O mundo olha atento para o desfecho da eleição presidencial francesa no domingo, num misto singular de medo e ceticismo. Cada candidato representa um modelo de combate à crise pela qual passa o Velho Mundo e o nome escolhido pode mudar os rumos da União Europeia.

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François Hollande, com sua retórica contra a política de austeridade e pelo aumento de impostos, pode ser a maior chance dos socialistas voltarem ao cargo que não ocupam desde 1988. A revista britânica The Economist fez seu alerta: uma vitória de Hollande pode envenenar a confiança dos mercados e comprometer a própria sobrevivência do euro.

Já Sarkozy tenta pegar a carona da vitória com um discurso nacionalista de “França forte”. Ao mesmo tempo, ele aponta para o oponente praticamente apelidando-o de “crise econômica”, quase como se repetisse a famosa frase do rei Luís XV: “depois de mim, o dilúvio”.

E a tática funcionou: no início da semana, uma desvantagem de 10 pontos percentuais nas sondagens parecia ser um convite de aposentadoria para o atual presidente do país, o conservador Nicolas Sarkozy. Ao longo dos dias, após um debate de quase três horas na quarta-feira, pesquisa após pesquisa, o francês foi crescendo a ponto de reduzir a margem a quatro pontos – rondando um empate técnico.

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Homem elege o futuro presidente da França na embaixada em Manila, na Indonésia, neste domingo. Foto: Jay Directo, AFP

No grupo dos céticos, há os que acreditam que não há muita diferença entre um e outro.

– Nós perdemos parte do poder de decisão dentro de nossas fronteiras. Temos pessoas fingindo que terão poder como presidente, mas a margem de decisão dos governos nacionais ficou restrita – disse a ZH a deputada do parlamento europeu pela França Sylvie Goulart.

A deputada vê na França a materialização do conflito entre nacionalismo e globalização presente em toda Europa, mas mais forte no país. Para ela, o país deve deixar de lado o o que chama de espírito de Asterix: a ideia de que é uma vila combatendo contra o Império Romano, como se a globalização e influência estrangeira fossem nocivos ao país.

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O Professor de Relações Internacionais da Faculdade Rio Branco, Demétrius Cesário Pereira, vê uma diferença mais marcante entre os dois candidatos. Para ele, enquanto Sarkozy quer manter a política de austeridade no orçamento, o socialista quer equilibrar as contas de outra maneira:

– Hollande fala em tentar aumentar a arrecadação e tentar suprir esse déficit que existe. Busca uma solução sem tentar apertar tanto o cinto. Umas das principais ideias dele é aumentar os impostos do mais ricos e assim equilibrar melhor o balanço.

É uma visão que incomoda a Alemanha, país que detém a chave do maior cofre do continente e ainda com possibilidade de emprestar dinheiro aos países gastadores do sul. A chanceler Angela Merkel teme perder, caso Hollande vença, seu principal aliado da proposta de combate à crise pelo reequilíbrio doloroso das contas públicas.

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Embora Merkel já esteja se preparando para abraçar o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, Pereira acredita que a aliança com a França é por conta da liderança que os dois exercem no processo de integração europeu seja qual for o governo.

Independente de quem vencer, o país de Napoleão, assim como os demais países europeus, vem perdendo a importância relativa no mundo. Ainda assim, uma possível ruína da França deixaria o continente em um pôr do sol permanente.