O nome é comum, mas também é forte e imponente. É nome de santo, de rio, de cidade, de gente importante. Para muitos, Chico pode ser Buarque, Xavier ou Anysio. Mas, para Florianópolis, só tem um: Chico Peixeiro, nascido Francisco Martiniano Jacques, fundador da Peixaria do Chico, que morreu ontem, aos 80 anos, depois de lutar contra um câncer de pulmão por 37 dias. Mas nada de tristeza. Chico se foi contando piadas, como sempre.

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Manezinho da ilha dos mais tradicionais, morava há 30 anos na Caieira da Barra do Sul, no Ribeirão da Ilha, mas viveu durante muitos anos na Costeira do Pirajubaé, quando o bairro ainda era conhecido como Pregibaé. Na década de 50, Chico começou a vender verduras no Mercado Público Municipal. Naquela época, os barcos paravam atrás do mercado e os vendedores chegavam cedo, pegavam um número e compravam alguns quilos de peixe para vender. Chico se interessou pelo negócio e pensou que poderia fazer a mesma coisa. Acordava às 4h e comprava a quantidade necessária de peixe para o dia. Sempre vendia tudo e foi assim até 1955, quando o mercado foi dividido em boxes e nasceu o primeiro filho de Francisco: a Peixaria do Chico.

Casou-se com Judite e com ela teve nove filhos: Luis Carlos, Jorge Luis, Sandra Mara, Amarildo, Francisco Carlos, Sandro, Marcelo, Jaqueline e Luciano. Todos trabalham no negócio da família, seja na peixaria ou no depósito que funciona na Costeira.

Para Marcelo, o bom atendimento do pai, sempre regado a muitas piadas e palavrões, foi o que consagrou a peixaria. Ele tinha um jeito especial de ser, muito autêntico e espontâneo, mas ninguém se ofendia com as brincadeiras dele.

– As pessoas o provocavam só para ouvir os palavrões, as piadas. Todo mundo ria quando ele estava perto- conta o filho.

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Apaixonado pela família, adorava estar na companhia dos filhos e dos 19 netos. Gostava de cozinhar para eles e, de acordo com familiares, o fazia muito bem.

– Nossa família teve milhares de dias felizes ao lado dele. Mas, se uma família com três filhos já tem problemas, imagina uma com nove! – lembra, bem-humorado, Marcelo.

Além de contar com os filhos para tocar a peixaria, Chico também dividia com eles a paixão por futebol e pelo Avaí. Fanático, era um dos maiores fãs do clube. Quando o time ganhava, a peixaria era só festa. Se perdia, os torcedores do Figueirense iam até o Mercado para rir da cara dele e fazer piadas, mas nem assim Chico deixava o bom humor de lado.

Sempre foi amigo dos jogadores e dos presidentes do Avaí. Assistiu todos os jogos que pode, tanto no antigo Estádio Aldolfo Konder, onde hoje é o Beiramar Shopping, como na Ressacada.

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– Lembro que o pai me mandava ir até o Adolfo Konder com uma caixa de peixe nas costas para o almoço dos jogadores – conta Marcelo.

Quando o Avaí conquistou o Campeonato Catarinense de 1975, os craques Orivaldo e Souza levaram para Chico Peixeiro uma camisa assinada por todos os jogadores, que ele ainda guardava com muito carinho.

Há alguns finais de semana, o ídolo do Avaí na década de 70, Juti, foi até a peixaraia levar um presente para Chico.

-É uma revista Placar, muito antiga e já amarelada, que ele guardava há 35 anos. Sempre quis entregar para o pai, mas nunca o encontrou. Em uma das reportagens da revista, eles falam de Chico Peixeiro-conta Marcelo.

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O velório foi realizado ontem, às 17h, no Cemitério Municipal São Francisco de Assis, no Itacorubi, em Florianópolis. Chico será sepultado hoje, às 11h, também no Cemitério do Itacorubi. Como ele mesmo pediu, será enterrado vestindo a camisa do Avaí e a bandeira do time será colocada em cima do caixão. Para homenageá-lo, todos cantarão o hino oficial do Azulão durante o enterro.