Rato, um menino de nove anos de idade, tenta integrar-se ao grupo sem conseguir. É maltratado pelos companheiros de brincadeira por ter uma deficiência física: falta-lhe a perna esquerda. Em uma das habituais brincadeiras de polícia e ladrão, é submetido a uma situação de humilhação extrema a troco de deixá-lo brincar. É obrigado por Marcão, 11 anos, a tirar a prótese de perna. O grupo canta a música do Saci Pererê e Rato tem que dançar em uma perna só. Após a humilhação, os colegas deixam o garoto participar na brincadeira.

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Durante a brincadeira ele deve enfrentar Marcão, o líder dos abusos. Diante de uma oportunidade, Rato age violentamente. Mas muda a atitude quando, pela primeira vez, o abusador o chama pelo nome. Esta é a sinopse do filme “O último é mulher do Padre”, com filmagem totalmente feita no Parque Natural Municipal do Morro da Cruz, em Florianópolis.

Protagonizado por crianças moradoras do entorno para os sete personagens que representam os vários papéis possíveis nos quais podem atuar as crianças no cotidiano, o curta-metragem pretende apresentar dois universos fundamentais, o primeiro que seria a imitação de padrões de comportamento adulto no jogo de polícia e ladrão, em contraposição com o segundo, que seria o universo da ingenuidade infantil.

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O projeto é da “Filmes de Apartamento Produtora Ltda” e tem como proposta promover a diversidade por meio da produção criativa de conteúdos audiovisuais, atuando tanto no desenvolvimento e produção de conteúdo para cinema e TV nos seus diversos formatos e janelas, quanto com novas mídias e vídeos institucionais. “O último é mulher do Padre” busca refletir sobre como uma criança pode reagir à violência pela qual é exposta diariamente. Seja aquela que recebe pela mídia, na escola, na família e em todo o universo que a rodeia.

– A ideia vem desde 2012, ainda quando morava em Cuba, e por diferentes questões não conseguia realizar. Em 2013, mudei para o Brasil, me estabeleci como professor na escola Lúcia Mayvorne, na comunidade do Morro da Cruz, e segui tentando uma forma de viabilizar o filme. Após tentar quatro vezes, fomos aprovados no Prêmio Catarinense de Cinema e neste final de agosto estamos finalizando a parte da captação – explica o diretor Yasser González, formado pelo Instituto Superior de Arte de Cuba e mestre em antropologia social pela UFSC.

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Ainda que voltado ao um público infanto-juvenil pela temática central, o bullying, o filme pretende chamar a atenção dos adultos sobre como falas e atitudes se refletem no comportamento das crianças.

– Em momento algum a gente identifica a comunidade, pois entendemos que isso não interessa: o bullying é uma forma de violência que pode ocorrer a qualquer momento, em qualquer ambiente – diz o diretor.

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A chuva que marcou os últimos dias de agosto forçou a interrupção das filmagens por alguns momentos. A equipe esperou que o tempo abrisse no Parque Municipal do Maciço do Morro da Cruz, para seguir o trabalho:

– Precisamos continuar explorando a riqueza da sonoridade do ambiente suburbano, onde acontece a ação. Aqui, temos a mistura de sons de cidade que se diluem nos sons da natureza à medida que os personagens estão nesse ambiente com vegetação – explicava Sergio Anansi, produtor-executivo.

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Os atores foram selecionados por meio de oficinas. Por se tratar de crianças, as famílias tiveram um papel importante, participando das discussões e sempre que possível acompanhando as filmagens. Uma, no entanto, precisou viajar. Vilminha Batista viajou de Palma da Várzea, cidade do interior de Minas Gerais, acompanhada do filho Ítalo, 12 anos, único ator do filme que não mora nas comunidades do maciço do Morro da Cruz.

Depois de uma longa busca, a equipe encontrou o menino através da rede social.
Ítalo começou a usar prótese numa das pernas aos nove anos, depois que durante brincadeiras com outras crianças sofreu um acidente ao se pendurar num vagão de trem. Quem fez a doação para a família foi a modelo e influencer digital mineita Paola Antonini, que também usa prótese em decorrência de um acidente.

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– Quando meu filho se acidentou, fiquei desesperada, pois achei que era o fim. Hoje, estamos muito felizes por essa oportunidade que o cinema nos oferece – diz ela.

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Com o fim das filmagens, mãe e filho voltaram para Minas Gerais no dia 1º.

– A gente jamais imaginou estar aqui, participar de um filme, ver meu filho convivendo tão bem com as outras crianças, como se fosse igual, sem diferença física. Acho que é um presente de Deus, e isso dá vontade na gente de querer melhorar as coisas, o mundo – conclui a mãe.

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