O prédio branco e azul localizado na rua Botafogo, em Joinville, abriga um importante clube que carrega mais de 60 anos de história. O imóvel que foi construído em madeira e, com os anos, foi reformado com alvenaria, é símbolo da cultura negra na maior cidade de Santa Catarina.
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A ideia de criar o clube veio de alguns jovens negros que já tinham uma paixão em comum: o futebol. Foi em conversas durante os jogos pelo time Senegal que resolveram fundar o Kênia.
— Na época, década de 60, os negros não podiam frequentar clubes já existentes em Joinville. A partir das partidas de futebol, começaram a conversar sobre como poderiam fazer essa recreação além da atividade esportiva, porque queriam bailes, música, atrações e tiveram a ideia de criar uma sociedade que os negros pudessem frequentar e colocaram o nome de Kênia — conta Alessandra Bernardino, mestre em educação, pesquisadora da história e cultura africana e afro-brasileira e, também, filha de um dos diretores, o Antonio Bernardino Filho, também conhecido como Seu Risca.
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Foi assim que em 6 de setembro de 1960 foi fundado o Kênia Clube, que abriu as portas com um grandioso baile. Segundo Alessandra, o espaço foi organizado nos mínimos detalhes para deixar um marco para as pessoas que vivenciaram aquele momento, e assim também foi criado o lema “não se deve julgar os homens pela cor de sua pele.”
O objetivo dos fundadores vem se cumprindo ao longo de mais de meia década. O Kênia hoje é considerado um centro cultural, patrimônio da comunidade negra joinvilense, e que abrigou inúmeras atividades, desde o Grêmio Feminino, concursos de beleza, aulas de alfabetização, baile de debutantes, surgimento da Escola de Samba Kênia, em 1968, a Príncipes do Samba em 1986, o Grêmio Jovem Kênia Clube, fundado em 1987, aulas de capoeira, reunião de movimentos negros.
— Talvez seja o único clube negro a funcionar em Santa Catarina, que não está caracterizado apenas pela diversão com rodas de samba e ensaios carnavalescos, é um ponto de encontro de referência negra sobrevivendo através dos tempos, que agrega há 64 anos as diversas etnias existentes em nossa cidade e ratifica a presença negra em Joinville — destaca Alessandra.
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Patrimônio de Joinville
Alessandra conta que a sede própria do Kênia Clube sempre foi no mesmo local, na rua na Rua Botafogo, 255, bairro Floresta. Porém, antes de conseguirem o terreno para construção, a Sociedade Vera Cruz era o espaço que agregava as atividades da Sociedade Kênia Clube.
Depois surgiu o imóvel próprio da rua Botafogo. O espaço começou sendo construído em madeira. Mais tarde, ganhou reforços e passou a ser de alvenaria.
Para Alessandra, não só a estrutura arquitetônica foi fortalecida ao longo dos anos, mas também as atividades, que incluíam desde a alfabetização de adultos até iniciativas com apoio de leis de incentivo, construção de sala de dança e da Companhia 255 – Performance e Arte Negra. Bem como o Kênia Com Vida, Oficina de Dança para Pessoas Idosas, Oficina de Moda Afro-brasileira e Festivais Culturais.
Mais de 60 anos depois de sua fundação, a Sociedade Kênia Clube se tornou Patrimônio Imaterial de Joinville, na categoria Registro Lugar de Memória, carregando o título oficial desde 2022.
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— A importância deste espaço ser denominado patrimônio é de reverenciar a cultura negra em nossa cidade, valorizando narrativas, memórias e trajetórias que possibilitam diferentes formas de realizar ações culturais, políticas, educacionais e sociais, dando visibilidade à história e presença negra em Joinville — finaliza Alessandra.
Origem do nome
A origem do nome da sociedade foi inspirada no movimento social e partido político União Africana do Kênia (KAU), que reivindicou e lutou pela independência do Quênia, país africano que esteve sob o domínio da Inglaterra até 1963, quando se tornou independente. Em nota, a Sociedade Kênia Clube salienta que o clube é aberto a todos, e não apenas aos negros, porque acredita nessa união.
Príncipes do Samba
Como mencionado por Alessandra, o Kênia Clube também é a casa do Carnaval da cidade, por ser a sede da Príncipes do Samba, escola mais antiga de Joinville em atividade.
Fundada em 1986, a escola realiza seus ensaios na Sociedade Kênia Clube e carrega o título de afilhada da Portela. O ato de batismo foi realizado em 2010 pelo próprio Monarco da Portela, da ala de compositores da agremiação carioca.
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Outras atividades encontradas no clube atualmente
Apesar da fama do carnaval, as atividades do Kênia vão para além do período da folia. Existe uma programação durante todo o ano, e uma série de projetos em andamento, como o Projeto Kênia Com Vida, que engloba uma série de ações, entre elas a criação da Companhia 255 – Performance e Arte Negra, que já selecionou 15 bailarinos bolsistas, além de um projeto que inclui Oficina de Dança para Pessoas Idosas, Oficina de Moda Afro-brasileira e Festivais Culturais. As ações podem ser acompanhadas pelas redes sociais da Sociedade Kênia Clube.
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