Em 1982, o violonista Guinha Ramires deixou Carazinho (RS) e chegou a Florianópolis com seu violão, roupa simples de ir comprar pão na esquina, jeito calmo de falar. Desceu o Morro da Lagoa da Conceição e apaixonou-se pelo lugar. Ficou louco por camarão, ostra e marisco (nesta ordem) e passou a estampar no rosto um sorriso leve de felicidade.
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Trinta anos depois, no final de fevereiro, um Guinha com 55 anos, que já tocou com grandes nomes da música no Brasil de cabo a rabo, nos Estados Unidos, Argentina e outros cinco países, morou na Áustria, fez sucesso no Japão. Hoje, está do mesmo jeito. É o avesso daquela pessoa que passa um fim de semana no Rio e volta com sotaque carioca.
Guinha havia mudado o mundo com seu violão, mas o mundo não havia mudado Guinha. O cara que só fala português tinha dado a volta no planeta usando como alfabeto as sete notas musicais. Provou plateias, sabores e prazeres, mas sempre voltou para o ponto de partida: a sua Lagoa formosa, ternura de rosa…
– Na Croácia, entrei em um restaurante, pedi peixe, mas não deu certo. O gosto é bem diferente. Prefiro o que eu faço aqui em casa. Em Viena (Áustria), morei quase um ano e, no inverno deles, fiquei dois meses sem ver o dia. Aí, não deu, né? – gargalhou ele, enquanto costurava o papo com frases no violão.
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Guinha crê na força mística da cidade que o conquistou. E quando ele fala em cidade, restringe-se à Lagoa. Diz que é lá que encontrou a paz emocional, o trânsito livre pelos palcos em shows ou canjas, onde namora e curte os filhos Cauê, 25 anos, e Luiza, sete.
– O alemão, quando vem pra cá, se solta. A argentina ranzinza fica mais aaaahhhhh!!!!! O paulista é um em São Paulo e é outro aqui. É esse clima que me prende. Como diz o poeta, quem ama cuida. E Guinha tem orgulho em dizer que quando vê um saco plástico jogado na rua, recolhe. Diz que quer que outras pessoas aproveitem a cidade tanto quanto ele aproveita.
– Floripa é do mundo, não tem jeito. E a Lagoa é a terra que eu pedi a Deus.