Em média, oito celulares foram furtados por dia em 2022, em Florianópolis. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), entre janeiro e dezembro do ano passado, 3.266 casos foram registrados — a maioria na região Central e no Norte da Ilha. Para especialistas, a facilidade na execução do crime e na venda do smartphone está entre os motivos que explicam o grande número de ocorrências. Em contrapartida, forças de segurança esbarram na dificuldade de identificar a autoria e recuperar o objeto.

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Conforme os dados, houve aumento de 69,83% no número de furtos no ano passado ao comparar com o mesmo período de 2021, quando 1.923 casos foram registrados. A reportagem solicitou dados de 2020 e 2019 – período pré-pandemia – para comparação, mas não teve retorno até a publicação.

O que fazer se tiver o celular roubado na rua

Em 2022, 32% dos casos ocorreram no Centro da cidade. Entre janeiro e dezembro, 1.059 furtos foram na região. Entre as vítimas está Ângela Prestes, de 30 anos. A jornalista estava com amigos, participando de um evento ao ar livre próximo a Praça XV de Novembro em abril, quando percebeu o sumiço do aparelho.

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— Eu estava no meio do show, que estava bem lotado, com uma bolsa com zíper. Minha amiga quis sair um pouco, já que tinha muita gente. A bolsa estava virada para frente, mas eu não estava cuidando dela, só estava caminhando no meio da galera. Quando eu cheguei na praça, sai da multidão, vi que a bolsa estava aberta e que meu celular não estava mais ali — explica.

Esta foi a primeira vez que ela teve o celular furtado em Florianópolis. No mesmo dia, ela fez o boletim de ocorrência e trocou as senhas, porém não conseguiu recuperá-lo. Uma situação semelhante ocorreu com João Rafael Fronza, mas em outra região da cidade. Em dezembro, ele participava de uma festa em um beach club localizado em Jurerê quando teve o celular furtado – no bairro, segundo dados da SSP, foram 410 ocorrências no ano passado, o que representa 12,55% dos casos.

— Eu estava no camarote, mas quase no final da festa fui pra pista. Quando eu tentei pegar o meu celular para ver se tinha algo, não tinha mais celular. Ao virar para trás, senti alguém mexendo no meu bolso e vi um cara com meu celular. Tentei arrancar da mão dele, mas ele me ameaçou — conta.

Ele diz que chegou a chamar os seguranças da festa, que o informaram que só poderiam atuar em caso de flagrante. João também não conseguiu recuperar o celular.

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Centro e Jurerê lideram lista de furtos em Florianópolis – (Foto: Tiago Ghizoni/Diário Catarinense)

Como ocorre o furto

O furto de celular, no entanto, não fica restrito às duas regiões. Conforme os dados da SSP, dos 122 bairros e localidades da capital catarinense, 71 tiveram registro de furtos de celulares na capital catarinense em 2022. O Centro e o Norte, no entanto, concentram o maior número de ocorrências, com 1.434 e 954, respectivamente. (confira o mapa abaixo)

— Um dos motivos (para o grande número no Centro) é a quantidade de pessoas. Imagina-se, por exemplo, que aqui ele gira em torno de 300 mil pessoas, e tem uma população flutuante decorrente de usuários dos poderes públicos, do comércio, dos colégios — explica o tenente-coronel André Rodrigo Serafin, comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela região central da cidade.

Ele pontua que, além das ocorrências em ambientes públicos, o furto de celulares na região também ocorre em comércios ou em áreas de praia, com crimes que acontecem por meio do arrombamento de veículos.

— Por exemplo, a atendente deixa o celular em cima do balcão, a pessoa entra, pede alguma coisa, e quando ela se vira, a pessoa furta o celular. Isso à luz do dia. Ou no Uber, deixou de lado, esquece, e não tem o celular devolvido. Ou a pessoa está no bar, deixa em cima da mesa, se levanta para dançar, o cara que está na mesa do lado fica de olho, fica ali esperando a oportunidade e leva o aparelho — diz.

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Já na região Norte da Ilha, os casos ocorrem principalmente em festas privadas, onde não há atuação dos órgãos de segurança e, às vezes, ficam subnotificados, como explica o 2º tenente Igor Tremel Oliveira, do 21º Batalhão de Polícia Militar.

— Como a gente não atua, fica a cargo dos seguranças. O que acontece muito são as cifras negras, já que grande parte (dos casos) não são relatados, não geram boletins de ocorrência e não chega a nosso conhecimento — explica.

O que desperta o interesse dos criminosos?

Para o professor e ex-secretário de Segurança Pública de Santa Catarina, Alceu de Oliveira Pinto Júnior, a venda clandestina do aparelho ainda é o principal motivo para a prática do crime, mas também há casos onde o autor furta o celular com o objetivo de trocar por drogas ou alimentação, dependendo da situação.

— A maioria é para o mercado informal dos celulares. Pelo tamanho dele, é um bem atrativo para esse tipo de criminalidade. Existem casos onde eles levar para pontos de tráfico e trocam o aparelho por droga. Além disso, existe a questão dos aplicativos de banco, que desperta o interesse, no qual a pessoa tenta o desbloqueio para ter acesso a informações — pontua.

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Ele explica, ainda, que apesar de ser um crime de oportunidade, existem grupos que são especializados neste tipo de furto. Conforme a Polícia Civil de Santa Catarina, há informações de pessoas que costumam ir a grandes eventos justamente para a prática do delito.

— Por exemplo, um combina de pegar, outro de guardar, levar para outra cidade. Enquanto acontece os eventos, há uma habilidade surpreendente onde eles conseguem subtrair o aparelho sem que a vítima perceba — salienta a delegada Michele Alves Correa Rebelo, diretora de Polícia da Grande Florianópolis.

Outra questão é a dificuldade na investigação e, consequentemente, na recuperação do aparelho, já que na maioria dos casos não é possível identificar o autor do furto. Mesmo assim, o professor Alceu de Oliveira enfatiza que o registro da ocorrência é importante, principalmente para o mapeamento de ocorrências.

— Esse tipo de ação de difícil investigação, principalmente pelo celular ser dispensável. Mas por vezes a pessoa não faz o registro de ocorrência. Mas ele é importante não porque a polícia vai recuperar, mas consegue fazer o mapeamento onde tem informações de uma quadrilha ou para receptação da venda desses celulares depois — pontua.

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Furtos de celulares no pré-Carnaval de Florianópolis geram insegurança e acendem alerta

Receptação também é problema

Os órgãos de segurança pontuam para outro crime que pode ocorrer por meio do furto de celulares: a receptação. Previsto no art. 180 do Código Penal, o delito consiste em adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar ” em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”. A pena é de um a quatro anos de reclusão, além do pagamento de multa.

— As pessoas acabam comprando os celulares, por um preço muito irrisório, e acaba ocorrendo o crime de receptação por saber da origem ilícita. Por isso é importante alertar, porque ela vai ter que provar que não sabia disso, ao contrário, ele poderá responder pelo crime — pontua a delegada Michele.

Entre as dicas está a verificação da origem do produto, a desconfiança com o preço do aparelho e a existência de nota fiscal.

Cuidados são essenciais

De acordo com o secretário Municipal de Segurança Pública, Coronel Araújo Gomes, a pasta tem acompanhado os números e criado ações preventivas com o intuito de diminuir os índices. Entre eles está o Projeto Sentinela, que prevê a contratação de câmeras de monitoramento em diversos pontos do município.

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Outra ação é o aumento das fiscalizações, por parte da Guarda Municipal, de vendedores ambulantes com o objeto de identificar supostos produtos que podem ter origem de furtos.

— Uma recomendação é que as pessoas tenham registrado o código ID, que individualiza o aparelho e permite a sua desativação, além de habilitar a função que permite localizar o celular caso ele seja furtado. Outro ponto é sempre comunicar imediatamente a polícia, caso seja vítima desses crimes, porque nos primeiros momentos após o furto é mais provável uma ação da polícia – recomenda o secretário.

A Polícia Militar também orienta sobre outros cuidados como deixar o celular guardado, sem ficar à mostra em alguns ambientes, além de protegê-lo com senha.

— A forma principal de prevenção é o proprietário ter o cuidado com o aparelho. Quanto maior, mais cobiçado ele será — finaliza o professor Alceu de Oliveira.

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