Paranaguamirim, Senhor Bom Jesus de Parati e somente Parati. Estes foram todos os nomes que a cidade de Araquari, que completa 148 anos nesta sexta-feira (5) já teve. Apesar da idade, a região é muito mais antiga do que parece e, ao longo dos últimos séculos, carrega consigo história de imigrantes, povos indígenas, escravizados, comerciantes, agricultores e, mais recente, empresários.
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Sendo ocupada desde o século 17, a região, durante muito tempo, pertenceu em partes a São Francisco do Sul e também a Joinville. Por isso, o mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade, Aldair Nascimento Carvalho, explica que a história das cidades se confunde.
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— Mais tarde, Araquari se torna município, mas até esse período, até 1876, ele pertenceu, era administrado por São Francisco do Sul. E, essa região era bastante ampla. Pegava uma parte de Joinville, o Paranaguamirim, aquela região, uma parte que ia até São João do Itaperiú, Barra Velha, Barra do Sul, que são todas cidades que se emanciparam de Araquari — explica.
Conforme cita Aldair, o bairro Paranaguamirim, de Joinville, por exemplo, desmembrou da cidade somente nos anos 2000.
Povos que passaram por Araquari
O mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade explica que o povoamento de Araquari teve início há milhares de anos com os sambaquianos. Depois, vieram os povos indígenas, que se mantém na região até hoje. Posteriormente, foi a vez dos imigrantes europeus, principalmente portugueses e açorianos.
Com a vinda dos europeus, a região recebeu também a população africana escravizada. Inclusive, a presença da população negra ainda é forte na cidade, aponta Aldair.
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— Todo ano, dia 6 de agosto, há uma festa mantida pela Comunidade Negra de Itapocu, pelo Grupo Catumbi de Itapocu. O grupo é um culto da Nossa Senhora do Rosário, existe uma manifestação que é mantida pelo grupo que tem os primeiros registros de 1852, 1853, por aí. É uma tradição que se mantém viva até hoje, com muita força. Ela é reconhecida como Patrimônio Cultural e Material de Santa Catarina, é uma das poucas representações do patrimônio de identidade cultural que ainda se mantém em atividade em Santa Catarina da Comunidade Negra — conta.
Crescimento da região
— Era uma roça quase […] Só estrada de chão, poeira, tinha que estar como a casa fechada de tanta poeira — lembra a professora aposentada Dolores Maria Maçaneiro, de 76 anos, sobre como era Araquari quando decidiu se mudar para a cidade. Natural de Joinville, a educadora fez do município seu endereço fixo em 1978 e nunca mais foi embora.
Dolores acompanhou o crescimento da cidade, viu o calçamento chegar às primeiras ruas, os comércios serem erguidos e as indústrias chegarem.
Aldair afirma que, durante muito tempo, uma das principais fontes de renda da população era a agricultura, com destaque para a produção de farinha e mandioca, além da pesca e comércio.
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— Algumas pessoas viviam da venda de comércio de secos e molhados, mas também muita gente vivia da agricultura, da pesca. Então, era uma cidade relativamente de pessoas pobres, simples.
A antiga moradora da cidade lembra que, quando mudou-se, havia apenas pequenos comércios na região.
— Era coisa mínima [comércio], era tudo mais para Joinville — recorda Dolores. Para buscar atendimento especializado de saúde ou outros serviços, era necessário pegar o trem e ir para outras cidades.
Com a abertura de rodovias, a BR-101 na década de 1960, e a 280 nos anos de 1970, Araquari começou a se reestruturar, conta o especialista. Segundo Aldair, a região rural passou a ser cortada por uma rodovia, uma das principais do país e, então, tornou-se uma região urbana.
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Nos últimos 20 anos, Araquari cresceu significativamente. Aldair atribui isso à localidade privilegiada, ao lado da Baía Babitonga, da rodovia, ferrovia e porto. Um dos maiores investimentos feitos na cidade, por exemplo, é a fábrica da alemã BMW, que fica, justamente, situada às margens da BR-101.
— O que cresceu muito a cidade foi venda de loteamento, fez aumentar muito movimento e cada loteamento tem seu comércio. Está bem avançado — comenta Dolores, que mora há 45 anos e viu a cidade se expandir.
Inclusive, segundo o Censo 2022, Araquari teve um crescimento de 82,10% no número de habitantes se comparado a 2010, passando de 24.810 moradores para 45.180.
— Araquari sempre foi um lugar de várias pessoas do mundo, de vários grupos étnicos, de vários povos. […] Nós mantivemos a ideia de comunidade, a ideia do conceito de cidade e de organização social. O povo de Araquari é um grupo, são pessoas que conseguem lidar bem com essa diversidade e conseguem se juntar, se reunir para contar a sua história — destaca Aldair.
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Vinda de Joinville para Araquari na década de 1970, quando a cidade não tinha nem 10 mil habitantes, Dolores afirma que, apesar de pequeno, o município ganhou seu coração.
— Eu amo Araquari. Sou natural de Joinville, onde tenho família, gosto de ir ali, mas morar, estou habituada aqui. O parentesco que eu tenho em Araquari é a minha comunidade — finaliza a moradora.
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