Uma das datas mais esperadas do ano está cada vez mais perto de chegar. Comemorado de diferentes formas, o Natal ganhou uma atenção especial nos últimos anos em Joinville, com decorações espalhadas pelas ruas da cidade, atividades culturais e feiras. No entanto, as comemorações natalinas são tradicionais na cidade desde o século 19, aponta o historiador e coordenador do Arquivo Histórico de Joinville, Dilney Cunha. Com o passar do tempo, o investimento na data foi variando.

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Veja fotos do Natal de Joinville em outros anos

A iluminação natalina

Algo que sempre esteve presente na cidade, destaca o historiador, eram as decorações luminosas instaladas nas ruas da cidade ou nas praças. Dilney lembra que, quando criança, na década de 1980, saía com os avós para ver as luzes de Natal no Centro de Joinville e visitar as icônicas lojas da época, como a “Reino dos Brinquedos”, que ajudavam a abrilhantar o Natal na cidade.

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— A questão da decoração natalina na cidade vai depender muito. Têm períodos com bastante decoração e tem outros que são mais tímidos. Até recentemente, que aí então até tem um investimento grande — cita o historiador.

E falando em luzes, outro local muito conhecido na cidade pela decoração é a Rua do Papai Noel. A rua Braço do Norte começou a atrair visitantes quando os moradores começaram a enfeitar as casas das mais diferentes formas. A criatividade, iluminação e itens natalinos chamaram a atenção. Em meados da década 2000, as visitações começaram a se tornar cada vez mais frequentes e até mesmo a Prefeitura de Joinville apoiava a ação, enfeitando a rua onde ficavam as casas. O local passou a ser chamado de “Rua do Papai Noel”.

Assim como o Centro da cidade, não foi em todos anos que a icônica rua recebeu as luzes natalinas. Em 2024, por exemplo, não acontece comemoração no local. Os moradores decidiram não enfeitar as residências neste ano e, por isso, a decoração pública não foi colocada no local. A decisão pode mudar nos próximos anos.

Natal musical

Nos anos 1990 e 2000, o Natal joinvilense foi marcado, principalmente, por apresentações culturais, com destaque para os corais e concertos natalinos. Entre os mais famosos estavam os da Harmonia Lyra e da Sociedade Lírica, esta última que continua atuando até hoje.

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— Como o famoso natal da Harmonia Lyra. Isso eu tenho uma lembrança porque eu assisti. Era aberto, gratuito para as pessoas, embora a Harmonia Lyra fosse, historicamente, um clube mais elitizado. Então sempre teve coral, apresentação natalina de igrejas, entidades ou associações culturais, então é algo muito tradicional de Joinville — destaca Dilney.

O coral do clube localizado no Centro da cidade chamava a atenção porque as apresentações aconteciam na sacada do prédio. Cadeiras eram distribuídas nas calçadas e na rua XV de Novembro, que tinha o trânsito fechado. Lá, centenas de pessoas se reuniam para ouvir os coristas. 

Além dessa tradição, outra que marcou a cidade entre a década de 1970 e 1990 é o Terno de Reis, originado na cultura açoriana. A atividade acontece quando um grupo de cantadores e músicos saem pelas ruas batendo de porta em porta para anunciar a chegada do menino Jesus. Normalmente, são recebidos dentro das casas, onde cantam algumas músicas e, depois, se despedem, para cantar e anunciar a chegada de Cristo para a próxima família. 

Apesar de ter sido forte nas décadas passadas, o Terno de Reis segue resistindo na cidade. Um dos grupos mais famosos é o Estrela Guia, que chegou a gravar dezenas de álbuns com músicas autorais. 

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Ouça uma das músicas do grupo

Ações solidárias

Dilney destaca que o Natal em Joinville ocorre desde o século 19. Mesmo mais de um século depois, uma tradição que não morreu na cidade foi a da solidariedade.

— Uma coisa que é muito tradicional de Joinville, como eu fiz a pesquisa também para o Instituto Natal, é a ação solidária. Desde o final do século 19, também no século 20, tem os registros  do Natal dos Pobres, como era denominado. Eram ações tanto do poder público como de entidades privadas, empresas e associações de voluntários, que se dedicavam para arrecadar brinquedos ou mantimentos e distribuir principalmente para as crianças, mas famílias mais pobres da cidade em bairros periféricos — conta Dilney.

O historiador lembra que a solidariedade durante o Natal é tão tradicional que até os dias atuais essas ações continuam acontecendo. Dilney define como uma característica do Natal joinvilense. 

Tradição que morreu nos últimos anos

Durante pesquisas em jornais publicados na década de 1990, Dilney foi surpreendido pela lembrança de um gesto muito forte e tradicional em Joinville durante o período natalino, mas que morreu com o passar dos anos: a troca de cartões de Natal.

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— Uma coisa que eu encontrei lá, bacana, é o registro sobre o hábito de enviar cartões de natal. Eu peguei lá, justamente o ano de 1992, que fala que já estava morrendo porque, aquele Natal, alcançou só 20% do previsto de envio de cartões — comenta Dilney.

Naquele ano, cerca de 14 mil cartões foram enviados em Joinville, 20% do que era esperado, o que significa que o previsto total para a época era 70 mil.

— Era um hábito das pessoas. Eu lembro da família recebendo e a gente mandando. Imagina hoje em dia com internet — brinca Dilney.

Natal em Joinville nos dias atuais

Nos últimos quatro anos consecutivos, a prefeitura de Joinville tem investido no Natal da cidade, criando até mesmo o Instituto Natal. A vice-presidente da entidade, Camila Araújo Duarte, diz que a intenção da organização do evento é contribuir para que as tradições natalinas se mantenham vivas. 

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— O espírito de Natal é perfeito para aproximar gerações e cultivar memórias. Natal é tempo de resgatar lembranças e viver novas emoções que, no futuro, farão parte do imaginário dos joinvilenses — cita.

Falando em memórias,  as pessoas podem interagir pelas redes sociais oficiais do evento, enviando vídeos ou contando suas próprias histórias e lembranças de Natal. Outra ação de resgate de memórias e tradições foi o lançamento do livro “Saberes, Sabores e Histórias de Natal”. A obra traz 33 receitas que fazem parte da história natalina da cidade.

A psicóloga Carolina Beckert Polli, professora do curso de Psicologia da UniSociesc, explica que o desenvolvimento humano está baseado nos aprendizados, vivências e memórias, por isso, manter tradições é fundamental. 

— O que a gente sabe da vida é aquilo que a gente viveu no passado. Então, quanto mais lembranças ricas, cheias de detalhes e vínculos afetivos nós tivermos, melhor vai ser a maneira com a qual vamos lidar com o outro e com o mundo — diz.

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Segundo a psicoterapeuta, cultivar boas memórias é ainda mais importante para as crianças, que precisam se perceber como indivíduos e compreender o lugar que ocupam na sociedade. 

— Se as tradições são vividas com afeto na infância, esses sentimentos ressurgem na fase adulta sempre que essas datas se aproximam. As memórias constroem a nossa personalidade — explica.

Neste ano, as atrações e atividades gratuitas do Natal de Joinville são a Roda Gigante, Carrossel, Pista de Patinação, Bosque de Neve, Teatro de Bonecos, desfiles, feiras e a própria decoração, espalhada pelo Centro da cidade.

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