Imagine estar fazendo uma trilha na Praia de Ponta das Canas, localizada no Norte da Ilha de Santa Catarina, e se deparar com ossos humanos em uma área considerada um sítio arquelógico? Foi o que aconteceu com a professora da rede municipal de Florianópolis, Monique Ouriques Maia, em novembro de 2023. Ela conta que a ossada apareceu em meio a um sambaqui, que estava desabando.
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Veja fotos dos ossos encontrados em Ponta das Canas
— Estava com minha família passeando na Praia de Ponta das Canas, no Norte da Ilha. Resolvemos caminhar para o lado direito da praia, onde existem algumas rochas na beira para sentar. Ficamos observando o local, até que me deparei com algo parecido com ossos. Como tenho fascínio por questões arqueológicas, algo me fez pensar que pudessem ser ossos de povos originários, já que lá é um sítio arqueológico — diz a professora.
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Com a curiosidade em saber o que era aquilo, Monique se aproximou do local para identificar do que se tratava, realmente. E para sua surpresa, o que ela viu, de fato, era uma ossada, aparentemente bem antiga.
— Eram ossos que estavam aflorando do sambaqui, que estava desabando. No momento, não sabia o que fazer. Imagina você estar apreciando a praia e de repente se deparar com ossos? — completa Monique.
Material foi levado ao Iphan
Ao todo, foram encontrados três vértebras, três partes de ossos quebrados e uma parte de fêmur. Dois dias após encontrar a ossada, ela entrou em contato com o Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para entregar o material coletado.
— Solicitei que caso pudessem, fizessem a datação dos ossos. Relatei a situação do sítio, sendo que já era de conhecimento deles estar desabando — conta.
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Até o presente momento, o Iphan estuda os ossos para poder saber de qual época ele pertence e se realmente é de um ser humano. Vale lembrar que os sambaquis possuem em seu interior vestígios ósseos de animais terrestres e marinhos, sepultamentos humanos, além de artefatos líticos e ósseos de até 4.200 anos, aproximadamente.
A não preservação dos sambaquis
Depois de entregar os ossos, a professora voltou ao local em fevereiro deste ano, esperando que o espaço estivesse mais organizado após a denúncia do desabamento. Mas o que ela encontrou foi o cenário oposto e mais ossos espalhados.
— O que encontrei foi decepcionante e triste: me deparei com mais ossos humanos aflorados de um sambaqui desabado, e churrasqueiras em brasa sobre oficinas líticas. — relata.
Apesar do cenário ruim em um espaço que conta a origem da história dos primeiros povos que habitaram a Ilha de Santa Catarina, a professora tem esperanças de que essa história possa mudar um dia.
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— Espero que um dia tudo possa ser diferente. Que os órgãos responsáveis façam algo por isso. O mínimo que precisaria ter seria uma sinalização no local. Sei que realmente a estrutura de pessoal e financeira dos órgãos responsáveis não está conseguindo suprir tamanha demanda de processos, mas não fazer nada ou encaixotar a história é decepcionante — finaliza Monique.
O que são sambaquis?
Os sambaquis são elevações de formas e dimensões variadas constituídas principalmente por conchas, porém contando também com numerosos vestígios ósseos de animais terrestres e marinhos, além de artefatos líticos e ósseos, restos vegetais, manchas de fogueiras, marcas de estacas e, frequentemente, sepultamentos humanos. Em Florianópois, eles estão localizados geralmente em regiões urbanas da Ilha de Santa Catarina.
Essas elevações foram formadas de forma intencional por populações pré-coloniais que viviam principalmente da pesca e que se instalaram na faixa litorânea há cerca de 6.500 anos, no entorno de antigas baías e lagunas.
Devido à presença frequente de sepultamentos humanos, muitos sambaquis vêm sendo entendidos como sítios funerários, resultantes de uma dinâmica ritual que envolveria deposições contínuas e organizadas de conchas e outros vestígios sobre os indivíduos sepultados, numa verdadeira arquitetura funerária que pode ser observada em meio à complexidade de seus perfis estratigráficos.
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