A Lagoa da Conceição, famoso cartão-postal da cidade, enfrenta problemas ambientais na chegada de mais um ano a Florianópolis. Igualmente cantada por Zininho, a “lagoa formosa”, aquela “onde a lua vaidosa, sestrosa, dengosa vem se espelhar”, enfrenta um surto de mortalidade de peixes, crustáceos, moluscos. 

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O fenômeno da “maré marrom” surge da floração de algas que alteram a cor da água e impedem a oxigenação. Análises comprovaram ainda a presença da microalga Fibrocapsa Japonica, que produz e libera toxinas perigosas para as pessoas, podendo causar náusea, diarreia, vômitos e problemas neurológicos.

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Para usar uma palavra do momento, o sistema da Lagoa da Conceição colapsou. Isso significa que a saúde está no ponto mais alto de saturação. O que há tempos vinha sendo alertado por moradores, pesquisadores, ambientalistas – degradação ambiental, perda da biodiversidade, assoreamento de canais e rios, diminuição das atividades de pesca – chegou ao limite. 

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Por isso, é chegada a hora de ser concretizado o conjunto de intervenções sugerido pelo Ministério Público Federal e acolhido pela Justiça Federal, diz Paulo Horta, biólogo e professor dos cursos de pós-graduação em Ecologia e Oceanografia da UFSC.

— A Lagoa é mais do que uma lagoa, é parte da vida das pessoas, especialmente de quem depende dela social e economicamente. Precisamos compará-la a um paciente que precisa de exames, ter uma avaliação clínica e receber o remédio adequado – diz Horta, responsável pelo Laboratório de Ficologia da UFSC.

Para o professor, o tratamento passa por duas situações imediatas: retirar o nitrogênio e o fósforo que levam à morte das espécies e a introdução do oxigênio na água. Isso se faz com manejo ou cultivo de algumas algas. O segundo remédio, explica Horta, é impedir a entrada de novos poluentes, como lama e sedimentos, como do aterro formado ao longo da Avenida das Rendeiras.

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As preocupações com a qualidade de vida da lagoa se intensificaram desde 25 de janeiro, quando ocorreu vazamento de uma lagoa artificial com esgoto tratado da Companhia de Água e Saneamento (Casan). Com o rompimento, 35 famílias da Servidão Manoel Luiz Duarte, área mais atingida pelo esgoto, tiveram as residências alagadas. Ao menos 66 pessoas foram diretamente atingidas.

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A Casan diz que as indenizações estão sendo feitas, que não identificou irregularidade nas águas desde o acidente e considera fake news vídeos postados nas redes sociais mostrando água escura sendo liberada na região do Parque Estadual do Rio Vermelho.

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