Se perguntar aos moradores da Freguesia do Ribeirão da Ilha quais são os maiores patrimônios do bairro, a resposta será: as ostras e o Floripa Instrumental. Pelo quinto ano consecutivo o festival de música será realizado no ponto mais ao sul de Florianópolis, com a participação de grandes nomes da música, como o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo e o Trio Curupira (SP), além dos catarinenses do Rivo Trio, Cássio Moura Quarteto e Arnou de Melo Trio. O evento ocorre de hoje a domingo, de graça, e desta vez com a centenária Igreja Nossa Senhora da Lapa restaurada. A abertura será marcante com a volta do grupo Dr. Cipó.
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Formada no final dos anos 90, a banda foi um expoente na cena instrumental do Sul do Brasil e influenciou toda uma geração de músicos brasileiros. É composta por cinco instrumentistas, cada um vindo de um lugar do país, entre eles dois bem conhecidos na Capital: o violonista Guinha Ramires e o acordeonista Bebê Kramer, atualmente radicado no Rio. Além deles, Endrigo Betega (bateria), Ronaldo Saggiorato, o Gringo (contrabaixo), e Mário Conde (guitarra, violão tenor e bandola).
Há quase sete anos o grupo não se reunia, muito em razão de cada integrante ter se dedicado a projetos paralelos e em cidades diferentes.
– Eu tinha meus 19, 20 anos, já morava em Florianópolis e frequentava a cena instrumental da cidade. Conheci então o Guinha e o Gringo. Um dia eles estavam tocando no extinto Café dor Araçás, na Lagoa da Conceição. Eram ídolos. Nos encontramos e o Endrigo chamou para tocarmos juntos – lembra Bebê Kramer.
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Naquela época eles faziam o circuito Florianópolis – Curitiba, até que em uma apresentação no Festival de Música de Itajaí um produtor paulista ficou maravilhado com o som original do Dr. Cipó. Pronto. Foi o passaporte para brilharem no Sudeste do país.
– O grupo tem muita influência de todos os grandes compositores e cancioneiros do Brasil, mas o interessante é o sotaque sulista. Na época era uma coisa original, diferente – diz Kramer.
O trabalho da banda, que lançou três discos, foi um divisor em Santa Catarina, porque elevou a música instrumental do Estado a um patamar técnico, bem estudado, virando referência para músicos da nova geração.
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Para Antonio Floriano, produtor e um dos mentores do Floripa Instrumental, o Dr. Cipó foi fundamental para a cena nacional, e a sua volta é um marco para o festival:
– Antes a música brasileira instrumental era muito embasada na tradição do samba, choro e bossa, tinha a turma dos mineiros, a de São Paulo. Então eles vieram com um som autoral e de forte matriz do Sul. A dinâmicaé diferente, de tirar o fôlego, cheia de virtuosismo. Música quase que colorida e viva.
FENG SHUI SONORO
De São Paulo, o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo é considerado um dos grandes nomes do Brasil e sua música é fortemente embasada na intuição. Espirituoso e grande entusiasta do Floripa Instrumental, é fã do Ribeirão da Ilha.
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– Foi Deus quem inventou isso – disse, em entrevista por telefone.
Na última quarta-feira ele estava em Itajaí, onde fez show e deu aula na Univali, e enquanto expressava encantamento com o Mercado Público da cidade, falou sobre seu modo de tocar:
– A música funciona no meu corpo, na minha alma. É como minha respiração. Às vezes mais calma, às vezes mais ofegante. A inspiração entra por esses canais da respiração. Você respira com sentimento junto. Essa é a busca. Toco muitos instrumentos buscando isto, a linguagem da alma. É um feng shui sonoro.
Arismar faz show domingo no festival, depois da nativa e centenária Banda da Lapa. Será um encontro inédito com Nailor Proveta (sax e clarinete), os violonstas Rogério Caetano e Arthur Bonilla (violão sete cordas), o bandolinista Geraldo Vargas, além dos chorões Marcos Portella, Fabrício, Rafael Gaucer e Bernardo Senz.
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A música de Arismar do Espírito Santo:
Na segunda-feira ele também apresenta em Florianópolis o novo trabalho, Songbook Arismar, livro com 15 composições do instrumentista. O show, que faz parte do projeto Musicasa, será no Coisas de Maria João, em Santo Antônio de Lisboa. A apresentação terá participação de Guinha Ramires, Cássio Moura e Richard Montano.
SÁBADO COM TRIO CURUPIRA
Amanhã os paulistas do Trio Curupira abrem os trabalhos no festival. O grupo surgiu em 1996, a partir do feliz encontro de ideias e afinidades sonoras de André Marques (pianista do grupo de Hermeto Pascoal desde 1994), Fábio Gouvêa e Cleber Almeida. A base do trio é música brasileira genuína, com sonoridade densa que percorre diferentes ritmos do país, mas referenciados na música erudita, no jazz, na música árabe e no flamenco.
Uma das características é a enorme variedade de timbres, por conta da grande troca de instrumentos. Eles se apresentam tradicionalmente como trio (piano, baixo e bateria), mas também com outras formações, incluindo flautas, cavaquinho, guitarra, percussão, escaleta, entre outros.
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PROGRAMAÇÃO
Sexta
21h: Dr. Cipó (RJ, SC, PR, SP)
22h: Rivo Trio (SC)
23h: Cássio Moura Quarteto (SC)
Sábado
21h: Trio Curupira (SP)
22h: Arnou de Melo Trio(SC)
23h: Jam Session
Domingo
17h: Banda da Lapa (SC)
18h: Roda com Arismar do Espírito Santo (SP), Rogério Caetano (RJ), Arthur Bonilla (RS), Nailor Proveta (SP), Geraldo Vargas e chorões da Ilha (SC)
Agende-se
O quê: Festival Floripa Instrumental
Quando: hoje e sábado, a partir das 21h, e domingo, a partir das 17h
Onde: Freguesia do Ribeirão, Ribeirão da Ilha, Florianópolis
Quanto: gratuito
Informações: facebook.com/FloripaInstrumental