Florianópolis lidera casos de importunação sexual em SC

Era uma terça-feira e o coletivo urbano estava cheio. A passageira embarcou no ônibus, como de costume, e se posicionou próximo à porta de desembarque, na frente de dois bancos ocupados. Em um dos assentos havia um senhor. No outro, uma mulher. A jovem, de 18 anos, se dirigia ao Sul da Ilha de Santa Catarina, onde mora. Ao passar pela Costeira do Pirajubaé, ainda de pé dentro do transporte coletivo, foi atacada:

Ela foi apenas uma das 792 pessoas assediadas em Santa Catarina em espaços públicos em pouco mais de um ano. Os números são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP). Florianópolis lidera a lista com 96 casos de importunação sexual. Destes, 21 ocorreram dentro de coletivos urbanos e contra mulheres. O número foi contabilizado entre os dias 24 de setembro de 2018 (quando a lei passou a vigorar) e 29 de setembro deste ano.

As ocorrências foram registradas em 143 municípios catarinenses, ainda segundo os dados da SSP.

Entre todas as denúncias, 92% dos casos de importunação sexual foram praticados contra mulheres, que sofreram com a conhecida "encoxada", um beijo forçado, um puxão de cabelo ou um toque indesejado no seu corpo. Todas essas condutas são classificadas como ato libidinoso.

Capital promove campanha

Em novembro de 2018, a prefeitura de Florianópolis lançou uma campanha para estimular denúncias de assédio praticadas dentro dos ônibus. A partir do slogan "Assédio no ônibus é crime e o ponto final é na cadeia", os passageiros, sobretudo mulheres, são estimulados a denunciar os casos pelo telefone 153.

E foi a partir da campanha que a passageira assediada resolveu denunciar. A ligação para a Guarda Municipal de Florianópolis, entretanto, ocorreu, apenas dois dias depois do crime:

— Eu tremia de nervosismo, pois foi uma situação muito chata, com ônibus lotado e, principalmente, pela questão de alguém que não dei permissão me tocar assim. Então, infelizmente não denunciei na hora. Só queria chegar em casa — conta a vítima.

Dois dias depois, seguindo a comum rotina, embarcou mais uma vez no ônibus. Logo que entrou, outro usuário do coletivo a reconheceu e contou que o homem responsável pelo assédio estava, de novo, no coletivo.

— Eu voltava do treino do muay thai e o senhor que me agarrou estava lá. Então liguei e denunciei, porque foi muito ruim ter que ver ele de novo e lembrar da situação — disse a jovem.

Embora a denúncia tenha ocorrido dois dias depois do fato, o suspeito foi detido e responde criminalmente pela ação.

— A Guarda Municipal tem as instalações de emergência junto com a Central de Monitoramento do Consórcio Fênix, que administra a frota de ônibus em Florianópolis, e que monitora por câmeras o interior dos ônibus e disponibilizando acesso às imagens sempre que necessário, além da localização em tempo real através de GPS — explica o subcomandante da Guarda Municipal de Florianópolis, Ricardo Souza.

A vítima resolveu dividir a experiência como forma de incentivar outras pessoas a não aceitarem os assédios. Ela também pretende tocar, com o relato, as testemunhas e os funcionários dos ônibus, para que contribuam com as vítimas quando uma situação similar acontecer:

— Só tive ajuda de uma menina no dia do assédio. Porque quando apertei a campainha e disse pra ele descer, ele hesitou. O cobrador estava rindo e falou "pode fechar a porta?", então essa menina gritou "não é para fechar, ele vai descer do ônibus primeiro" — lembra a vítima.

Um beijo forçado

Entre o assento do cobrador e os dois primeiros bancos de passageiros, logo após a catraca, um homem se acomoda. De costas para a cobradora, ele observa uma passageira sentada. O ônibus segue por mais algumas quadras, até que a mulher se levanta para o desembarque e é surpreendida: o homem tenta beijá-la a força.

A cobradora do coletivo interviu na situação e afastou o infrator. A Guarda Municipal de Florianópolis foi acionada e deteve o homem, que foi conduzido até a delegacia para registro do flagrante. Os usuários do coletivo urbano desembarcaram, até que toda a situação fosse resolvida. Câmeras de monitoramento flagraram a abordagem.

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