Em um cenário de quase duas mortes violentas por hora nas capitais brasileiras em 2014, Florianópolis aparece com o segundo melhor índice do país, atrás apenas de São Paulo. Com 16,9 mortes para cada 100 mil habitantes – critério mundialmente utilizado para medir a violência -, a capital catarinense tem quase metade da média nacional (33) e também fica bem à frente das vizinhas Curitiba (32,4) e Porto Alegre (40,6).

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Os dados são do Anuário Brasileiro da Segurança Pública, organizados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e que serão divulgados nesta quarta-feira. O estudo foi feito a partir de pedidos às secretariais estaduais de Segurança Pública ou Defesa Social com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), além do cruzamento de informações disponibilizadas pelas secretarias na internet.

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O levantamento inclui números de homicídios dolosos (quando há intenção de matar), lesão corporal seguida de morte e latrocínio (roubo seguido de morte). Em termos absolutos, foram 68 mortes deste tipo em 2014 em Florianópolis, se igualando a Palmas e tendo Boa Vista como a única capital com um número menor, de 54 mortes.

– Uma primeira relação que fazemos na criminologia é com a cultura da população, e Florianópolis não tem uma cultura de enfrentamento. O tipo de urbanização também contribuiu, porque não temos muitas vias de acesso e rotas de fuga, o que se torna um inibidor de crimes. E também, sem dúvida, o trabalho das forças de segurança na repressão e principalmente na prevenção leva a esse resultado – avalia o professor de Direito da Univali e especialista em segurança, Alceu de Oliveira Pinto Junior.

Já para o coronel aposentado do Exército Eugênio Moretzsohn é preciso ficar atento às armadilhas que podem ser esses indicadores. Ele pondera que não há uma percepção de segurança na população e diz que uma boa classificação no ranking da violência significa pouco se comparado à realidade geral do país.

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– Parece a história do aluno que chega em casa e conta para os pais que tirou a maior nota da sala em Matemática: cinco. Ou seja, a turma não aprendeu nada, foi pessimamente na prova e a maior nota foi apenas esse cinco – argumenta.

Investimento na área de Segurança soma R$ 1,9 bilhão em SC

O levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública também aponta os investimentos de cada Estado em segurança pública no ano passado. Neste ranking, liderado pelos mais de R$ 10 bilhões de São Paulo, Santa Catarina aparece na nona posição, com pouco mais de R$ 1,9 bilhão em 2014. O número inclui gastos com policiamento, Defesa Civil e outras subfunções – deveria também contemplar o que foi aplicado em informação e inteligência, mas o recurso aplicado não foi divulgado pela SSP catarinense até a conclusão do estudo.

Novamente os especialistas divergem em alguns pontos quanto à avaliação deste resultado. Para o professor de Direito da Univali Alceu de Oliveira Pinto Junior, o indicador revela a adoção de uma política pública importante e que vem demonstrando certo sucesso, embora exista uma defasagem histórica e um longo caminho a se percorrer.

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– É reflexo de uma política pública que não tem segredo. É coisa de planilha, que se sabe que precisa ser feito e vem sendo implantando em SC. Mas não podemos chegar e achar que estamos muito bem e parar por aí. É necessário investimento contínuo para ampliar o efetivo da Polícia Militar e ampliar e capacitar o quadro da Polícia Civil – considera.

Já o coronel aposentado do Exército Eugênio Moretzsohn analisa que os recursos em segurança poderiam ser aplicadas de forma maior e melhor, mas reconhece que diante da realidade catarinense, de boas escolaridade e condições de emprego e renda, os índices de violência automaticamente são menores do que o resto do país:

– Nossa polícia não é a melhor do Brasil, mas isso não importa muito, pois a população certamente é. E falo com a autoridade de quem já morou em quatro das cinco regiões do Brasil. Aqui a segurança pública pode se dar ao luxo de investir menos que outros estados que não desfrutam dessa realidade.

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A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina foi procurada terça-feira para comentar o anuário, mas informou, via assessoria de imprensa, que só poderia se pronunciar nesta quarta, após ter acesso mais detalhado aos dados. A comunicação da Polícia Militar disse que avaliaria a possibilidade de comentar os resultados, mas que inicialmente apenas a cúpula da SSP falaria do estudo. O comando da Polícia Civil não foi localizado até a noite de terça-feira.