Uma catarinense faz parte do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU) vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2020. Mariana Machado Rocha, 35 anos, trabalha na área de alimentação escolar em Moçambique, país de quase 30 milhões de habitantes localizado ao sul da África. 

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– O Prêmio Nobel da Paz é um grande reconhecimento do trabalho que o PMA desempenha há mais de cinco décadas para prestar assistência alimentar às populações mais vulneráveis em razão de conflitos ou desastres naturais – comemora.

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Nascida em Lages, cidade da Serra de Santa Catarina, Mariana formou-se em Direito pela UFSC e depois se mudou para a Europa, onde concluiu o mestrado em Direitos Humanos. Ingressou no PMA em 2014 e passou a apoiar países da Ásia e da África.

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Nesta semana, conversamos com Mariana sobre a trajetória dela na agência da ONU, o trabalho em Moçambique, o Nobel da Paz e como a pandemia afetou o país africano. Confira:

Qual o trabalho que você desenvolve atualmente com o PMA da ONU em Moçambique?

Trabalho na área de alimentação escolar. Nós apoiamos o governo de Moçambique a alimentar mais de 250.000 crianças em escolas primárias do país. A alimentação escolar incentiva as crianças a frequentarem a escola e atende às necessidades nutricionais dos alunos, melhorando a saúde e as capacidades para avançarem em sua educação. 

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Como foi a sua trajetória dentro do programa?

Eu ingressei no PMA em 2014, no escritório do Brasil: o Centro de Excelência contra a Fome do PMA. O trabalho do Centro de Excelência no apoio a países na construção de programas alimentares sustentáveis, ligando agricultura familiar, alimentação escolar e nutrição. Do Centro de Excelência, trabalhei com vários países na África e Ásia, recebendo-os no Brasil e viajando até eles para reforçar as trocas sobre boas práticas na área e prestar assistência técnica aos governos. Entre esses países está Moçambique, que venho apoiando desde 2018 e para onde me mudei no início deste ano, para trabalhar diretamente no escritório daqui.

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Qual a importância do Prêmio Nobel da Paz para o programa e, além disso, para a causa do combate à fome?

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O Prêmio Nobel da Paz é um grande reconhecimento do trabalho que o PMA desempenha há mais de cinco décadas para prestar assistência alimentar às populações mais vulneráveis em razão de conflitos ou desastres naturais. É uma honra para toda a equipe da organização que está presente em mais de 80 países e trabalha para que 100 milhões de pessoas sejam assistidas, muitas vezes em circunstâncias bastante desafiadoras.

Este reconhecimento chega em um momento crítico em que nós vemos a fome aumentando no mundo há alguns anos, que foi agravado pelos impactos do Covid-19. 

Qual foi o impacto do coronavírus na atuação de vocês em Moçambique? O país tem números altos na pandemia, isso piorou a situação da fome também?

O PMA teve de ampliar a sua assistência para chegar às populações que ficaram mais vulneráveis por conta das mudanças socioeconômicas geradas pela pandemia. O impacto econômico da pandemia é bastante significativo, e estima-se que o país levará alguns anos para se recuperar. Na alimentação escolar, como as aulas foram interrompidas, estamos distribuindo cestas para as famílias para continuar apoiando as crianças nesse momento e incentivá-las a dar continuidade aos estudos. Além disso, tivemos que ajustar as nossas operações para incorporar adotar protocolos de distanciamento, higiene e para evitar aglomerações na implementação de nossas atividades, conforme as regras estabelecidas pelo Governo de Moçambique. Desde o início da pandemia, Moçambique registrou um total de 10,258 casos, e 73 óbitos. O governo adotou diversas medidas de prevenção e estabeleceu um estado de emergência por alguns meses para responder adequadamente à pandemia e impedir a propagação do vírus. Embora esses números sejam bem menores que os do Brasil, temos que colocar em contexto que, como outros países africanos, Moçambique não tem um sistema de saúde com a mesma capacidade de resposta.

Saiba mais sobre o PMA

Quando o Programa Mundial de Alimentos começou?

O PMA foi criado em 1961 a pedido do então presidente dos Estados Unidos, o republicano Dwight Eisenhower. A princípio, tratava-se de um experimento para testar a capacidade da ONU de entregar ajuda humanitária alimentar.

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A primeira operação aconteceu em 1962, no Irã, quando um terremoto que atingiu a região noroeste do país deixou mais de 12 mil mortos. Em 1965, o PMA ganhou status permanente. Sua sede fica em Roma, na Itália.

O que o PMA faz?

Ele é o braço da ONU dedicado à entrega de assistência alimentar em emergências humanitárias. Ele também desenvolve trabalhos com comunidades de todo o mundo para melhorar os índices de nutrição e garantir segurança alimentar.

Segundo a ONU, o programa tem 5.600 caminhões, 30 navios e quase 100 aviões entregando alimentos todos os dias. Em 2019, o PMA ajudou 97 milhões de pessoas. Durante a pandemia do novo coronavírus, o programa enviou ajuda médica a mais de 120 países, além de transportar trabalhadores humanitários e da saúde em regiões onde os voos comerciais foram suspensos.

Onde ele atua?

Atualmente, o PMA atua em emergências alimentares em duas regiões e quatro países: Sahel (África) e nordeste da Nigéria; República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Síria e Iêmen.

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De onde vêm os recursos?

O PMA tem o segundo maior orçamento entre as agências da ONU, ficando atrás apenas do Departamento de Operações de Paz. Em 2018, recebeu US$ 6,8 bilhões (R$ 37,5 bilhões no câmbio atual), o equivalente a 13% do orçamento total das Nações Unidas. O PMA é financiado também por doações voluntárias, principalmente de governos, mas também de empresas e doadores privados. Em 2019, arrecadou US$ 8 bilhões (R$ 44,2 bilhões).

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