Florianópolis tem a maior proporção de adolecentes entre 13 e 17 anos que já usaram algum tipo de droga ilícita entre as capitais brasileiras, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, que conversou com alunos do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do médio.
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Os dados foram divulgados pelo IBGE na última sexta-feira (10). Na pesquisa, os estudantes foram questionados se, nos últimos 30 dias, tinham feito o uso de algum tipo de droga, como maconha, cocaína, crack ou ecstasy.
Em Florianópolis, 9,5% alegaram que sim. A proporção é a maior entre as capitais, segundo o IBGE, empatada com Vitória, no Espírito Santo. Já em terceiro lugar vem a capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, com 8,4%.
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Se o recorte for em nível estadual, Santa Catarina aparece como o 4º Estado com maior percentual de estudantes que alegaram ter feito o uso de entorpecentes. Ao menos 16% dos entrevistados disseram que, ao menos uma vez, usaram algum tipo de droga. O Distrito Federal é o que aparece em primeiro lugar, com 21%, entre as unidades federativas.
A pesquisa também perguntou aos estudantes de 13 a 17 anos se, nos últimos 30 dias, eles haviam usado maconha. Mais uma vez, Florianópolis apareceu como a Capital com maior proporção, com 9,4% dos escolares declarando o uso. O município aparece na frente de Vitória (9%) e Curitiba (8,6%), além de ficar acima do percentual estadual (7%).
Em relação ao gênero, 9,6% das meninas de SC disseram ter usado a droga, contra 9,2% dos meninos. O maior contato também está entre estudantes da rede pública: 10% contra 8,1% da rede privada.
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Fácil acesso e sensação de pertencimento: o que leva os adolescentes a consumirem drogas?
Para especialistas, alguns fatores contribuem para que, cada vez mais cedo, os adolescentes tenham acesso a drogas ilícitas. De acordo com a psicóloga e líder do Grupo de Pesquisa em Neurociências do Comportamento da Univali, Juliana Vieira Almeida Silva, esta é a fase em que os jovens buscam maneiras de se inserir dentro de um contexto e, por isso, pode haver a influência para o consumo.
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— A cada dia muitos comportamentos estão começando mais cedo. O acesso a informação está muito fácil, tanto das coisas boas como também das ruins. E quando pensamos em adolescentes, pensamos em um cérebro curioso e mais impulsivo — pontua.
Além disso, o uso das drogas nessa faixa etária também é usado como uma válvula de escape para uma eventual mudança de comportamento. De acordo com a professora do curso de Farmácia da Univali e integrante do projeto de extensão Escolhas, que trata sobre a temática da dependência química, Noemia Liege Maria da Cunha Bernardo, uma pessoa tímida pode se sentir mais “confiante” após usar algum tipo de substância, por exemplo, o que acaba moldando a sua personalidade.
— A substância irá causar dependência física, mas o principal dano para um jovem é justamente no desenvolvimento das suas emoções, já que após o uso ele pode criar uma memória afetiva dessa droga — explica.
A especialista também salienta que outro fator que pode influenciar no uso das drogas durante a adolescência é a sensação de fazer algo prazeroso que, por vezes, não é preenchida.
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— Vamos pensar na escola: se naquele território não há opções de prazer, como ambientes de descontração e inclusivos, experimentar [a droga] é uma opção. Nós temos escassez de territórios prazerosos, com ambientes em que os adolescentes podem ir com segurança, lazer, arte e cultura — diz Noemia.

Uso de drogas também afeta o desempenho escolar
De acordo com a psicóloga Juliana Vieira Almeida Silva, além de afetar diretamente no comportamento, o uso de drogas na adolecência interfere no desempenho escolar. Isto porque as substâncias trazem mudanças negativas em várias áreas do corpo humano, como no emocional e no cognitivo.
Por isso, ela alerta para a importância de ficar atento aos sinais que podem indicar de que algo está acontecendo com um adolescente:
— Se isolar, ter mais ou menos fome, queda do rendimento escolar ou abandono dos estudos, agitação ou irritabilidade, mudança no padrão do sono, olhos avermelhados ou olheiras, mudanças bruscas de humor. Esses são alguns dos fatores importantes para pais e professores ficarem de olho.
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Já para a professora Noêmia, também é preciso entender o adolescente e reduziir o sentimento de culpa que ele possa sentir.
— As práticas usadas atualmente, infelizmente, não estão adequadas e não respondem o problema. Não são as substâncias o problema, a questão está na falta de vínculo e os territórios escassos de lazer. Por isso é tão importante investir em políticas públicas em que o foco é prevenir — salienta.
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Educação aposta em programas para conscientizar alunos
Para tentar reduzir os números, tanto a rede municipal quanto a estadual têm buscado trabalhar a prevenção ao uso de drogas através de programas e projetos de prevenção. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, entre eles, está o Saúde na Escola (PSE), que visa a fortalecer a participação comunitária nas políticas de educação básica e saúde, nos três níveis de governo.
Além disso, antes da pandemia, as escolas municipais contavam com programas como o #Tamojunto 2.0, Elos e o Proerd, que trabalham em diferentes faixas etárias e com metodologias alternativas para cada momento e turma.
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Já na rede estadual, desde 2018, as escolas contam com o caderno “Educação, Adolescentes e Uso de Drogas: Abordagens Necessárias”, que busca trabalhar ações no âmbito da prevenção às condutas de risco de adolescentes, vinculados ao uso e abuso de drogas. Além disso, também são introduzidos nas unidades do Estado programas como o Proerd e Estudante Cidadão, ambos da Polícia Militar de Santa Catarina.
Além disso, a Secretaria de Estado da Educação informou que também realiza nas escolas, junto com representantes do Núcleo de Educação e Prevenção às Violências nas Escolas (NEPRE), o acompanhamento de situações que envolvem o uso ou abuso de drogas.
SC tem o menor percentual de adolescentes grávidas do país
A pesquisa do PeNSE 2019 também trouxe outros dados do perfil dos adolescentes matriculados nas escolas catarinenses. O Estado, por exemplo, tem o menor percentual de jovens que engravidaram ao menos uma vez entre os 13 e 17 anos: 3,7%.
Santa Catarina também tem a menor parcela de alunos que tiveram a primeira relação sexual com 13 anos ou menos, com 28,3%.
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Porém, o consumo de álcool ainda é um fator que preocupa. Na pesquisa, 74% dos alunos já experimentaram bebida alcoólica, sendo que 41,4% afirmaram ter bebido nos últimos dias 30 dias, o maior percentual do país.
Por fim, o levantamento também aponta que metade dos alunos catarinenses de 13 a 17 anos já ficaram embrigados e que 14,1% tiveram problemas familiares, brigas ou perda de aulas devido ao consumo de alcool.
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