A índia Kerexu Ixapyry, liderança Guarani em Santa Catarina, foi espionada pela Força Nacional. O órgão é subordinado ao ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Kerexu participava da Marcha das Mulheres Indígenas, que entre segunda e quarta-feira reuniu cerca de 3 mil mulheres em Brasília, quando foi fotografada e filmada por um agente que se identificou como sendo um subtenente da Polícia Militar do Ceará.

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Além de Kerexu, tiveram suas imagens recolhidas Célia Xakriabá, professora e ativista do povo Xakriabá, em Minas Gerais, e Sonia Guajarara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Também foram alvo de espionagem a codeputada Chirley Pankará (PSOL-SP) e Telma Taurepang, de Roraima, atual coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira.

Na segunda-feira foi feita a ocupação do prédio da Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai, do Ministério da Saúde. Naquela tarde uma comitiva foi recebida no Supremo Tribunal Federal pela ministra Cármen Lúcia. O policial militar esteve nos dois eventos.

Kerexu está retornando de ônibus para Santa Catarina e foi informada do assunto depois que havia embarcado. O NSC Total conseguiu conversar com ela pelo celular:

— Parece que foi na ocupação da Sesai. A gente era em 30 mulheres, mas como estávamos à frente, puxando e encaminhando documentos com as reivindicações, fomos o alvo.

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Kerexu, que também coordena a Comissão Nacional Guarani Iurupá, conta que o homem estava à paisana e conseguiu se aproximar no momento em que usavam um computador para escrever a pauta.

— Imagino que o interesse deles seja o de intimidar, o de amedrontar. Isso sempre aconteceu com a gente — diz.

Para ela, que já foi cacique na terra indígena do Morro dos Cavalos, na Grande Florianópolis, é de admirar que um governo com atitudes tão machistas e onde o ministro Sergio Moro se diga um herói por colocar um ex-presidente da cadeia, venha a se importar com as mulheres indígenas.

— Então é sinal que estamos fortes, isso nos fortalece. Foi exatamente isso que queríamos mostrar para o governo, as nossas lutas, o que queremos em terra e saúde para os indígenas. A gente pode mudar os caminhos e as estratégias, mas os objetivos não vão mudar.

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Acompanhamento dos movimentos sociais

A reportagem da Folha de São Paulo localizou e abordou o homem, o qual se identificou como subtenente da PM do Ceará César Fonteles. Ele reconheceu que trabalhava para a Força Nacional e que fazia um "acompanhamento dos movimentos sociais […] por questão de segurança, prevenção". Ele disse que trabalhou em boa parte de seus 26 anos na PM "na área de inteligência":

— As informações nós encaminhamos para a Força, para o nosso chefe na Força. Tem o trabalho ostensivo e tem o nosso também, de acompanhar a situação, por uma questão de segurança, prevenção, [para que] se antecipe a problemas. Para que não haja badernas, nem pessoal na questão de destruir o patrimônio.

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