Paralisações, povo nas ruas sem transporte coletivo, reuniões tensas e, ao final, acordo e conquistas para trabalhadores e motoristas. Tem sido assim ao longo dos últimos anos em Florianópolis. Na manhã de quinta-feira, por três horas e meia os ônibus não circularam. Houve tensão nos arredores do Terminal de Integração do Centro (Ticen). A Polícia Militar teve de agir para evitar confusão envolvendo usuários inconformados com a falta de locomoção que ameaçavam bloquear as pontes.

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Novas paralisações poderão ocorrer nesta sexta e sábado. Os horários não serão divulgados pela categoria por medo de represálias, mas Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano (Sintraturb) afirmou que as paradas-relâmpago serão feitas fora dos horários de pico.

Cobradores estão no centro da discussão

O ponto central da reivindicação deste ano vai além da questão salarial e gira em torno da não demissão de 700 cobradores – 350 em Florianópolis e 350 na região. À tarde, o prefeito Cesar Souza Junior assinou um decreto para proibir desligamentos, a não ser que sejam a pedido do próprio funcionário, por justa causa ou relacionados a eventual demissão incentivada pelas empresas.

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Ao longo dos anos, enquanto as greves se repetem, o Sintraturb – que tem entre os dirigentes integrantes articulados e dispostos a ir até o fim nas negociações com empresários, mesmo que o sacrifício custe a interrupção do serviço – marca pontos. Aumento real desde 2009 chega a 9,17% Levantamento feito pelo DC mostra que a categoria alcançou de 2009 para cá reajuste salarial de 38,79%, sendo 9,17% de aumento real.

Para José Álvaro Cardoso, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina, os ganhos obtidos não refletem nada anormal em comparação a outros sindicatos pelo Brasil. O Sintraturb também obteve redução de uma hora na carga horária diária (atualmente em seis horas e 20 minutos), reajustes de 50% acima do INPC no vale-alimentação (hoje em R$ 460), conforme o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano da Grande Florianópolis (Setuf).

Hoje o salário de um motorista de ônibus na Capital é de R$ 1,7 mil, mais a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 30% do salário recebido a cada seis meses desde 1998, de acordo com o Setuf.

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Sindicato diz que ganhos são insuficientes

Para o Sintraturb, os ganhos reais são insuficientes e não somam nem 2% ao ano desde 2009. Além disso, a categoria afirma que os aumentos no vale-alimentação têm sido apenas pelo INPC, abaixo da taxa que regulamenta o reajuste do valor dos alimentos.

Sobre a discussão envolvendo uma possível demissão de cobradores, o Sintraturb trata a questão como uma desculpa das empresas para que o valor da tarifa seja reduzido agora e aumentado no próximo ano.

Vitórias e derrotas do sindicato

O advogado Antonio de Arruda Lima, presidente da comissão de Transportes e Mobilidade Urbana da OAB/SC, lembra que houve conquistas pelo Sintraturb mediante direitos legais e pré-existentes, mas também derrotas. Ele cita como exemplo de perdas o dissídio coletivo do ano passado, imposto judicialmente, e multa de R$ 300 mil fixada pela Justiça do Trabalho.

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– A Constituição garante paralisação, mas é preciso ter bom senso e não utilizar a população como massa de manobra. Trata-se de um serviço essencial e é preciso ter equilíbrio, garantindo o acesso aos usuários ao menos nos horários de pico – diz Arruda.

Colaborou Ânderson Silva

Imagens da paralisação desta quinta-feira:

Duas mulheres foram atropeladas durante a confusão da manhã desta quinta no Ticen:

População se manifestou no Ticen nesta quinta-feira: