A última pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde sobre tabagismo estima que em Florianópolis 11,2% da população seja fumante. Destes 3,2% deles afirmam consumir mais de uma carteira por dia. O dado representa o quarto maior índice de fumantes do Brasil. A campeã nacional, também é da região sul, Porto Alegre têm o índice de 14,4%, seguido por São Paulo com 12,5% e Curitiba com 11,4%. A estimativa faz parte do levantamento de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) realizado anualmente pelo governo federal.
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Ao comparar homens e mulheres nota-se que eles fumam mais, 15% dos participantes do sexo masculino confirmaram ser fumantes já entre o público feminino o valor cai pela metade, indo para 7%.
O estudo aponta uma redução expressiva ao observar-se apenas parcela da população que fuma um ou mais maços por dia, o que equivale a 20 cigarros ou mais. Apenas 2% das entrevistadas confirmou esse uso já entre os homens, foram 5%.
Apesar dos valores elevados a Capital têm motivos para celebrar nesta quinta-feira (29), Dia Nacional de Combate ao fumo, pois se comparado a 2006, quando este levantamento começou a ser realizado nota-se uma redução de 7,2% no tabagismo nestes 13 anos.
Mortes relacionadas
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o tabaco fumado em qualquer uma de suas formas causa até 90% de todos os cânceres de pulmão e é um fator de risco significativo para acidentes cérebro-vasculares e ataques cardíacos mortais. Em Santa Catarina, somente neste ano ocorreram 6.025 mortes por doenças cardíacas, 1.201 óbitos por doenças pulmonares crônicas e 1.410 por tumores de pulmão, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
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O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica gerada pela dependência da nicotina, estando por isso inserido na Classificação Internacional de Doenças (CID10) da Organização Mundial da Saúde (OMS). É também o mais importante fator de risco isolado para cerca de 50 doenças, muitas delas graves e fatais, como o câncer, cardiovasculares, enfisema e outras.
De acordo com os dados do INCA, no Brasil, das mortes anuais causadas pelo uso do tabaco, 34.999 são relacionadas a doenças cardíacas, 31.120 por doenças pulmonares crônicas, 23.762 por câncer de pulmão, 17.972 ligadas ao tabagismo passivo,10.900 de pneumonia e 10.812 por acidente vascular cerebral (AVC).
Narguilé e cigarros eletrônicos como porta de entrada
As autoridades de saúde atualmente tem como foco de preocupação outras formas de consumo de nicotina que podem levar ao tabagismo, como os narguilés e cigarros eletrônicos. O caso é especialmente preocupante na região sul, de acordo com estudo realizado pelo Ministério da Saúde e publicado na Revista de Saúde Pública, pois apontou que 12,6% dos catarinenses de 12 a 17 anos são fumantes, o que representa uma das maiores prevalências de tabagismo entre jovens do país e entre os tabagistas nessa faixa etária, ao menos 20% já são consumidores de narguilé.

Adriana Elias, enfermeira da Gerência de Vigilância de Doenças e Agravos Crônicos (Gevra) da DIVE/SC, explica que em uma única rodada, que dura em média de 20 a 80 minutos, a exposição à fumaça do equipamento equivale ao volume da queima de 100 cigarros aproximadamente.
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— Os riscos do uso do narguilé vão além. Não estão relacionados somente ao tabaco, mas também a doenças infectocontagiosas. O hábito de compartilhar o bucal entre os usuários pode resultar na transmissão de doenças como herpes, hepatite C e tuberculose. Outro ponto importante é que o narguilé pode ser precursor da iniciação do fumo de cigarros e ainda induzir dependência à nicotina — alerta a enfermeira.
Apesar de ainda não legalizados no país os cigarros eletrônicos já são consumidos e preocupam especialistas pelo seu apelo entre adolescentes. O pneumologista Ricardo Malinverni, comenta que os dispositivos não se assemelham ao cigarro, são parecidos com um pendrive e por isso fazem com que os jovens desassociam o ato das consequências e riscos causados pelo uso de nicotina .
— Nos Estados Unidos onde é legalizado o consumo já se nota que os adolescentes não consideram o uso dos dispositivos como fumar. Inclusive não se usa mais o verbo se criou uma palavra para isso, chama-se de “juullyng” derivado da marca mais comum comercializada lá, o juull. Ou seja, pega um ato visto como negativo, o tornando moderno e legal — diz Malinverni
O médico ressalta que a preocupação está justamente em torno da falta de parâmetros do que é colocado nos dispositivos, já que por se tratar de algo não se sabe quais serão suas reais consequências no longo prazo. Ao contrário do cigarro comum, os eletrônicos vaporizam a nicotina.
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— É uma porta de entrada muito perigosa para os adolescentes. Os trabalhos publicados têm relatado uso frequente nesse público nos últimos cinco anos. Apesar de novo, já se têm mais registros de asma e bronquite em pacientes que usaram, acompanhado de mais tosse, catarro, chiado no peito. Tudo isso provavelmente relacionado ao vapor que se inala. — afirma Ricardo
O explica destaca que as pesquisas ainda não demonstram que há menos risco que o cigarro tradicional. Não é possível afirmar com segurança que essas substâncias vão gerar menos câncer, para isso leva tempo, precisamos ter um padrão de comportamento que leva cerca de 20 a 30 anos. Entretanto, está muito claro que a nicotina é altamente viciante, isso não difere do cigarro normal.
— Não existe um nível seguro de nicotina, mesmo que não seja pelo cigarro. Precisamos lembrar que ela gera dependência mais fácil que drogas ilícitas, ou seja, partir do momento que a pessoa experimenta ela vai sentir necessidade usar de novo — conclui o pneumologista