A caminho da sala da assessoria de imprensa da Arena Condá, Jakson Follmann reclama de dor nas costas. Ela é uma das constantes lembranças do acidente aéreo que completa dois anos hoje. Próximo a Medellín, na Colômbia, o ex-goleiro foi um dos seis sobreviventes encontrados em meio às 71 vítimas fatais do voo da LaMia, quando a Chapecoense se preparava para disputar a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.
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Se a dor é um problema, a força de vontade é a solução. Assim como a Chape trabalha dia após dia para se reconstruir após a tragédia, o ex-jogador supera os obstáculos para alcançar os novos objetivos que aparecem adiante.
– Eu tinha duas opções: ou ficava sempre como vítima ou tocava em frente. A gente nunca esquece o que aconteceu. Mas tenho uma história dentro do clube e tento olhar para frente, sorrindo. A gente sabe que é difícil, mas não vai nascer uma nova perna. Tenho orgulho de ser usar prótese e ser deficiente. Agradeço a Deus pela oportunidade de estar me aperfeiçoando, de fazer o bem e fazer uma nova história – disse Follmann, que usa uma prótese no lugar da amputada perna direita, tem um parafuso na vértebra C2, na região do pescoço, além de uma haste de 26 centímetros no tornozelo direito.
Nos últimos dois anos, Follmann resolveu seguir em frente, sem, é claro, esquecer o episódio e os amigos que perdeu. Fazer o bem virou uma missão que deu novo sentido ao fato de ser um sobrevivente de acidente aéreo. Visita hospitais e conversa com pacientes acidentados como forma de gratidão pelo apoio que recebeu logo após a tragédia. Além disso, fala muito com as pessoas pelas rede sociais, onde tem 445 mil seguidores.
– Acredito que posso ajudar a vida dos outros. Onde a gente vai, tenta deixar uma mensagem positiva. Assim como fui auxiliado, penso que ajudar os outros não tem preço. A gente ficou para ajudar o próximo – destaca.
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Bom humor para superar a dor

O ex-goleiro é um exemplo de como superar uma adversidade com bom humor. Se em uma hora ele brinca que está com cãimbra na prótese, na outra faz vídeo dançando em cima da cama. A foto em que usa a prótese como se fosse um pau de selfie (apelidado de “pé de selfie” por ele) foi uma das que mais repercutiu. Em Roma, até brincou de capoeira com Alan Ruschel, outro sobrevivente.
– Tiro sarro comigo mesmo, pois me faz bem. Vejo que é bacana e acabo ficando feliz com isso. Minha foto do pé de selfie teve 686 mil visualizações. Na Itália, lutando capoeira, foram 684 mil visualizações. Procuro mostrar para as pessoas que levo uma vida normal – conta.
Mas nem sempre o embaixador da Chapecoense consegue manter a mesma disposição. Às vezes, ele pensa na carreira interrompida. Mesmo assim, acompanha os treinamentos todos os dias. Nessa fase difícil da Chapecoense, em que o time luta contra o rebaixamento, pediu para viajar junto para dar apoio, mesmo sentindo dores.
– Minha vida está bastante intensa e eu busco isso para não pensar em coisas ruins. Assim, estou voltado a ajudar o próximo. Muitas vezes, cheguei em casa e chorei. Não tem como não ter saudade. Tenho momentos de tristeza, mas tudo depende da forma como se encara a vida. É difícil, mas as ações que faço me reconfortam – destaca Follmann, que recentemente tatuou no braço sua imagem de prótese, com a camisa 40 com a qual jogava, protegido pelo Espírito Santo.
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Assim como a Chapecoense ainda está com o futuro indefinido no futebol, com a luta para não ser rebaixado, Follmann também não sabe qual profissão vai seguir, mesmo que há um ano tenha virado sócio de um empreendimento que atua na área de próteses em Chapecó. Seu contrato com o clube vai até fevereiro de 2021. O embaixador, cargo simbólico que assumiu, está se preparando para um dia ser dirigente.
Nos últimos tempos, ele se tornou a cara da Chapecoense por onde passa, sendo o emissário do clube no País e no exterior: recebeu o Prêmio Laureus na Suíça, esteve na premiação dos melhores do ano da Fifa em Londres e também foi abençoado pelo Papa Francisco no Vaticano.
Certamente não poderia haver um representante melhor para o Verdão do que alguém capaz de mostra que, mesmo com todas as dificuldades e tristeza, é possível seguir em frente com um sorriso no rosto.
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