O uso pela Polícia Militar de um aparelho que mede a luminosidade nos vidros dos carros sacudiu o mercado de películas. Com a adoção do equipamento há um mês, instaladores, fornecedores, concessionárias e motoristas convivem com a dúvida sobre o que pode ou não. Efeito imediato: o movimento nas lojas especializadas desabou.

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Desde 2007, quando o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou as resoluções 253 e 254, que tratam do tema, o que valia na hora da fiscalização era a porcentagem indicada no selo – chamado de chancela – impresso em cada película. Com a chegada do aparelho, o índice medido inclui a opacidade original dos vidros dos carros, o que revelou irregularidades antes despercebidas. Ou seja, quando o motorista procura uma instaladora tem de levar em conta os índices informados no vidro e na película.

::: Fiscalização diminui aplicação de películas veiculares em Blumenau

O representante comercial Giovani Dutra reclama que não há consenso no modo de fiscalizar. Ele comprou um carro no fim de 2014 e, em menos de seis meses, as películas que usava no veículo passaram de regulares a irregulares. Foi obrigado a retirá-las.

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– Me sinto mais seguro com os vidros escuros, sem contar o calor. Há três meses passei por uma blitz e o que valia era o selo do vidro. Lá eu estava regular. Agora, com esse aparelho, estou irregular – protesta.

Desde 1998 à frente da Pitbull, empresa especializada em som automotivo e acessórios, Jaqueline Ferreira dos Santos explica que na maioria dos casos o consumidor opta pela película no limite regular, mas como os carros vêm de fábrica com os vidros esverdeados, a soma excede o limite de luminosidade no aparelho da PM. Everaldo Alves Verde, dono da distribuidora de películas InterControl SC, com sede em Blumenau, diz que, a rigor, não existe película regular:

– Os vidros dos veículos estão no limite da luminosidade permitida, sem contar que a máquina não faz aferição perfeita. Se o vidro estiver sujo, a medição não será fiel. Resumindo, qualquer película vai alterar a porcentagem de luminosidade permitida.

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Jaqueline, que tem na loja um aparelho similar ao usado pela PM – embora sem aferição do Inmetro -, demonstrou ao Santa o problema na prática. No teste foi usada uma película de 70% no vidro lateral dianteiro, cujo limite é justamente 70%. Sem a película, o medidor acusou 81,4% de luminosidade. Com o adesivo, o equipamento marcou 65,1% – o Contran tolera 5%, o que é considerado regular. Como alguns veículos vêm de fábrica com o vidro mais escuro, nem todos dão sorte.

PM afirma que a lei é a mesma

O relações públicas da Polícia Militar de Blumenau e aspirante a oficial Rodrigo Geraldo Siedschlag explica que o aparelho era usado em Indaial antes de ser trazido para Blumenau e foi calibrado pelo Inmetro, sem interferência da corporação. Segundo Siedschlag, a fiscalização das películas é algo secundário nas atribuições da PM, levando em consideração que o foco é montar barreiras para localizar drogas e armas, por exemplo.

– A lei continua a mesma, o que mudou foi que hoje temos o aparelho, mas não é feita uma ação específica com a finalidade de fiscalizar as películas veiculares, então não temos um relatório ou um balanço dessas autuações – afirma.

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Segundo o militar, o medidor de luminosidade veio para Blumenau porque os agentes com frequência suspeitavam do percentual de luminosidade informado nos selos de identificação dos vidros.