Flanelinhas trabalham livremente dentro do pátio da sede do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), no bairro Estreito, em Florianópolis. O problema é conhecido pelos despachantes e funcionários do órgão público, mas ninguém quer comprar essa briga. Em poucas horas, os guardadores de carros conseguem uma boa quantia em dinheiro.

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O quarteirão onde funciona o Detran da Capital, na Rua Ursulina de Senna Castro, é cercado pelos supostos guardadores de carros. O motorista precisa apenas trafegar em baixa velocidade para ser abordado. O loteamento das vagas de uso comum é antigo, mas ninguém quer se indispor com esses homens.

– Realmente é muito constrangedor chegar a um serviço público e ter uma pessoa cobrando pela vaga que é de todos. Muitas pessoas pagam porque não querem comprar uma briga ou porque se sentem ameaçadas. Eu coloquei o carro no pátio e não vou pagar – contou o servidor público, de 41 anos, que prefere não ser identificado.

Campanha orienta motorista a não pagar flanelinha no centro de Florianópolis

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A reportagem esteve em duas oportunidades no pátio do Detran. Na primeira, o flanelinha que estava dentro da área do departamento tentou intimidar a equipe. Quando percebeu que estava sendo fotografado, veio em direção ao repórter e fez algumas cobranças.

– Você está tirando fotos minhas? Esta máquina é digital? Aqui ninguém cobra nada, as pessoas dão apenas o que querem – disse, em tom de intimidação.

A verdade é que as vagas públicas neste quarteirão têm alguns donos. A reportagem identificou seis flanelinhas, sendo que alguns se revezam no mesmo ponto. Eles trabalham livremente e não ficam intimidados com a presença da imprensa ou da polícia.

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“Polícia já foi chamada, mas eles voltam”

O intenso movimento na sede do Detran de Santa Catarina é um prato cheio para os flanelinhas. Normalmente, eles estão de bermuda, camiseta e de óculos escuro. Uma funcionária do órgão desabafou quando soube da matéria.

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– A Polícia Militar já foi chamada várias vezes, mas eles voltam. O problema é que não podemos fazer nada, porque nós estamos aqui todos os dias e tememos por represálias – comentou a servidora.

Sem saber que estava conversando com um repórter, um segurança do Detran também confirmou as frequentes queixas dos usuários.

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– Recebo reclamações todos os dias e encaminho as pessoas para a Ouvidoria -revelou.

A cada 10 abordagens, sete pagam algum trocado

Na última terça-feira, a reportagem flagrou um dos flanelinhas trabalhando dentro do pátio do Detran por algumas horas. A cada 10 abordagens, pelo menos sete usuários davam algum tipo de trocado.

Com um cigarro pendurado na orelha, o flanelinha reconheceu que estava no lugar errado.

– Sou um dos primeiros que começou a trabalhar aqui, mas acabei perdendo espaço e, por isso, estou aqui dentro do pátio. Sei que não é o local correto, mas preciso trabalhar. A verdade é que não pedimos nada e quem quiser dar algo pode ficar a vontade. Estou aqui para auxiliar para encontrar uma vaga e estacionar – contou sorrindo.

A reportagem perguntou o valor que esse flanelinha ganhou, mas ele hesitou e, na sequência, falou em R$ 30, aos risos.

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Pátio deve ser cercado e controlado por cancelas

A diretoria do Detran de Santa Catarina informou que já existe um estudo para fechar o pátio e delimitar a área de estacionamento do órgão. Assim, haveria cancelas para controlar a entrada e a saída dos usuários. A nota ressaltava que tudo deve ocorrer em um futuro próximo e o Detran busca recursos para viabilizar o projeto.