Quando o então sargento Tadeu Cerski desembarcou em Livorno com outros milhares de pracinhas, a população italiana que assistia à chegada desconfiou. Os militares brasileiros surgiram cansados, sem armamento e com as pernas frouxas após terem vomitado por horas. Uma visão pouco alentadora. Poucos meses depois, dariam adeus àquela terra estrangeira como heróis. Continua depois da publicidade A viagem através do Atlântico não havia sido fácil para os cerca de 3 mil integrantes do Regimento Sampaio a bordo. Como a cozinha não dava conta do grande número de soldados, faziam apenas duas refeições por dia: geralmente, um café da manhã às 6h, um almoço às 14h, e mais nada. Por isso, 15 dias depois, quando chegaram a Nápoles e entraram em barcaças onde havia comida à vontade, se empanturraram a ponto de vomitar com o balanço do Mar Tirreno.
Sete décadas atrás, soldados brasileiros começavam a sua saga na Itália
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Passado o enjoo, faltava o armamento. Cerski recorda que a tropa recebeu dos americanos fuzis Springfield ainda cobertos de graxa e partiu para o front. Durante dois dias, em Torre di Neroni, não se viu ou ouviu alemão. No terceiro, a máquina de guerra de Hitler se revelou. Os pracinhas ocupavam as trincheiras em duplas. À noite, quando um jipe trazia o jantar, um soldado mantinha guarda e o outro recuava para matar a fome. O inimigo descobriu essa rotina e lançou uma chuva de morteiros e ondas de pelotões na hora da refeição. – No meio da noite, não se enxergava nada. Atirávamos nos clarões provocados pelos disparos das armas deles – recorda Cerski. Após uma luta intensa, os alemães contaram 30 mortos, contra cinco baixas brasileiras. O maior desafio do militar gaúcho e seus companheiros viria em seguida, quando participaram do terceiro ataque ao célebre Monte Castelo, a partir da madrugada do dia 12 de dezembro de 1944. Continua depois da publicidade
Cerski e seu pelotão marchavam sob o céu ainda escuro e em silêncio total. Deveriam prosseguir assim para não alertar os alemães, mas o exército americano lançou uma barragem de artilharia. O objetivo era atrair a atenção do inimigo para uma determinada área enquanto os brasileiros avançavam sobre outra. O resultado prático foi uma chacina. Alertas e em posição, os alemães flagraram o militar gaúcho e seu pelotão a descoberto. As balas vinham pelo flanco. Somente nessa unidade, 12 homens foram mortos, com um detalhe: quase todos levaram tiros precisos na cabeça. – Fomos caçados feito animais, levando tiro na cabeça. Só um dos mortos não foi atingido dessa maneira – lamenta Cerski. Monte Castelo ainda não seria conquistado dessa vez. Os brasileiros retornariam em fevereiro do ano seguinte, com o mesmo destemor que chegaram. Cerski, que decidiu enfrentar os nazistas como voluntário, foi promovido a tentente ainda durante a guerra pela bravura demonstrada no campo de batalha. Depois, chegaria a tenente-coronel. Deixou a Itália ao fim do conflito, ao lado dos companheiros que haviam desembarcado no ano anterior debilitados, sem armas de desacreditados, como herói. Continua depois da publicidade