Há algo que você, pai ou mãe, queira mais do que a felicidade do seu filho? E que mal há em se dedicar de corpo e alma para oferecer uma infância a mais perfeita e mais feliz possível para seu maior tesouro? Para mim, não havia absolutamente nenhum. Isso até eu ouvir falar do pai de Benjamin, 10 anos, e de Susannah, 7. O filósofo escocês Carl Honoré, 41 anos, autor do livro Sob Pressão – Criança Nenhuma Merece Superpais, pesquisou experiências em vários países, refletiu sobre cada uma delas e concluiu que os pais estão muito ansiosos querendo dominar a felicidade dos seus filhos e transformá-la em realização a qualquer custo.

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O autor defende que vivemos um momento único na história da infância, na qual somos pressionados a oferecer uma época perfeita aos nossos filhos. O resultado dessa busca, muitas vezes obsessiva pela felicidade dos nossos pequenos, são crianças vivendo constantemente sob pressão. E por que nós, pais, ficamos assim tão superprotetores? Honoré argumenta que sentimos uma imensa pressão para darmos às nossas crianças o melhor que temos para transformá-las em pessoas cada vez melhores. A competição que se intensifica no mercado de trabalho gera ansiedade nos pais, que, desde muito cedo, imaginam e projetam como seu filho será quando adulto.

– Você é rico ou pobre, vencedor ou perdedor. A pressão não é apenas nas crianças, mas nos pais também – afirmou, em uma entrevista à Agência RBS, no ano passado, quando seu livro foi lançado no Brasil.

A pressão que exercemos sobre nossas crianças, defende o escocês, torna-as menos criativas. Elas se preocupam mais em fazer o que queremos e dificilmente assumem riscos e cometem erros. Dessa forma, pensam muito pouco em si mesmas, não se conhecem nem experimentam o mundo de possibilidades que têm a sua volta porque sempre há alguém decidindo por elas. O estresse seria outra consequência, e haveria cada vez mais crianças com doenças relacionadas à pressão, como dores de cabeça, dores de estômago e diarreia. A depressão, a ansiedade (podendo levar às vezes ao suicídio) e o abuso de drogas também seriam comuns nestes casos, defende o autor.

Quando organizamos demais a vida das nossas crianças e quando a agenda delas fica lotada, corremos o risco de criarmos filhos totalmente dependentes e com dificuldade para crescer. Mas e como nós, pais, saberemos quando estamos exagerando? O autor responde: se a criança demonstra cansaço o tempo todo, tem olheiras e desânimo, entedia-se facilmente, nunca fala das atividades extracurriculares, se não corre riscos típicos da infância como usar os brinquedos mais arriscados da pracinha, possivelmente está sofrendo com a pressão, tendo pouco tempo, espaço e liberdade para viver consigo mesma.

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Para o pai de Benjamin e Susannah, existe uma grande diferença entre incentivar um talento dos filhos nos esportes e nas artes, por exemplo, e colocar a criança sob constante pressão, numa corrida obsessiva rumo ao topo. A criança não é um projeto que os pais podem modular, mas uma pessoa que precisa de permissão para ser protagonista de sua vida, avisa Carl Honoré.

Nossos filhos precisam de espaço para fazer más escolhas e errar

E para os pais que acham que o talento precoce do seu filho não pode ser desperdiçado e que precisa ser trabalhado desde cedo, o autor faz um alerta. Talento nenhum é garantia de um futuro brilhante, porque as crianças mudam à medida que crescem. O menino que joga futebol maravilhosamente aos 5 anos ou que toca perfeitamente piano aos 7 pode ser um atleta ou músico muito “mais ou menos” aos 13.

Uma das principais vozes do movimento slow (por uma vida mais tranquila), Honoré garante que as crianças precisam de espaço e liberdade para cometer erros, fazer más escolhas, subir ao segundo lugar no pódio ou ficar bem longe dele. É assim que elas aprendem a trabalhar seus pontos fortes e descobrirão no que realmente são boas.

Mas será que os pais que estão criando seus filhos sob pressão são maioria entre nós? Convidamos quatro casais para tentar nos ajudar com as respostas.

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