O rugir dos tambores de um ritual de candomblé não estão ali, mas o silêncio necessário de observação do desconhecido. Denise Camargo, iniciada há 18 anos na religião, procurou ir além do lugar-comum e mergulhar no simbolismo em E o Silêncio Nagô Calou em Mim. Como ela explica, a imagem de uma cachoeira poderia ser apenas um registro imagético, mas dentro do contexto representa Oxum – já que todas as divindades têm uma equiparação com forças da natureza.
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São esses conhecimentos pouco difundidos que ela produz ao fotografar com tanta intimidade esse universo. A intenção é, para além de uma experiência estética, diminuir o preconceito e resgatar a herança africana no Brasil, que é manifestada em diferentes situações, especialmente no espírito festivo dos dois povos.
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O trabalho é resultado de um doutorado em Artes na Unicamp. Por isso, as fotografias são parte das reflexões teóricas e vice-versa. Denise procura não apenas fornecer dados, mas explicações nas legendas, para que o visitante possa entender o que está sendo registrado. Além das obras fotográficas, textos poéticos acompanham as imagens. É algo quase didático. Ela quer propiciar conhecimento.
São fotografias em preto e branco que jogam com luzes e sombras. Apenas uma é exibida em cores. As fotos são trabalhadas a partir do ponto de vista do artista: o visitante vê o que ela viu, quase como se testemunhasse a cena dos rituais, trazendo para o tempo presente a ação.
Existe um olhar que transita entre o dentro e o fora de um terreiro. Utilizando-se de um conceito da antropologia, Denise expõe o conhecimento consistente sobre a religião e busca esse olhar exterior. Ela é a ponte entre a “da porteira para dentro” e “da porteira para fora”. Mas esses momentos não são conflitantes.
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Análise de Fernando Boppré
>> Este repertório de imagens sobre os negros nunca entrou no Masc. É algo novo esta possibilidade de mostrar a cultura sem ser algo marginalizado, e sim como algo estético para ser sentido.
>> Existe a questão do Cinema Verdade. A artista está no meio de uma vivência e às vezes não tem as condições técnicas apropriadas, mas não se poda por isso. É mais importante trazer a imagem. Os enquadramentos são de quem está vivendo junto. Não há pose, a vida está acontecendo.
>> A presença da artista é cheia e viva. Com as paredes pintadas de marrom e os poucos espaços entre as obras, ela tenta provocar uma imersão e uma espécie de transe.
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