Apontado pela Polícia Federal como o “arquivo vivo” do esquema de pagamento de propina a políticos e servidores públicos comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira da Silva está “pronto para cooperar” com a CPI instalada para investigar, no Congresso, o caso. O porta-voz do recado é seu advogado, Calisto Abdala Neto, que tenta garantir a liberdade do cliente. Para a Justiça, o homem apontado como tesoureiro de Cachoeira é considerado foragido há quase dois meses.
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– Ele (o Geovani) está pronto para cooperar com a Justiça e com a CPI. Ele tem de responder por aquilo que ele fez – afirmou Abdala Neto ao jornal O Estado de S. Paulo.
O advogado disse que, a princípio, o tesoureiro poderia se defender das acusações das quais é alvo no Congresso e “contribuir” com as investigações. Para mostrar a disposição do cliente em ajudar, Abdala Neto disse que, se ele for convocado para depor na CPI, não deve entrar com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para depor como testemunha, e não como investigado. Na condição de testemunha, teria a obrigação de falar a verdade e não poderia permanecer em silêncio.
O tesoureiro tem muito a esclarecer. Um relatório do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF revelou que Geovani fez saques de R$ 15,4 milhões nos últimos dois anos das contas de empresas apontadas pelos investigadores como sendo de fachada. O contador fez mais de uma centena de retiradas das contas de cinco empresas, das quais tinha procuração para realizar tais movimentações.
Saques milionários
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Geovani fez 122 retiradas, no valor de R$ 11,8 milhões, da Alberto & Pantoja. E aparece como sacador de recursos de outras três empresas e até da conta de um irmão de Cachoeira. Foram R$ 2,4 milhões da JR Prestadora de Serviços; R$ 1 milhão da Mapa Construtora (que tem como sócio o irmão do contraventor, Paulo Roberto); R$ 95 mil da Brava Construções e R$ 119 mil da conta de Luiz Carlos Almeida Ramos (outro irmão de Cachoeira).
A polícia acredita que o tesoureiro possa apontar quem são os servidores – políticos incluídos – beneficiados com propina. E revelar detalhes de como funcionava o “deltaduto” – o esquema de repasse de recursos da empreiteira Delta, operado por Cachoeira, segundo a PF. O relatório do INC descobriu que R$ 39 milhões abasteceram duas das cinco empresas apontadas como sendo de fachada pela PF.
Estratégia diversionista
A ideia da defesa de Geovani é mantê-lo “resguardado” até que a Justiça revogue a ordem de prisão contra ele. Para isso, o advogado impetrou habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, em Brasília, para anular a ordem de prisão. O pedido ainda não foi apreciado.
A defesa entrará também com outro pedido de liberdade ao juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, responsável por deflagrar a operação. Abdala Neto entregará o passaporte de Geovani e argumentará que não há fundamento para prendê-lo.
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Na linha das defesas de Cachoeira e do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), o advogado dirá que a Operação Monte Carlo é ilegal porque houve investigação de autoridades com foro privilegiado. Ele descarta, porém, a hipótese de acordo de delação premiada.