O crescimento das cidades – e Joinville faz parte deste contexto – não permite que pensemos o trânsito privilegiando o individual. O planejamento deve priorizar o trânsito de forma coletiva, ou seja, proporcionando mobilidade ao maior números de pessoas. Os números estão aí. Nos últimos 11 anos, a frota de Joinville tem aumentado em média 8% ao ano. Dos 150 mil veículos de 2002, hoje já passou de 330 mil – mais do que o dobro. Já o crescimento dos espaços urbanos para o trânsito de Joinville não tem acompanhado o aumento da frota de veículos. E querer fazer pensando em atender o fluxo de veículos individuais é impraticável. Teríamos que recomeçar Joinville praticamente do zero.

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As cidades precisam se reinventar na questão de mobilidade urbana, sempre com foco no transporte de massa. Hoje todos percebem e são diretamente afetados pela lentidão do trânsito, mas ninguém quer abrir mão de se locomover de forma individual. E está cada vez mais difícil, pois todos querem ir para o mesmo lugar, na mesma hora. Imaginemos o Centro de Joinville, se para lá fossem de carro as 30 mil pessoas que hoje utilizam o transporte coletivo. Seria um caos, com prejuízo para todos.

A visão de desafogar o trânsito não é necessariamente a mesma de mobilidade na cidade. Quando olhamos para as ruas e pensamos em duplicar ou alargar para poder absorver mais veículos, os resultados são de curta duração. A mobilidade passa pela mudança de cultura, priorizando o coletivo sobre o individual motorizado. Os desafios para os planejadores das cidades é como oferecer mais espaço nas ruas, quando se tem uma cidade já definida. Olhando as projeções das vendas da indústria automobilística, é o desafio maior de toda a sociedade.

Na projeção dos próximos dez anos, o melhor modelo é a utilização do ônibus. De piso baixo, com o conforto oferecido pelo carro e velocidade compatível com as exigências do mercado. A malha viária do transporte coletivo deve acompanhar essas mudanças.

Hoje, soluções como a duplicação da avenida Santos Dumont, ou da rua 15 de Novembro, no Vila Nova, são obras mais que necessárias. Mas, se não estiverem associadas ao transporte coletivo de massa, o resultado x investimento por cidadão transportado fica muito elevado e de curto prazo.

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Para pensarmos no futuro não distante, devemos também mencionar o eixo Norte/Sul que liga o aeroporto à futura UFSC, o binário da avenida Hermann A. Lepper com a Beira-Rio, rua Urussanga com Procópio Gomes e a duplicação da rua Florianópolis até a avenida Paulo Schroeder, um anel viário que transfere sem a necessidade de passar pelo centro e até a integração da BR-101 no contexto “doméstico” para dar alguns exemplos.

Para além dos dez anos, acreditamos que os modais de transporte serão bem diferentes dos atuais, talvez não na forma, pois os Transporte Rápido por Ônibus (BRTs) hoje dão suporte à movimentação de massas dez vezes maior que Joinville a um custo inferior aos ferroviários, mas na concepção de conceitos de poluição ambiental, adotando veículos híbridos. Teremos veículos menos poluentes e mais eficazes na melhora da mobilidade. Os VLP ou T (Veículo Leve sobre Pneu ou Trilho) devem ser definidos a partir do crescimento econômico e populacional que teremos no futuro.

Bogotá, na Colômbia, Cidade do México e Zhengzhou na China são exemplos de melhoria no sistema de transporte com a adoção do BRT. Os Estados Unidos têm como política prioritária de seu departamento de transportes incentivar e dar suporte a esse tipo de sistema em cidades com maior número de carros. A própria China, hoje, é exemplo de que os investimentos em novas modalidades e em obras de engenharia dão certo. Os países europeus têm adotado soluções sobre trilhos para os transportes. O custo da tarifa oscila entre 3 e 5 euros, mas o passageiro paga em média 1 euro pelo serviço. O restante do valor é subvencionado pelo Estado. O modelo tarifário brasileiro também deverá ser repensado, seguindo as tendências mundiais, já que o Brasil ainda deve uma política para o transporte público.

Em resumo, nada dispensa o planejamento pautado no Plano Diretor do município, com a realização de obras de engenharia, que preveem construção de viadutos, túneis, desapropriações e alargamento de vias. Mas somente as obras de engenharia não bastam para melhorar a mobilidade na cidade. É preciso, ao longo do tempo, haver uma mudança cultural, com as pessoas entendendo a importância do transporte coletivo para agilizar os deslocamentos na cidade, tornando-as mais humanas.

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*Alcides Bértoli é diretor geral da Gidion. Engenheiro mecânico formado na Universidade de Taubaté, é pós-graduado em gestão empresarial (Fundação Getúlio Vargas) e em administração de produção e materiais (Universidade de Taubaté/INPG).