês foi a primeira língua estrangeira obrigatória no ensino médio até a década de 1990. Além disso, o Uruguai é um dos poucos países latino-americanos membro da Organização Internacional da Francofonia (OIF), como observador (juntamente com a Argentina e a Costa Rica).
– De Laurent a Cavani –
A poesia da bola também aproximou os dois povos. De partida, com um fato histórico: em Montevidéu, o atacante Lucien Laurent marcou o primeiro gol da história de uma Copa do Mundo, em 13 de julho de 1930 (França-México 4-1).
Foi no estádio Pocitos, hoje destruído. Não muito longe do lendário Centenário, há uma placa comemorativa do feito, localizada no lugar exato do gol que tornou famoso o francês falecido em 2005.
Continua depois da publicidade
Sobre as quatro estrelas que exibem orgulhosos os uruguaios em sua camisa, somando as duas medalhas olímpicas conquistadas antes da primeira Copa do Mundo ser disputada, a primeira alude ao título dos Jogos de 1924 em Paris.
Por acordo entre a Fifa, que ainda não organizava o seu próprio torneio, e o COI, o campeonato de futebol dos Jogos (nas edições de 1924 e 1928) foi considerado como Mundial.
Alguns grandes jogadores uruguaios atuaram em terras francesas, de Ildo Maneiro em Lyon nos anos 1970 até Edinson Cavani, que recentemente se tornou o maior artilheiro da história do Paris Saint Germain.
Continua depois da publicidade
Outros jogadores também deixaram sua marca em Paris, como o ex-capitão da Celeste Diego Lugano ou Cristian “Cebolla” Rodriguez, que faz parte dos 23 convocados por Tabárez na Rússia de 2018.
Outra passagem inesquecível foi a do elegante Enzo Francescoli no final dos anos 1980 em solo francês (Racing Club de Paris e Marselha).
Ele se tornou o ídolo do futuro ícone do futebol francês Zinedine Zidane, que batizou seu primeiro filho de Enzo, em homenagem ao charrúa.
Continua depois da publicidade
A quadrilha uruguaia também deixou marca em Nancy, com Ruben Umpiérrez (1978-1985), Carlos Curbelo (1971-1980) e, em seguida, seu filho Gaston (2000-2009), e especialmente Pablo Correa, que jogou e depois treinou várias vezes entre 1995 e 2017 este clube.
– Modelo francês –
Antoine Griezmann se encontra um pouco nessa confluência. Ele desenvolveu a garra charrúa desde a sua estreia pelo Real Sociedad, graças ao seu treinador Martín Lasarte e seu colega Carlos Bueno, para depois compartilhar o vestiário no Atletico Madrid com Diego Godín e José María Giménez, seus rivais na sexta-feira.
Mas a influência é recíproca. O técnico uruguaio Oscar Tabárez participou da Copa do Mundo de 1998 como membro do grupo técnico da Fifa e aproveitou a oportunidade para aprender e implementar certos ensinamentos em sua terra.
Continua depois da publicidade
“Eu estava em Bordeaux e conversei com o técnico dos sub-17 e das seleções femininas”, lembrou em 2013, antes de um amistoso Uruguai-França (1-0).
“Eles me explicaram como desenvolviam a formação de jogadores na França, percorrendo o mesmo caminho da infância à maturidade. Aprendi muitas coisas. Eles tinham uma tecnologia que lhes permitia analisar o rival, algo que não conhecia”, acrescentou.
“Ao retornar de uma partida na Argélia (em agosto de 2009), tínhamos onze horas de escala na França e aproveitei a oportunidade para visitar Clairefontaine”, o centro nacional da Federação Francesa, recordou Tabárez.
Continua depois da publicidade
Em Copas do Mundo, os dois times se enfrentaram três vezes, sempre na fase de grupos: 2-1 para a Celeste em 1966, 0-0 em 2002 e em 2010. Nesta sexta-feira, um novo capítulo será escrito sobre esta longa história entre os dois países.
* AFP