O cheirinho de pão fresco que vem do térreo de um sobrado na Avenida Brasil, Bairro Bela Vista, em São José, atormenta ainda mais o repouso absoluto do padeiro Luiz Carlos Leandro, 46 anos. Para quem está acostumado a trabalhar 14 horas por dia na panificadora da família, a recuperação de cinco costelas fraturadas e um ferimento na cabeça é uma agonia só vencida pelos sedativos para a dor.
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Luiz paga o preço por ter se revoltado como qualquer trabalhador assaltado e ter se indignado como qualquer pai que vê o filho ser passado pra trás. Na última sexta-feira, o comerciante foi atropelado na BR-101 ao perseguir um assaltante que roubou o celular do filho caçula, Guilherme, 16, no balcão da panificadora. Acidente que foi registrado em imagem, fornecida pela Polícia Rodoviária Federal.
Confira o vídeo do acidente:
– Foi um susto! Só deu tempo dele falar meu nome e o telefone para a primeira pessoa que prestou socorro. Quando cheguei no local tinha uma poça de sangue e, apesar do estado de choque, ele estava respirando normalmente – contou a mulher de Luiz, Rosinei Meurer Leandro, 40 anos.
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O casal que estava no veículo ainda liga para saber como Luiz está. Domingo ele recebeu alta no Hospital Regional e voltou para o sobrado, após sessões de morfina a cada três horas em dois dias de internação. Na panificadora onde Rose chama os fregueses pelo nome, todos perguntam como está o padeiro e porque ele tomou aquela atitude.
– Nem ele sabe dizer porque. Quando meu filho chamou a atenção do assaltante, ele já saiu pelo balcão atrás do sujeito – lembra Rosi.
Família unida para manter padaria
A Panificadora Rainha de Rose e Luiz existe na Avenida Brasil desde antes da união do casal, há 20 anos. Os três filhos estão sempre por ali, ajudando na produção dos pães, bolos e demais produtos caseiros. Com o padeiro enfermo, todos se uniram para manter o estabelecimento de portas abertas. Sobrou para Luiz Gustavo, de 18 anos, assumir as funções do pai a partir das 6h30min de ontem.
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– Eu só ajudava, mas agora tenho que fazer o trabalho dele. Mas ele é um ótimo pai, merece – disse o filho.
O assalto de sexta não foi a primeira vez que o local de sustento da família Leandro foi alvo de criminosos. No final de 2012 um furto durante a madrugada e um assalto a mão armada podem explicar o impulso de Luiz na última sexta-feira.
– Ele estava estressado e foi resolver sozinho. Quando fomos assaltado, no ano passado, a polícia veio aqui e não adiantou nada – disse Rosi, que nem registrou boletim de ocorrência.
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Nunca reaja em um assalto
A reação de Luiz não deve ser exemplo. Poderia ter acabado pior, como ele mesmo reconheceu depois do acidente. Conversamos com o especialista em Segurança Pública, coronel Eugênio Moretzsohn, sobre como agir em uma situação de assalto.
– Por toda indignação que um fato deste provoca, a primeira reação depois de uma covardia desta é correr atrás do bandido ou tentar reagir. Mas o indicado é chamar a polícia e passar o maior número de detalhes sobre o assaltante: roupa, cor do cabelo, estatura, se tem tatuagens, barba, etc. Nunca reaja. Você é surpreendido e não tem tempo para analisar os riscos que está correndo. Pode ter um segundo criminoso na história. Nem eu, que sou um profissional da segurança pública, reajo em uma situação de assalto. Então, entregue tudo o que for pedido e livre-se logo do assaltante, preservando a vida. Não piore o que já está ruim – orientou.