Os humanos contam pequenas histórias desde tempos imemoriais. Animais de linguagens múltiplas, somos todos contadores de histórias. Mas alguns, com técnica e voz própria, transformam pequenas histórias em obras de arte: os contistas. Com poucas palavras perseguem a essência de uma imagem (Cortázar irmanava o conto com a fotografia), de vidas inteiras (como Tchekov) ou até de um universo (como Borges). Um conto é sempre um recorte muito preciso: geralmente com poucas personagens, mas com uma ideia ou imagem que dança pela narrativa. É a arte do mínimo.

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O Brasil tem grande tradição no gênero: nomes como Machado de Assis, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Samuel Rawet escreveram clássicos das formas breves. Inclusive hoje, os melhores escritores brasileiros vivos são contistas: Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Luiz Vilela e Sérgio Sant’Anna. Mas por incrível que pareça, o mercado editorial brasileiro (iludido pelo imediatismo e lucro fácil e não pela construção de uma bibliodiversidade) tentou nas últimas décadas sufocar o conto, pois é um gênero difícil de definir, de enquadrar, de enlatar, de moldar e pasteurizar.

Então para refletir esse quadro infeccioso e discutir questões práticas, teóricas e mercadológicas, surgiu em 2011 o único festival dedicado exclusivamente ao conto da América Latina: o Festival Nacional do Conto.

A quinta edição, que começa nesta terça-feira, é um espaço para deslocar o eixo do debate e trazer essas discussões para o Sul do país. O evento ocorre no Teatro Sesc Prainha, no Centro de Florianópolis, é realizado pelo Sesc e traz 20 contistas de Estados como Pernambuco, Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, mas dando também espaço aos catarinenses. É possível conferir a programação completa em www.festivalnacionaldoconto.com.br.

O grande homenageado desta edição é o baiano Hélio Pólvora (1928-2015): já em 1972, o ficcionista mexicano Juan Rulfo, autor do clássico Pedro Paramo, situava-o entre os maiores escritores brasileiros contemporâneos, ao lado de Clarice Lispector e Graciliano Ramos.

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Nesta terça-feira, a partir das 20h (horário fixo de todas as mesas), o festival começa com uma homenagem para Pólvora, conduzida por seu editor, Rosel Soares, seguida por uma conversa com Ronaldo Correia de Brito, um dos escritores contemporâneos brasileiros mais instigantes. Na quarta, a conversa gira em torno da teoria do conto, com a presença de Charles Kiefer, vencedor do Jabuti com um brilhante ensaio sobre a história e a teoria do conto.

Na quinta-feira será vez do fantástico e do surreal, com Braulio Tavares, um autor referência na pesquisa, organização e tradução de contos fantásticos no Brasil. Já na sexta, uma mesa sobre a tradição literária do conto, com Godofredo de Oliveira Neto – blumenauense radicado no Rio de Janeiro -, professor da UFRJ que acaba de lançar um livro de contos dialogando com Machado de Assis.

E no sábado o agito será grande: começará às 16h com uma conversa sobre a obra vencedora do Concurso Silveira de Souza da EdUFSC, seguida de um debate inflamado sobre contos e prêmios literários, com cinco escritores premiados, dentre eles Altair Martins (Prêmio SP de Literatura e Prêmio Moacyr Scliar de Literatura). O dia terminará com leituras de cinco contistas catarinenses que produziram exclusivamente para o festival e o lançamento de um e-book com esses textos.

Uma festa para o conto, para Santa Catarina e para o Brasil, com uma programação literária, de verdade. Sejam bem-vindos ao ancoradouro desta galáxia chamada conto.

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AGENDE-SE

O quê: 5º Festival Nacional do Conto

Quando: de terça a domingo

Onde: Sesc Prainha (Travessa Siryaco Atherino, 100, Centro, Florianópolis)

Quanto: ingressos gratuitos distri-buídos uma hora antes de cada mesa

Informações: www.festivalnacionaldoconto.com.br

PROGRAMAÇÃO

Terça-feira

20h – Abertura oficial. Don Solidon: homenagem a Hélio Pólvora, com Rosel Soares (BA)

20h30min – Retratos Imorais, com Ronaldo Correia de Brito (PE)

Quarta-feira

20h – Conto: Teoria, Prática e Mercado, com Charles Kiefer (RS), Sidney Rocha (PE) e Márcio Renato dos Santos (PR)

Quinta-feira

20h – Do Real ao Extraordinário, com Braulio Tavares (PB), Rafael Sperling (RJ) e Manoel Ricardo de Lima (RJ)

Sexta-feira

20h – Uma Faca só Lâmina, com Godofredo de Oliveira Neto (SC/RJ), Kátia Borges (BA) e Assionara Souza (PR)

Sábado

16h – Apresentação do vencedor do Concurso de Contos Silveira de Souza 2014/2015, da Editora da UFSC

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16h30min – Café Literário: sobre Contos e Prêmios Literários, com Sérgio Tavares (RJ), João Vereza (SP), Altair Martins (RS) e Walther Moreira Santos (PE)

20h – Conto ao Vivo: na Rede. Leitura de pequenos contos inéditos produzidos especialmente para o festival e lançamento do e-book Cisco, com os escritores catarinenses Paulino Jr., Priscila Lopes, Katherine Funke, Gregory Haertel e Melanie Peter

Oficinas gratuitas

– Contista na Escola: O Conto e a Ilustração, com Walther Moreira Santos (PE), de hoje a sexta, em escolas da rede pública

– Oficina do Conto, com Altair Martins (RS), de sexta a domingo

Informações sobre inscrições: (48) 3229-2200