Numa destas tardes outonais, descia pela Trompowski, na Capital, dobrando a esquina da Bocaiúva, de olho no casarão e na arborização estupenda e bem conservada pela família Von Wangenheim e em seguida as instalações da Polícia do Exército, onde nos anos 60, funcionou a Reitoria da UFSC.
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Neste dia comemorava-se os 50 anos do golpe militar. Parei em frente e fui arremetido a 1963, quando, indicado pelo então governador Celso Ramos, fui nomeado pelo reitor João David Ferreira Lima para implantar a Imprensa Universitária da UFSC. No ano seguinte, irrompeu o golpe, deixando-nos, a maioria, temerosos, pois uma minoria “linha dura”, ligada aos militares, e grupos da “direita” buscavam denunciar indiscriminadamente supostos esquerdistas e comunistas: foi momento de “vendettas”, de delações vazias, de ódios e antigas mágoas.
Por imposição – ou sugestão interna -, o 5º Distrito Naval instaurou uma comissão de inquérito na Reitoria para encontrar e punir os subversivos. Fui intimado para fazer defesa e depor. O meu vizinho desembargador Alves Pedrosa ficou indignado com a acusação – ele que fora meu professor na Faculdade de Direito. Na sua Regminton, produziu a minha defesa em três laudas, segredo que mantive até depois do seu falecimento.
Fui à audiência respondendo monossilabicamente às perguntas idiotas que no fundo buscavam uma possível delação de minha parte de possíveis esquerdistas ou subversivos na Reitoria ou entre amigos e conhecidos. Fui saber depois que ficara marcado pelos “donos do poder” por ter escrito artigo em A Gazeta: De Pitecamtropos e de Outros.
Ao que consta, ninguém foi punido pela frustrada comissão. Em 1965 fui aprovado em concurso para auxiliar da disciplina Direito Processual Civil. Constatei, depois, que dois alunos pertencentes à PF foram introduzidos nas aulas para espionar e verificar se fazia proselitismo político de esquerda. A constatação foi confessada por um dos agentes que ao final do curso tornou-se meu amigo. A perseguição, disse, era pelos meus artigos na A Gazeta, local, e Gazeta do Povo, de Curitiba, frustrando os meus algozes do golpe.
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