Frente ao risco de atentados ordenados a partir da Síria, França e Grã-Bretanha estudavam a realização de ataques aéreos contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no país do Oriente Médio, no qual Londres realizou uma primeira ação com drone no fim de agosto.

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O presidente François Hollande anunciou que a França fará, a partir desta terça-feira, “voos de reconhecimento sobre a Síria” – no momento em que a Europa enfrenta a pior crise migratória desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que inclui a chegada em massa de imigrantes sírios.

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O principal objetivo francês é reduzir a ameaça de novos atentados em seu território. O sobrevoo da Síria deverá permitir aos serviços nacionais a coleta de dados sobre os centros de treinamento e decisão do EI.

– Eles permitirão planejar bombardeios contra o Estado Islâmico, preservando nossa autonomia de ação e decisão – disse Hollande em entrevista coletiva.

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– O que queremos na Síria é conhecer, saber o que está sendo preparado contra nós e o que se faz contra a população síria – acrescentou Hollande.

A Grã-Bretanha destacou no domingo as mesmas razões de segurança, revelando ter dirigido um primeiro ataque à Síria no último dia 21. Três jihadistas, incluindo dois britânicos, foram mortos “durante um bombardeio preparado meticulosamente e realizado por um drone RAP”, anunciou aos deputados o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

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– Não havia alternativa, uma vez que essas pessoas estavam recrutando e preparando ataques bárbaros contra o Ocidente. Naquela região, não existe nenhum governo com o qual possamos trabalhar – afirmou.

No domingo, o primeiro-ministro britânico confirmou que tentará obter o apoio dos deputados para ampliar as ações na região. Já a França, que participa há um ano dos ataques da coalizão internacional no Iraque, havia rechaçado, até então, fazer o mesmo no território sírio, por considerar que o bombardeio ao grupo jihadista poderia fortalecer o regime local, devido à ausência de uma alternativa moderada.

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Hollande descartou, no entanto, uma operação terrestre de tropas francesas na Síria, opção que julgou “inconsequente e irrealista”.

– Irrealista porque seríamos os únicos, e inconsequente porque seria transformar uma operação em força de ocupação – explicou.

– No Iraque, cabe aos iraquianos realizar essas operações. Na Síria, cabe aos sírios que participam da rebelião, mas também aos países vizinhos, às forças regionais, assumir suas responsabilidades – assinalou.

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Vários elementos influenciaram a mudança de posição da França:

– É um gesto político em relação aos aliados, a quem se deve bombardear o Estado Islâmico em primeiro lugar, para, depois, resolver o problema do governo sírio -considerou o ex-militar Jean-Claude Allard, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) em Paris.

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Outro fator para explicar a mudança de posição francesa é que países árabes, principalmente os do Golfo, participam dos bombardeios na Síria.

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Para a França, era difícil ignorar a intervenção desses países, que tem um objetivo duplo: atacar o EI e o presidente sírio, Bashar al-Assad Assad, seu principal adversário na região, que conta com o apoio do Irã.

A mudança de estratégia francesa também sugere uma resposta imediata à crise dos migrantes.

– Talvez seja uma resposta direta para essa tragédia, mas chega um pouco tarde. Bombardeios não bastarão para resolver o problema – avaliou Myriam Benraad, especialista do Centro de Pesquisas Internacionais (Ceri) do Instituto de Ciências Políticas de Paris.

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* AFP