Ao contrário do que se pensa, nem todo adolescente está à procura do maior número de ficantes em uma única balada, de preferência com o mínimo de comprometimento possível. Enquanto muitos jovens fogem de relacionamentos sérios, outros não veem a hora de serem oficialmente apresentados a sogro, sogra, cachorro e papagaio. A busca por um namoro firme, com compromissos e satisfações ao outro, é a escolha de casais que pretendem se livrar da aparente instabilidade da vida de solteiro. Só que esse estilo de vida caseiro, considerado mais seguro, também provoca conflitos não tão fáceis de administrar. A paixão intensa, somada ao número de horas em que os jovens passam juntos em casa, na escola e no shopping, deslancha em uma montanha-russa de emoções. Das brigas às reconciliações, passando pela falta de maturidade e pela ansiedade típica dessa fase da vida, uma galera conta para o Kzuka como é viver junto o tempo todo.

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A veterana e o principiante

Amanda Borges, 16 anos, e Vicenzo Zarpellon, 17, estão juntos há sete meses. Mas se conheciam há anos, já que a irmã de Vicenzo é amiga de Amanda. Ela frequentava a casa dele e tudo mais, mas garante que nunca ficou de olho.

– Eu estava em outro relacionamento quando conheci o Vi. Adoro namorar, gosto de estar junto, sem precisar sair todo final de semana – diz Amanda.

Vicenzo também já tinha tido um “namorico”, mas preferia estar com os amigos. Ele ainda tirava sarro com os guris que namoravam, dizendo que iriam se afastar dos parceiros e tudo mais. Será que eles pensam que, por namorarem sério tão novinhos, estão pulando fases da vida?

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– A única dificuldade para mim é que me afastei um pouco dos meus amigos, pois acabo saindo pra jantar mais com outros casais. Sinto saudade deles – lamenta Vicenzo.

– Eu não acho que estou perdendo nada. Se estou com uma pessoa legal que me trata bem, eu estou só ganhando, né? – cutuca Amanda.

No relacionamento deles, não rola ciumeira e brigas por qualquer motivo. Apesar de ele se definir cabeça-dura e ela muito mandona, eles se implicam só por besteira, como as roupas que ele usa e ela não gosta. Como os conflitos são raros, quando acontecem os pais ficam tristes, já que a família acaba se acostumando em ter “mais um filho em casa”.

– Quando a gente discute e chega a um ponto crítico, eu deixo ela falando sozinha – diz Vicenzo.

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– Vi, tu não sabe o que é ponto crítico, não diz isso. Eu acredito em namoros de muitos anos, mas digo para ele que nos encontramos na idade errada. Brigas por coisas idiotas da adolescência fazem com que os relacionamentos acabem – sentencia Amanda.

Até a sogra morre de amores

Kevin Anklan e Pietra Kreisler, 17 anos, namoram há oito meses, mas, segundo Débora, mãe de Pietra, parece muito mais tempo. Eles dormem juntos duas vezes por semana, ficam grudados o final de semana todo, vão para a aula, estudam juntos e ainda viajam com a família. Para algumas pessoas pode parecer demais, mas para eles é ótimo.

– Eles são superfamília. Adoram estar em casa, sair com a gente. Para mim é bom, fico muito feliz. Eu adoro o Kevin, ele é como meu terceiro filho, a gente faz palhaçada, fala besteira. Às vezes, tenho que dar uns “xixis” neles, não dou mole, não… _ diz Débora, derretendo-se pelo genro.

A família é muito importante para as relações adolescentes darem certo. Se o namorado tem aprovação dos pais, é a porta de entrada para o relacionamento se tornar ainda mais íntimo e feliz. Quando os casais jovens brigam, geralmente a família que apoiou a relação sofre junto, não só pela dor do seu próprio filho, mas pelo costume que tem de conviver com o “filho emprestado”. Na casa da família Kreisler, apesar da intimidade, rolam limites. A mãe tem liberdade com o casal e fala a mesma língua deles.

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– Apesar de ter essa relação próxima com os dois, ser a melhor amiga da minha filha, eu sou mãe, né? Na nossa casa da praia, cada um tem seu quarto, eles não dormem enroscados de porta fechada – salienta Débora.

Pietra e Kevin são um casal adolescente diferente, pois não brigam (rolam no máximo umas caras feias muito raramente), têm um ciúme normal um do outro, se tratam com carinho e até brincam de vez em quando. Brincam? É isso aí.

– A gente joga bola, brinca de esconder… Parece engraçado, mas a gente é assim! Nosso namoro é na paz, a gente tem intimidade, e, como não brigo com ele, nem tenho o que dividir e fofocar com as minhas amigas – conta Pietra.

Mas a relação é feita só de flores? Não, eles também ficam brabos por ciuminhos bobos, mas a parte boa é muito mais forte. Eles fazem as coisas que curtem, gostam de estar mais entre si do que com os amigos e até planejam um intercâmbio para estudar no Exterior. Juntos, é claro.

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– Vou ter que contar uma coisa: o Kevin é o namorado perfeito, ele faz todas as vontades da Pietra, massagem, café da manhã… até janta para mim ele já fez! – revela a sogra.

Vocês devem estar se perguntando qual é a opinião do Kevin sobre tudo isso, certo? Ele só concorda. Afinal, como já é piada pronta, as mulheres também comandam as relações adolescentes.

Entre tapas e beijos

Victória Gazzola e João Pedro Lopes, 17 anos, se conheceram em Porto Seguro, naquelas viagens clássicas de férias de julho escolares, e nunca esperavam levar a relação adiante.

– Ele dizia na minha cara que não ia namorar comigo nunca, afinal nós somos totalmente diferentes um do outro. A gente sempre tem visões opostas sobre tudo. Ele é calmo, eu sou agitada, eu sou bonita, ele é feio! – brinca Victória.

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Apesar de implicar um pouco, Victória curte mesmo um namoro sério. Começou os romances com 12 anos, sempre com o apoio dos pais. João Pedro é seu terceiro namorado e, mesmo achando desperdício de tempo se prender a uma só guria, ele acabou cedendo. No dia a dia do casal, há cumplicidade e conflitos como em qualquer relação madura. Com uma pitada de impulsividade, é claro.

João não é comparsa na hora das DR’s (discussões de relacionamento). Muitas vezes, a Victória acaba praticamente brigando sozinha. Para ela, tudo é traição. Não atender o telefone? Traição. Dar carona para uma conhecida? Traição. Sair com um amigo sozinho e sem avisar? Não precisa nem responder.

– Homem não se toca! – impõe Victória.

– Eu me faço de louco. Fujo do assunto. Prefiro não me estressar – responde ele.

– Por isso dá errado e a gente briga tanto! – retruca ela.

Meses trás, depois de uma briga feia, se afastaram. Viajaram nas últimas férias, cada um para um lado. O namoro acabou terminando por mensagem de celular. Mas ela foi atrás dele no Carnaval. Pegou o amado ficando com outras gurias. Briga na certa. Depois de muita discussão, decidiram reatar.

O segundo tempo do namoro é ainda mais intenso, já que eles morrem de ciúmes um do outro. Ambos têm as senhas de Facebook e MSN um do outro. Claro que já rolou discussão por causa disso. Ela vive pedindo conselhos para as amigas sobre o próprio relacionamento, já o guri não costuma expor muito.

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– Eu falo da Vitória para os meus amigos, mas não assim que nem ela. Ela fala tudo da minha vida para todo mundo – diz João.

– João, tua vida é a minha vida! Mas se eu descobrir alguma traição, João… Te prepara! – ameaça ela.

– Bá, esse namoro é só conflito. Todo o dia a gente briga. É muito amor mesmo.