O impasse entre a produção e o abastecimento do milho em Santa Catarina foi o foco do Fórum Catarinense do Agronegócio, evento que reuniu pelo menos 10 nomes ligados ao setor na manhã de terça-feira em Florianópolis. Enquanto de um lado representantes dos produtores de aves e suínos defendiam que a produção do milho deveria ficar dentro do Estado para poder girar a exportação de carne, analistas e associações defendiam que os agricultores é que devem decidir como comercializar a safra.
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– Vejo Estados querendo impor tarifas para frear a exportação (do milho), mas isso é o contrário do que devemos fazer. A exportação vai aumentar a produção, e não diminuir. Quanto mais proibirmos, mais teremos depressão do preço interno e menor competitividade do milho com a soja e outras culturas – defendeu o analista de mercado da Safras & Mercado, Paulo Molinari.
O especialista ainda ponderou que hoje o que segura o milho dentro de SC são os preços praticados no porto, e não no mercado interno. Segundo o analista, enquanto a saca sai do Brasil por R$ 40, a comercialização dentro do Estado gira em torno de R$ 50 e R$ 56.
Já o secretário adjunto da Agricultura e da Pesca do Estado, Airton Spies, afirmou que o alto preço do insumo coloca em risco a qualidade das carnes de frango e suíno produzidas no território catarinense. Para ele, hoje o estoque de passagem do milho em SC só dá conta de abastecer os produtores por 20 dias.
Mediante este fato, o secretário defende que, para amenizar a situação, deveria haver uma atuação mais incisiva da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aliada a outras cinco medidas (veja quadro) focadas no aumento da oferta do grão. Outro ponto na discussão sobre o preço e a oferta do milho é a soja. Por conta do preço, o grão ocupou o lugar que deveria ser do milho na safra catarinense. Dados repassados por Molinari apontam, por exemplo, que o preço do farelo de soja duplicou. Na avaliação do analista, a safrinha do milho deve amenizar o problema dos produtores catarinenses nos próximos meses, mas a soja não tem safrinha.
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– A discussão deveria ser do milho e da soja. Não sabemos se a partir de setembro teremos soja no mercado interno. Então, o que nós vamos fazer agora? Proibir a exportação de soja também? – questiona.
Entrevista: Paulo Molinari, analista de mercado da empresa de consultoria Safras & Mercado
De que forma o senhor acredita que Santa Catarina pode resolver o impasse sobre o preço do milho?
Em primeiro lugar, o Estado precisa ter uma boa estratégia no sentido de absorver o milho que entra pelo Centro-Oeste do Brasil e pelo Paraguai e posicionar o máximo possível em estoque para o segundo semestre. Mas não é apenas o milho, o farelo de soja também precisa de uma estratégia boa porque teremos problemas pela frente. E também desenhar um incentivo com preços equilibrados ao produtor para que nós possamos recuperar essa produção na safra de verão.
Hoje é possível substituir o milho por outro grão como alimento principal de aves e suínos?
Não, hoje no Brasil o que nós teríamos é o trigo, mas ele já é usado em boa parte dos estoques que tínhamos até o momento. Teremos trigo novamente em setembro no Paraná, em novembro no Rio Grande do Sul, então é possível que o trigo venha ajudar a compor esse abastecimento, mas não vai substituir 100% o milho.Quais são as alternativas que o produtor tem hoje para buscar o grão mais barato?Atualmente, o milho do Mato Grosso e do Paraguai chega mais barato do que os preços praticados aqui. O que acontece é que a safrinha não começou a entrar ainda, não estamos no auge da colheita, que só acontece no próximo mês. O problema é que as necessidades são imediatas, e a safrinha tem o seu tempo de colheita.
Existe uma alternativa para balancear o problema produtor de milho catarinense x criadores?
O balanceamento precisa ocorrer também no setor de carnes. A área não pode pensar que é uma ilha dentro de um quadro de oferta e demanda nacional. Ou seja, se os preços do suíno e do frango estão baixos, eles precisam ser corrigidos para reequilibrar o custo de produção. É natural que você precise desse equilíbrio. Se for necessário cortar produção, teremos que cortar.
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O senhor pode projetar uma perspectiva de quando este cenário vai começar a melhorar em Santa Catarina?
Só vai ocorrer a melhora no momento em que o setor de carnes resolver cortar um pouco a produção e regularizar o quadro de oferta e demanda.