Vem dos berços do Iluminismo e da democracia a seguinte notícia: tendo como fundo a crise econômica europeia, o continente que deu ao Ocidente toda sua herança civilizatória vive um grave impasse político.
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Na França, os planos do presidente eleito François Hollande de mudar o rumo ditado pela austeridade do pacto fiscal enfrentam a resistência alemã. Na Grécia, já fracassou a primeira busca pelo governo de coalizão.
Professor da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge Ramalho considera grave a situação grega. Há risco de abandono da zona do euro.
– A margem de manobra de Hollande é pequena, e isso faz parte das vindas e idas da política. Na Grécia, é complicado. Fortaleceu-se quem defende a retirada da zona do euro e o abandono da austeridade – explica.
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De fato, na Grécia o impasse resulta da seguinte situação: o país parece ingovernável. O líder conservador Antonis Samaras – comprometido com as metas para as parcelas do pacote de ajuda europeia serem liberadas – admitiu-se sem condições de compor um governo de maioria, mesmo que no domingo as eleições tenham dado maioria ao seu partido, o Nova Democracia. Isso significa, pelo regime grego, que passará a tarefa de formar um governo de união para o próximo da fila, o partido esquerdista Syriza – contrário às medidas europeias. Resignando-se ao dizer “fizemos o que pudemos”, Samaras declarou que abdicaria do mandato devido à missão “impossível” que tinha a sua frente.
Já em relação à França, o problema é que o pacto fiscal europeu para reduzir o endividamento público não será renegociado como quer Hollande. Quem adiantou que isso está fora de cogitação foi a chanceler alemã, Angela Merkel.
Representante brasileiro na União Europeia durante nove anos, o diplomata Jorio Dauster vê, porém, uma diminuição do poder alemão.
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– O que está acontecendo é que a Alemanha dominava a Europa, e os economistas dizem que a disciplina fiscal vai levar ao agravamento da crise, com mais desemprego. Os dois resultados eleitorais colocam em dúvida se essa austeridade alemã vai predominar – diz ele.