A nova novela de Manoel Carlos tem muito mais que uma Helena e problemas familiares no Leblon. “Em Família” retrata a vida de um instrumentista que durante 20 anos se especializou fora do Brasil em flauta transversal. Agora, no auge da carreira, ele está de volta para reconquistar o espaço que deixou para trás após uma briga – estrategicamente – em família.
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O personagem é de uma família tradicional de Goiás – apenas na terceira fase da trama o elenco vai para o Leblon, bairro carioca favorito do autor – e na tentativa de fugir de um triste passado ele é enviado pela família para estudar música no exterior. Mas, e se estivesse ficado no Brasil? Teria as mesmas oportunidades? Seria um profissional reconhecido?
Segundo o flautista Felipe Moritz, instrumentista da Camerata Florianópolis, que toca flauta transversal, sim.
– Com certeza, hoje em dia, amando e estudando constantemente, consegues viver muito bem da música aqui no Brasil – revela.
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Só “dom” não adianta
Mesmo sendo apenas pano de fundo da história de Maneca, o personagem Laerte apareceu tocando pela primeira vez na adolescência, sem uma aula se quer, como se tivesse o “dom” para a arte. E aos 20 anos compôs a música tema da novela, onde na trama ele nomeou de “Helena”.
Na vida real, o presidente da Associação Brasileira de Flautistas (ABRAF) e professor na Escola Superior de Música da Faculdade Cantareira, Rogério Wolf, que é quem toca a música “Helena” – que chama-se na verdade “Lembranças para Flauta” e foi composta por Alexandre Guerra no final de 2013 – começou a tocar flauta por volta dos 20 anos e que abordar isso não é o problema. O professor conta que era frequentador assíduo das aulas, diferentemente da história vivida pelo protagonista da novela, onde a música era só um detalhe, uma válvula de espcape, na vida de um garoto sem regras e horários.
Por isso, Wolf alerta que “dom” é uma coisa que só engrena com muita dedicação. E mesmo tendo iniciado aos 20 anos, aos 23 foi aprovado para tocar na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).
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– Eu estudava em média seis horas por dia e nos fins de semana chegava a tocar nove horas, só parando para almoço e jantar. Por isso digo que sem trabalho, ninguém consegue viver de música.
A flautista recém formada em Curitiba Larissa Novo, que hoje faz parte da Orquestra Cidade de Joinville, concorda com Wolf, quando ele diz que apenas “dom” não leva ninguém a lugar nenhum.
– Não adianta ter facilidade e não dar prioridade aos estudos. As pessoas que conseguem seguir em frente são aquelas que se esforçam e levam o trabalho a sério. O importante é manter o rítimo: eu continuo estudando flauta e as matérias teóricas, mesmo depois de formada. Para seguir a carreira tem que ser assim – diz.
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Imagem: Na novela, Laerte toca flauta com o filho. Ele toca flauta transversal enquanto o jovem toca flauta doce. (Fonte: TV Globo/ Divulgação)
Preocupação na hora da divulgação ?
Para compor Laerte, o ator Gabriel Braga Nunes teve que entrar no universo da música clássica.
– Precisei fazer aulas de flauta e convivendo hoje com pessoas do meio eu vejo como é possível trabalhar suas dificuldades e conflitos através da música. Aquele momento de introspecção é quase uma realidade paralela. E o instrumento escolhido ser a flauta também é interessante, por ser tão doce, tão delicado, ao contrário da história desse homem truculento – revelou em entrevista ao site IG.
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Mesmo dedicando-se, o ator chegou a ser criticado nas redes sociais, já que em uma das cenas ele simplesmente não mexeu os dedos enquanto tocava a flauta. Mas, segundo Felipe Moritz isso não é importante, o válido é que este trabalho está apresentando o instrumento e a música clássica (ou erudita) à área popular.
– Com certeza haverá mais procura e curiosidade sobre o assunto. Vincular tudo o que tem a ver com a música à mídia é importante – ressalta Moritz. ?
O cuidado com a estereotipagem ?
A professora e chefe de departamento do curso de música da Udesc, Alícia Cupani, concorda com Moritz, porém ressalta que essa divulgação pode sim trazer um problema.
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– O ruim é quando estereotipam a música e aí pode ser um deserviço. Às vezes a ideia é boa, mas a maneira de abordar não contribuiu. O certo é desmitificar que a música erudita é coisa elitizada e que só quem nasce com o dom que consegue seguir a profissão. Não é nada disso. O músico bom é aquele que estuda e se atualiza e isso pode ser com ou sem dinheiro e em qualquer parte do mundo – alerta a professora.
Um exemplo real do que a professora fala é a flautista Carolina Lohmann, que trabalhou como babysitter, diarista e garçonete para poder realizar o sonho de estudar na Europa.
– Eu sempre digo que eu já limpei muita privada nessa vida, e digo com orgulho porque eu sabia o motivo de estar fazendo aquilo. Depois de um ano e meio consegui uma bolsa de estudos que bancava a mensalidade e segui trabalhando para pagar o aluguel e comida. Fiz alguns concursos com o simples objetivo de ganhar para ter o prêmio em dinheiro, e isso também me ajudou. Quando me mudei para Zurique consegui mais algumas bolsas, ganhei alguns outros concursos e tive uma vida de estudante de musica “normal” por 3 anos … Tudo isso pra dizer que, não tem que ter dinheiro para encarar o sonho, tem que ter coragem!
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O sonho de estudar fora
O sonho de se especializar fora do Brasil não se restringe a poucos. No país existem cursos bem conceituados como nas cidades de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, mas tanto estudantes como professores concordam que na Europa, por exemplo a pessoa fica imersa na cultura “mãe” da música clássica, além de poder escutar concertos bons todos os dias. Já os Estados Unidos têm a fama de proporcionar maior estabilidade e conforto aos estudantes e pesquisadores.
– Estou convencida de que a melhor escolha é começar com um mestrado na Europa. Por isso, este ano vou trabalhar para guardar dinheiro e em 2015 faço testes pra lá – revela Larissa Novo.
– Sem dúvida essa imersão na cultura européia enriquece o currículo de quem estuda música clássica – concorda a professora Alícia Cupani. ??
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Vendas de flauta no Brasil
Segundo o colunista Bruno Astuto, da revista Época, o personagem de Gabriel Braga Nunes aqueceu a venda de flautas de sopro no site Música Brasil. Desde a estreia do folhetim, dia 3 de fevereiro, a empresa contabilizou um aumento de 187,5% nas vendas do instrumento, que estava na 11ª posição de vendas e pulou para a 7ª. A loja online prevê um aumento de vendas de 1000% até o fim da novela.
A grande procura pela flauta transversal também pode ser observada no site de busca Google Brasil, onde ela aparece no topo das pesquisas em relação a instrumentos musicais.
Em Florianópolis a maior procura é pela flauta doce, conhecida como “flauta de iniciante” por ser mais simples de tocar e ainda ter opções de valores mais baratos (entre R$30 e R$300). Além disso, a lei nacional de obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, de 1996, começou a vigorar em 2012, com o objetivo de desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos, segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE) e muitas escolas incluem a flauta doce na lista de material escolar.
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Segundo a empresa Multisom a procura é tanta que em algumas lojas o estoque chegou a zerar nas primeiras semanas de aula.
Aulas gratuitas
Além das aulas obrigatórias no ensino fundamental não há outro lugar que ofereça aulas de música gratuitas na Capital e Grande Florianópolis, a não ser por meio de vestibular, como no caso da Udesc (Ceart) e da Escola Livre de Música. Em São José há um projeto para um curso de música, por meio da Fundação de Cultura, mas ainda não há data prevista nem informações sobre sua gratuidade. ?
Cursos de música gratuitos em Florianópolis:?
Udesc – Licenciatura ou Bacharelado
Onde: Ceart – Campos Itacorubi
Cursos de bacharelado: Violão; Violão celo; Violino, Viola; Piano
Curos de Licenciatura: básico de todos os instrumentos
Telefone: (48) 3321-8346 | 3321-8347
E-mail: dmu.ceart@udesc.br
Site: http://www.ceart.udesc.br/musica/
* entrada por meio de vestibular (é cobrada proficiência) ?
Escola Livre de Música
Onde: rua Alves de Brito, nº 334, Centro (antiga escola Silveira de Souza)
Cursos: Guitarra; Violão; Saxofone; Flauta transversal; Percussão; Violino; Viola; Canto; e Curso de inicialização.
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Telefone: (48) 3225-2083
Site: http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/franklincascaes
* entrada por meio de vestibular (é cobrada proficiência)