Foi em março do ano passado que dois fatos colocaram Santa Catarina e o governador Raimundo Colombo (PSD) no mapa da Operação Lava-Jato. Primeiro, no dia 22, a condução coercitiva da Polícia Federal sobre o assessor André Agostini Moreno, apontado como suposto intermediário de R$ 1 milhão da Odebrecht logo após as eleições de 2014. No dia seguinte, o vazamento das listas de políticos agraciados pela empreiteira nas disputas de 2010 e 2014 – com Colombo, codinome ¿Ovo¿, citado como destinatário de R$ 4,8 milhões em três repasses.
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Desde então, tentava-se montar um quebra-cabeça. Inicialmente, o caso parecia ter duas linhas paralelas: uma doação em 2010 e outra em 2014. Nos bastidores, foi vinculado a essa generosidade o interesse da empreiteira na venda de pelo menos parte das ações da estatal Casan.
Em março deste ano, quando o ministro Luis Fachin, do STF, retirou o sigilo sobre as delações dos ex-executivos Fernando Reis e Paulo Welzel, o quebra-cabeça ganhou mais peças. Em suas narrativas, eles cruzaram as linhas paralelas e apresentaram uma história em que a Casan era usada como isca para repasses contínuos de recursos nas duas eleições de Colombo e também para aliados.
Esta semana, o quebra-cabeça completou-se quando o ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou o fim do segredo sobre o processo de Colombo. Não há mais surpresas. Pelas 260 páginas que o inquérito tem até agora, percebe-se que PF e Ministério Público Federal têm uma investigação mais robusta sobre o caso envolvendo a viagem de Agostini Moreno para São Paulo. Há trocas de e-mail com linguagem cifrada, confirmações de hospedagem, lista apreendida com ex-funcionária da empreiteira indicando locais de pagamento.
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Para o resto da história narrada pelos delatores, ainda não há mais do que suas palavras. Por isso, foi pedida pelo MPF e autorizada por Salomão a quebra do sigilo telefônico de Colombo, do ex-secretário Antonio Gavazzoni e de Enio Branco e José Carlos Oneda, diretores da Celesc. É sobre eles que recai o desconfortável rótulo de investigados, junto com o Agostini Moreno, acusados de pedirem ou intermediarem os pagamentos da empreiteira. Agora, vai se buscar pelo cruzamento de ligações confirmações sobre hora e local de conversas narradas. Resta saber se os instrumentos à mão do MPF serão suficientes para consolidar uma denúncia ao STJ sobre essa parte da narrativa.
Enquanto isso, respiram um pouco aliviados os nomes que foram citados nas delações, mas não ostentam a condição de investigados. Não há, por enquanto, nenhuma medida envolvendo o conselheiro Júlio Garcia, do Tribunal de Contas, e os deputados estaduais Gelson Merisio e José Nei Ascari, ambos do PSD.