A nova lista brasileira de invasoras no país contém 444 espécies exóticas: 254 animais, 188 plantas e duas algas. O artigo, publicado na revista Biological Invasions, foi elaborado por especialistas de diversos locais do país, incluindo o pesquisador Rafael Barbizan Sühs, pós-doutorando do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor da universidade. A lista de espécies invasoras não era atualizada há mais de 10 anos. 

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Conhecer as espécies exóticas invasoras é importante para prevenir sua disseminação e controlá-las, uma vez que ainda é uma das maiores causas da perda de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

O artigo Invasive non‑native species in Brazil: an updated overview (Espécies invasoras não nativas no Brasil: um panorama atualizado) contou também com a participação de Silvia Renate Ziller, do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, que tem projetos em parceria com a UFSC.

— Nosso trabalho envolveu a participação de professores, pesquisadores, técnicos do Ministério do Meio Ambiente e gestores de ONGs em um grande esforço conjunto para atualizar a lista — contou Sühs.

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Importância da lista de invasoras

A lista de espécies exóticas, segundo Silvia Ziller, é uma referência para a gestão ambiental no país. Ela foi elaborada a partir de informações da Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras e publicações técnicas e científicas.

— As espécies listadas precisam estar em conformidade com os seguintes critérios: ter histórico de invasão em algum lugar do mundo ou no Brasil; estar presente no país, com um ou mais pontos de ocorrência conhecidos e confiáveis. A lista foi elaborada no âmbito do Projeto GEF Pró-Espécies por uma consultoria especializada e em estreita cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e o ICMBio — explica Silvia Ziller.

Segundo Rafael Sühs, a lista também é importante para o público geral. Espécies problemáticas, como algumas plantas ornamentais, também precisam ser evitadas no uso comum.

Os especialistas apontam a preocupação com espécies de criação que não devem ser soltas e nem devem escapar para ambientes naturais, desde peixes de aquário ou aquicultura, até búfalos. É preciso que os tutores de animais de estimação e domésticos tenham cuidado para evitar que eles causem impactos à fauna nativa.

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Ameaça de novas e velhas espécies

Das espécies que entraram na lista recentemente, estão a Anolis sagrei (uma espécie de lagarto), a Aphyocharax anisitsi (peixe conhecido por “enfermeirinha”), Phallotorynus victoriae (peixe conhecido como “barrigudinho”), Perna viridis (o mexilhão-verde) e Elodea canadensis (planta aquática conhecida como “elódea-comum”). 


O Tojo e o Javali já estavam na última lista publicada, mas ainda são espécies que preocupam, segundo o pesquisador.

— O tojo, especialmente na serra catarinense, com algumas populações grandes já estabelecidas nos municípios de Lages e São Joaquim, invade ambientes abertos, começando com beiras de estradas. A espécie também invade áreas campestres, como os campos de altitude, gerando prejuízos econômicos aos produtores, pois os animais não consomem essa planta, que é um arbusto bem espinhento. Além do prejuízo ecológico ao destruir os belos campos de altitude, prejudica quem trabalha com ecoturismo, pois atrapalham as caminhadas e arranham as pessoas — explica Rafael Sühs.

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— É uma espécie que precisa ser manejada o quanto antes para não chegar ao ponto de descontrole total, como é o caso do javali, que está presente em todo o Brasil e já conhecemos bem seus impactos ambientais, econômicos, culturais e sociais — complementa.

O vime está entre as novas espécies invasoras, que entrou na lista devido aos esforços de Ziller e Sühs, além de outros pesquisadores da UFSC, como alunos de pós-graduação de Ecologia da Universidade e a professora Michele de Sá Dechoum, que coordena o Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação (LEIMAC) e é uma das principais referências em invasões biológicas.

— O vime é uma situação delicada, pois é uma espécie que tem valor econômico, especialmente na serra catarinense, devido à produção de móveis. Mas o plantio de vime para ‘secar’ banhados, além de ilegal, gera impactos ecológicos drásticos, como a alteração do curso de rios e diminuição da diversidade de aves. Esses vimes que ficam abandonados acabam crescendo, se tornando grandes árvores e se espalhando pelos rios — explica Sühs.

A lista não foi publicada oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente, mas as espécies listadas podem ser acessadas através da Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, mantida desde 2005 pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. Ela também pode ser acessada na página da publicação do artigo.

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