As tropas iraquianas assumiram nesta terça-feira (17) o controle de quase todos os campos de petróleo da região de Kirkuk, após a retirada das forças curdas, arruinando as esperanças de independência de um Curdistão iraquiano em pleno marasmo econômico.

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Desde o início da operação, há dois dias, comboios de blindados avançavam para reimpor a autoridade do poder central na disputada província de Kirkuk (nordeste), onde os combatentes curdos peshmergas se instalaram em 2014 aproveitando o caso provocado pela ofensiva do grupo Estado Islâmico (EI) no país.

Nesta terça-feira, os membros das forças iraquianas baixavam as bandeiras curdas hasteadas nessas instalações e postos de controle dos campos de petróleo de Bay Hassan e de Havana, para substituí-las por bandeiras iraquianas.

“É uma riqueza nacional. Pertence ao Iraque, assim como as riquezas naturais do conjunto de regiões do país”, declarou à AFP o coronel Ahmed Modhi, da Polícia Federal.

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“A recuperação pelo governo de todas as instalações petrolíferas, bem como das estações de extração e oleodutos, permitirá o retorno da ordem”, indicou em um comunicado o ministro do petróleo, Jabar al-Luaibi.

De fato, cinco dos seis campos de petróleo da rica província de Kirkuk estão sob controle das autoridades de Bagdá.

Apenas o campo de Khurmala, sob controle curdo desde 2008, não foi reconquistado.

Na segunda-feira, funcionários curdos paralisaram as operações de extração dos poços de petróleo em Bay Hassan e Havana e abandonaram os postos antes da chegada dos soldados iraquianos, de acordo com governo de Bagdá.

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Bay Hassan e Havana produzem quase 250.000 barris por dia e, desde 2014, estavam vinculados ao Ministério de Recursos de Mineração da região autônoma do Curdistão, segundo uma fonte do setor petroleiro em Kirkuk.

No momento em que passa pela pior crise econômica de sua história, o Curdistão vai sofrer os efeitos da perda dos campos, que representam 40% de suas exportações de combustível.

A província de Kirkuk, que não é parte do Curdistão iraquiano, é objeto desde 2014 de uma disputa entre o governo central e as autoridades curdas, exacerbada em setembro pelo referendo de independência.

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– ‘Fim do sonho de independência’ –

“Com a perda desses campos, o portfólio curdo está dividido por dois”, afirmou o geógrafo francês Cyril Roussel.

Além da questão econômica – lembrou -, “é o fim da autonomia econômica do Curdistão e do sonho de independência”.

“Foi apenas depois de ter anexado, em julho de 2014, as duas jazidas de Kirkuk que o presidente curdo, Massoud Barzani, começou a falar de independência. Antes, falava apenas de autonomia”, lembra esse especialista no Curdistão iraquiano.

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Os mercados observam com cautela uma possível redução da oferta mundial de petróleo, o que poderia fazer aumentar os preços.

Esse progresso marca uma virada na operação lançada por Bagdá, que, na segunda-feira, também proclamou várias vitórias simbólicas, três semanas depois do polêmico referendo de independência. Seu promotor, Massoud Barzani, está sendo duramente criticado por realizar essa consulta, inclusive em suas próprias fileiras.

Ao hastear a bandeira iraquiana e baixar a curda na frente do prédio do governo de Kirkuk, Bagdá quer deixar claro seu retorno para poder enfrentar os curdos.

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Depois do avanço rápido e quase sem violência, as forças governamentais continuam avançando para impor sua autoridade em outras zonas disputadas.

O retorno de centenas de famílias curdas, segundo autoridades locais, à cidade de Kirkuk, permitirá o governo mostrar que apoia a convivência entre as comunidades.

– Depois de Kirkuk, Sinjar e Diyala –

A vários centenas de quilômetros de Kirkuk, perto da fronteira com a Síria, as forças iraquianas assumiram o controle da cidade de Sinjar (noroeste), bastião da minoria yazidi, perseguida pelos extremistas do EI.

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Nessa localidade, os peshmergas se retiraram “sem violência”.

Na província de Diyala, ao leste de Bagdá, as tropas do governo “entraram em Jalawla e içaram a bandeira iraquiana na prefeitura”, indicou à AFP o responsável de segurança local, Sadeq al-Husseini.

“Os peshmergas se retiraram de todas suas posições em quatro setores, entre eles Jalawla e Khanaqin, e voltaram às posições que tinham antes de 2014”, acrescentou.

* AFP