Sem o mesmo glamour de anos anteriores, começa nesta quarta-feira em Davos, na Suíça, o 43º Fórum Econômico Mundial. Principal reunião entre empresários e líderes de governos, o evento que segue até domingo terá o desafio de renovar propostas e reverter o ceticismo em meio à crise financeira.

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Além do descrédito por falhar nas previsões da turbulência de 2008, defendendo um modelo que culminaria no colapso do setor bancário nos EUA, o fórum terá de superar sua gradativa perda de influência nas decisões governamentais e na agenda global de debates políticos e econômicos, explica Frederico Behrends, consultor de negociações internacionais da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs):

– Não existe mais aquele oba-oba com as ideias do fórum, muito em razão da falta de expectativas de que surja uma ideia prática para reverter a crise no curto prazo.

A ausência parcial de autoridades no evento indica que o menor entusiasmo vai além da opinião pública. O encontro começa sem a presença de 11 ministros de economia europeus, reunidos em Bruxelas para aprovar uma taxa comum para o bloco entre transações financeiras. Na comitiva brasileira, não está confirmada a participação de ministros da área econômica e da presidente Dilma Rousseff.

– O fórum perdeu muito de sua capacidade de articulação e influência – diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor de economia política da PUC-SP.

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Segundo Lacerda, as ferramentas para se combater a crise são conhecidas, mas dependem de entendimento entre países, o que não passa pelo fórum. Sem poder para tomar decisões ou definir metas, as ideias em Davos correm o risco de morrer na fonte.

– Talvez tenha havido exagero nos últimos anos em torno do poder do fórum, que acabou sendo revisto depois da crise – afirma o empresário Bolivar Moura, que participou do evento em 14 ocasiões, a última em 2008.

Apesar da dificuldade em apresentar resultados práticos, o evento tem uma agenda de discussão. Conforme Renato Baumann, professor de economia internacional da UnB, o aumento do protecionismo e a legitimidade das novas cadeias de produção entre países, principalmente da Ásia, merecerão um debate mais a fundo em Davos.

Na agenda

Temas que dominarão os debates em Davos:

Crise na Europa

A recuperação dos países da zona do euro estará no centro das atenções neste ano, com o debate recaindo principalmente sobre as vantagens e os riscos de apertar a cobrança por medidas de austeridade em países como Grécia e Espanha.

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Dívida dos EUA

O crescimento da dívida americana, que será pressionada caso os incentivos ao consumo sejam renovados ao final de fevereiro, é uma das principais preocupações para o avanço sustentável da economia mundial.

Protecionismo em alta

Efeito direto da crise internacional, a intensificação das barreiras à importação tem causado preocupação em países desenvolvidos, que tendem a apostar mais nas vendas externas para recuperar sua economia.

Dúvidas na China

A mudança do governo da China, decidida no fim do ano passado, e a desaceleração da segunda maior economia do planeta cercam de dúvidas economistas e empresários quanto às condições do país em continuar injetando dinamismo no mundo.

Desemprego em alta

A disparada do desemprego entre os jovens na Europa e a projeção do fechamento de novos postos de trabalho pautarão debates em relação às formas de aproximar os recém-formados às oportunidades de trabalho.

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Desenvolvimento social

O papel das organizações não governamentais na sociedade, ao buscar articulação entre governos e empresas, e a melhoria em sua gestão são vistos por Davos como fundamentais para buscar mais desenvolvimento social neste século.

Debate que pode chamar a atenção

Super-homens e alienígenas

E se, além da crise na Europa e do endividamento dos Estados Unidos, tivermos de lidar com uma ameaça alienígena? Pode parecer um debate inócuo, mas não para os coordenadores do Fórum Econômico Mundial. Em um relatório sobre os riscos globais para 2013, o editor-chefe da revista científica Nature, Tim Appenzeller, chamou a atenção para a possibilidade crescente de descobrirmos vida inteligente em outros planetas e das ameaças que isso implicaria. No estudo, que será apresentado e debatido em Davos, são citadas, ainda, as implicações das habilidades sobre-humanas e o custo da longevidade para o planeta.