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Troca de acusações, dinheiro público e um filme que não chegou às telas. Estes são os ingredientes dos bastidores do longa The Heartbreaker, envolvendo a produtora norte-americana Sunshine e o diretor catarinense Roberto Carminati, correalizadores da comédia romântica rodada no Brasil e nos Estados Unidos em 2008.

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O governo de Santa Catarina liberou R$ 1,2 milhão para a produção. Segundo o sócio fundador da Sunshine, Francisco das Chagas, a produtora investiu, em oito meses, quase US$ 500 mil. Ele também garante que a produtora não recebeu nenhum repasse do governo do Estado.

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Francisco das Chagas acusa Carminati de ter produzido um material “deplorável”, que não pode ser exibido. Ele disse que recebeu o filme – em dezembro de 2009, com um ano de atraso – em uma cópia com tecnologia obsoleta, algumas partes sem áudio e trilha sonora sem pagamento de direitos autorais aos artistas.

O diretor nega. Diz que entregou uma cópia editada do filme para o governo do Estado, quando fez a prestação de contas, e outra para a Sunshine, junto com o material bruto que foi filmado. A secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte não confirma a prestação de contas e não dá mais informações sobre o assunto.

– Acho muito estranho que só agora a Sunshine venha falar da qualidade do material. Trata-se de uma campanha difamatória de uma empresa que não cumpriu o contrato de coprodução e compromissos assumidos com Santa Catarina e com a minha empresa -afirma o diretor.

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Troca de acusações

Francisco das Chagas diz que a Sunshine contratou Roberto Carminati como diretor de The Heartbreaker. Roberto fala que é coprodutor e que a Sunshine não honrou a contrapartida prevista no contrato, que seria de 1/3 de R$ 3,8 milhões, custo total do filme. O sócio fundador da Sunshine diz que sua empresa investiu US$ 500 mil e só não totalizou o 1/3 correspondente à sua parte porque o diretor não cumpriu os prazos estabelecidos.

– A Sunshine remeteu religiosamente suas parcelas até abril de 2008 diretamente de nossa conta bancária em Nova York para a conta corrente do Sr. Roberto Carminati. Também pagamos todas as despesas de pré-produção e produção – garante Chagas.

Além dos US$ 500 mil, a empresa afirma ter pago multas de US$ 8 mil e de U$ 13 mil a dois sindicatos norte-americanos, por atrasos na entrega de documentações de produção.

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O diretor Roberto Carminati é sobrinho de Ivo Carminati, ex-secretário de Estado de Coordenação e Articulação (2007-2008), do então governador Luiz Henrique da Silveira. Em um e-mail de 22 de agosto de 2009, o então secretário da Articulação Internacional, Vinícius Lummertz, informa a Francisco das Chagas que o governo estava “liberando mais R$ 220 mil para conclusão do filme a pedido de Ivo”. O Diário Catarinense tentou várias vezes falar com Ivo Carminati, mas não teve sucesso. Já o secretário Lummertz falou sobre o caso.

Problemas no contrato

Segundo o contrato assinado entre a Sunshine e a Influência Filmes, de Roberto Carminati, os direitos sobre The Heartbreaker ficaram divididos: 60% para a Sunshine e 40% para a Influência. Em carta ao governo de Santa Catarina, a Sunshine também se dispôs a investir na produção de quatro a cinco filmes no Estado, num valor de U$ 5,5 milhões, o que não aconteceu. Chagas admite que havia esta intenção, mas a Sunshine recuou em função dos problemas com o filme.

A Sunshine atua em produção para TV americana, e nos últimos dois anos teria intensificado a atuação em cinema. Um ano após as filmagens de The Heartbreaker, deu inicio à produção da trilogia Transmigration – Of Body & Soul, rodada no estado da Geórgia (EUA) e no Mato Grosso (Chapada dos Guimarães), e atualmente está pré-produzindo um filme de ação e um drama, segundo informa o site da empresa.

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Dinheiro devolvido

A atuação de Roberto em Santa Catarina está vinculada a um antigo projeto do governo do Estado: a criação de um polo de cinema em Criciúma. O projeto não vingou. O diretor diz que chegou a alugar pavilhões da empresa Eliane para produzir o longa Segurança Nacional, iniciado em 2005 e lançado este ano, com cenas em Florianópolis, Joinville e Criciúma.

Para Segurança Nacional, o governo do Estado liberou R$ 500 mil, valor devolvido pela produtora de Carminati, três meses depois. Segundo a Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte, havia problemas legais e a produtora decidiu devolver o dinheiro. Conforme Roberto, como houve atraso no repasse, ele optou por buscar financiamento em outras fontes e abriu mão dos R$ 500 mil.