Coronel-aviador reformado há 40 anos, Flávio Gomes de Oliveira, 89 anos, ainda tem o mesmo brilho no olhar de quando ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1944. O País ainda carregava os tons cinzentos da 2ª Guerra Mundial quando ele decidiu que iria voar.

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E, literalmente, deu asas ao sonho. Tinha apenas 24 anos quando começou sua carreira na FAB e, ao longo dos anos, obteve todas as promoções por merecimento e lembranças que ele considera muito mais valiosas.

– Ele saiu da aviação, mas a aviação não saiu dele -, entrega a esposa, Gilza Maria Gomes de Oliveira, 80 anos.

E nem dela. Juntos há 64 anos, ela acompanhou o marido em muitas das missões de patrulha e busca e salvamento realizadas Brasil afora.

– Havia muitas esposas que achavam que também eram coronéis. Eu não, eu era soldado raso -, recorda.

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Eles se conheceram quando Flávio morava no Rio de Janeiro. Começaram a namorar quando Gilza tinha 13 anos. Ela casou-se com 16. Ele, com 25.

– Naquela época, a gente amadurecia mais cedo, não é como os jovens de hoje -, diz.

Companheira, ela guarda com carinho as recordações dos voos realizados na Amazônia, quando ela era também uma passageira.

– Era um trabalho muito bonito realizado para atender à comunidade ribeirinha -, conta. Lembranças que também fervilham na mente do coronel-aviador, mas sob outro ponto de vista: o de piloto.

– É uma região muito difícil de pousar. Chove muito e há muitos troncos caídos no rio que não dá de enxergar -, explica.

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Vasculhando a memória, Flávio contabiliza ter se salvado de nove acidentes. O mais grave aconteceu em La Paz, na Bolívia, na década de 50. Flávio estava a 4.500 metros de altitude quando o motor esquerdo parou. Em meio ao céu azul, qualquer segundo era crucial. O coronel não tinha tempo para pensar.

– Era preciso tomar uma decisão rápida -, lembra.

Ele aumentou a potência do motor direito, o que aumentou a instabilidade, mas permitiu que ele conseguisse pousar em uma estrada próxima ao local de decolagem. Havia 11 pessoas a bordo. Todas desembarcaram ilesas.

– Lembro que alguns bolivianos vieram correndo e perguntavam: ?Qué pasa??. E eu respondi: ?Agora nada. Já passou? -, conta ele com um sorriso nos lábios e um brilho no olhar que surge sempre que ele fala sobre a carreira. Como coronel-aviador, ele morou nos Estados Unidos – em 1947, quando fez um curso na Aviação Naval da Marinha Americana – e Holanda, além de diversos Estados brasileiros, como Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro.

– Pude conhecer um pouco do mundo -, conta.

Muitas lembranças

Aposentado depois de trabalhar dez anos na Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), voltou para Joinville em 1981 e, desde então, mora em uma casa repleta de fotos antigas e objetos decorativos trazidos das cidades que conheceu. Nos primeiros anos, passou a usar o tempo livre para dar aulas particulares.

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– Ensinava matemática, português, ciências. Coisa que se acabou. Hoje, as crianças acham tudo na internet -, conta.

Nos últimos cinco anos de vida, o pai, Carlos Gomes de Oliveira, passou a morar com ele.

– Meu pai sempre foi um exemplo e um orgulho para mim. Um dia, ele foi dormir e não acordou mais. Ele nos deixou -, fala.

Carlos, que foi senador da República e, como presidente do Senado, empossou, em 1956, o então presidente Juscelino Kubitschek, morreu em 1997, aos 103 anos.

Então, dedicou-se às memórias. Em 2005, lançou o livro “Sobrevoando o Passado: Memórias de um Cadete-do-ar”, onde conta sua trajetória como filho da terra e amante das nuvens.

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