Saúde é uma das principais preocupações dos eleitores, e um dos pilares centrais da gestão de uma cidade. Com um sistema interligado, as diversas partes dessa engrenagem precisam funcionar com excelência, e tudo começa no atendimento em postos de saúde.
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O tema foi o segundo mais votado pelos catarinenses no projeto SC Ainda Melhor, lançado pela NSC Comunicação nessa segunda-feira (2). A iniciativa buscou ouvir em uma enquete no NSC Total e no g1 quais são os problemas mais relevantes nas cidades de Santa Catarina.
Em Florianópolis foram ouvidas entidades como Acate, Acif, CDL, Fiesc, FloripAmanhã, Floripa Sustentável, Udesc e UFSC, que listaram as seguintes prioridades para a Capital:
- Priorizar a ampliação das unidades já existentes. Adequar a infraestrutura dos postos e quadro de profissionais ao crescimento da população;
- Abertura de novos postos em bairros estratégicos que cresceram nos últimos anos;
- Promover a capacitação dos profissionais de saúde, principalmente a formação continuada;
- Estabelecer planos de cargos, bons salários, contratos estáveis e perspectivas de carreira para evitar a evasão dos profissionais;
- Investir na saúde primária, por meio de médicos da família, com foco na prevenção;
- Avançar no uso da tecnologia para facilitar a integração de base de dados de prontuários de vários serviços públicos de saúde para otimizar o atendimento. Focar na eficiência;
- Liderar as discussões para evoluir na construção de um hospital no Norte da Ilha e outro no Continente;
- Atuar para diminuir filas por exames e consultas com especialistas.
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Impacto do atendimento nos postos de saúde
Os postos de saúde são a porta de entrada do SUS, e fazem parte da atenção primária. De responsabilidade dos municípios, o mau funcionamento do serviço pode impactar toda a rede de saúde de uma cidade. É o que explica a professora da Faculdade de Saúde Publica da USP, Aylene Bousquat.
— Você sobrecarrega os outros níveis do sistema. Então, por exemplo, uma pessoa que tem hipertensão, na maior parte das vezes, 90% das vezes, ela vai ser cuidada no próprio nível de atenção primária e vai ser bem cuidada. Se essa pessoa não consegue essa entrada, não consegue essa relação, um bom tratamento, ela acaba indo para outros níveis de sistema — afirma a professora.
Luiz Alberto Silveira, representante da saúde da entidade FloripAmanhã, destaca ainda a importância da rapidez no diagnóstico para que os moradores possam receber o atendimento e tratamento corretos.
— Este processo de realizar diagnóstico, entrar no sistema de tratamento, às vezes demora quatro meses. Isto pode ser muito importante para doença de alta agressividade, que não pode esperar quatro meses, não pode esperar três meses, tem que entrar no sistema imediatamente. Então, o sistema tem que se estruturar melhor, para poder dar atenção imediata a quem, de imediato, precisa de atenção, que não tem como esperar — diz Luiz Alberto.
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Crescimento da população
Um dos desafios enfrentados pela capital catarinense quando se fala em saúde é acompanhar o crescimento populacional da última década. A população de Florianópolis cresceu 27% nos últimos dez anos.
Os especialistas indicam que esse aumento deve ser acompanhado pelas unidades de saúde, em especial pelas regiões mais populosas. Para isso, é preciso qualificar e ampliar o atendimento nos postos, e reforçar o quadro de profissionais.
— É importante uma série de fatores: a questão da equipe, a questão da estrutura. A gente precisa ter materiais, tecnologia adequada para esse nível de atenção. A gente precisa ter essa equipe de saúde completa, os insumos, medicamentos, para que a gente consiga atingir essa resolutividade — explica Alexandra Boing, pesquisadora de Saúde Coletiva e epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O Ministério da Saúde define que municípios com mais de 100 mil habitantes, como Florianópolis, devem ter uma equipe de saúde da família a cada três mil moradores.
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— Não é custo efetivo a gente ter um médico trabalhando isoladamente, um enfermeiro trabalhando isoladamente. A gente precisa de uma equipe multiprofissional. Com essa equipe multiprofissional, a gente consegue atender as demandas desse paciente. E a gente precisa do número adequado dessa relação médico, dentista, primeiro das outras especialidades em relação à população — destaca a pesquisadora Alexandra.
Profissionais mais qualificados e com menos rotatividade
A professora da Faculdade de Saúde Publica da USP, Aylene Bousquat, reforça também a importância de diminuir a rotatividade dos profissionais para melhorar a qualidade do atendimento, um desafio que não é exclusivo de Florianópolis.
— Quando você roda muito, isso acontece não só em Florianópolis, mas em todo Brasil, os profissionais trocam de cidade. Uma coisa muito importante, que é aquele contato ao longo do tempo, né? Quando a gente tem o contato ao longo do tempo, uma das coisas mais importantes da atenção primária, você consegue cuidar melhor das pessoas, tratar melhor as pessoas. Você não está vendo ela só no momento, você sabe como está sendo a evolução e fazer um planejamento — detalha.
O representante da FloripAmanhã, Luiz Alberto Silveira, reforça ainda a necessidade de qualificação dos profissionais que atuam nas unidades de saúde.
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— Nós temos a necessidade que todos os municípios e o Estado precisam ter, no meu entendimento, que é de tratar da formação profissional, a boa qualidade, em primeiro lugar. Em segundo lugar, da especialização dos profissionais. Em terceiro lugar, da distribuição dos profissionais e da fixação do profissional com um salário adequado, de preferência com um plano de carreira profissional — afirma.
Outra solução que é trazida pelas entidades a partir de uma demanda da população como uma alternativa para melhorar o atendimento da saúde municipal é o uso de tecnologia para integrar a base de dados de prontuários.
— Isso vai fazer com que a gente tenha uma melhor tomada de decisão, o melhor planejamento, porque você tem todo histórico daquele paciente, você tem os exames por onde ele passou. A gente consegue ter um resultado melhor, melhor assistência —alega a epidemiologista da UFSC, Alexandra Boing.
— Em relação à marcação de consultas, os encaminhamentos, é preciso ter uma maior agilidade. Pra isso, a gente precisa também que o serviço funcione de uma maneira igual em todas as unidades de saúde, que não exista diferença. São em serviços que alguns você precisa pegar fila 5h da manhã e o outro vai conseguir fazer um agendamento por WhatsApp — completa.
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Os avanços tecnológicos, assim como os avanços científicos, que possibilitam uma evolução na medicina, precisam chegar a todas as camadas da população, destaca Luiz Alberto, do FloripAmanhã.
— Ele melhorou muito nos últimos 50 anos. Da noite para o dia, o avanço tecnológico e científico na medicina. Entretanto, isso não faz sentido se as pessoas não tiverem acesso. E acesso, basicamente, para grande massa da população — finaliza.
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